Este texto é surge
de uma antiga curiosidade que guardo há perto de 40 anos. Já fiz algumas
tentativas para clarificar muitas duvidas que ficaram desde esse tempo, mas
todas elas nunca obtiveram qualquer esclarecimento; fosse ele qual fosse…
1978, Jardim
Zoológico de Lisboa. Numa das minhas visitas anuais que sempre fiz ao longo da
minha vida a este parque, deparei-me com uma imagem que sempre ficou gravada na
minha cabeça: um fenómeno genético que suponho único na história natural das
espécies em cativeiro.
Numa pequena
jaula de grades, perto do que é hoje a “residência” dos ursos pardos e um pouco
antes do local onde se encontravam antigamente os macacos babuínos… Um jovem
tigre isolado. Um Tigre da Sibéria, como dizia a placa. Ao lado, em outra jaula
bem maior, a progenitora e um dos irmãos. Sei, porque me lembro da minha visita
anterior, naquele mesmo local, havia uma fêmea tigre (da Sibéria) com três
pequenas crias.
O que me fez
ficar estupefacto, diria mesmo, incrédulo; foi a morfologia do animal que tinha
na minha frente. Era na realidade, um tigre! Mas um estranho Tigre. Talvez não
tivesse muito mais do que oito meses. Era difícil precisar, pois a sua pelagem
extremamente densa, disforme e irregular, não permitia sequer nos apercebermos
das típicas listas negras tão características desta espécie. Nem a coloração do
seu pelo era idêntica ao padrão comum dos outros exemplares; a mãe e o seu
irmão… as cores vivas deste felinos eram neste espécime; esbatidas por entre a
tufa enorme de pelos espessos e longos, particamente imperceptíveis. A cabeça e
os olhos tão magnetizantes deste poderoso predador asiático eram aqui uma
sombra da força e do respeito que esta espécie transmite; um crânio coberto por
uma farta pelagem onde a lista pretas sobressaiam em relação ao resto do corpo,
retirava-lhe um pouco a imagem dominadora do maior felino que habita o nosso
planeta. Porém, lembro-me, que não conseguia deixar de me maravilhar com este
animal extraordinário que estava na minha frente andando de um lado para o
outro junto das grades.
Tenho na memória,
de ter ouvido ou lido… Que morreu pouco tempo depois! Claro que fiquei triste. Ficou
sempre registado na minha cabeça uma outra tabuleta que dizia: Exemplar com mutações
(ou características) pré-históricas.
Anos depois,
muito mais tarde; escrevi à direcção do Zoo, tentando saber informações sobre
este espécime. O que acontecera? Se sabiam a razão desta morfologia, desta
mutação? O que fora feito ao corpo do animal? Nunca obtive resposta. Há uns
anos atrás, através do Facebook, tentei de novo após a publicação da fotografia
que guardo, obter dados junto da página do Zoo que me elucidassem… (Hoje,
naturalmente, depois de 40 anos dedicados ao estudo da vida selvagem e da
etologia animal, a minha curiosidade era mais do que tudo uma necessidade de um
esclarecimento cientifico deste caso) a resposta foi ainda mais surpreendente:
Não sabiam de nada, não tinham registo, nem conhecimento de tal situação. O que
me deixou pasmado, não podia acreditar, era impensável que uma instituição
ligada à vida selvagem e com uma missão cientifica e pedagógica pudesse dar uma
informação destas. Pensei: Bom, deve ser confidencial, ou não querem falar
sobre o assunto.
Tenho pena de ter tirado somente uma foto, mas há quase quarenta anos, a revelação de fotografias era bastante dispendiosa para um jovem de 17 ou 18 anos... Valeu a paixão pelos animais, que me permitiu este registo.
Até hoje olho para
esta fotografia, e pergunto: Será que há registos de um caso igual? Que estudos
foram feitos, como está relatado este fenómeno animal na comunidade cientifica internacional?
Houve uma necropsia e quais os resultados? Alguma vez houve uma publicação de âmbito
público sobre este animal?
No Zoo de
Barcelona, existe um museu dedicado ao “Floco de Neve” (Floquet de Neu), o Gorila-do-Ocidente
branco que ali morreu, e viveu até aos quarenta anos… numa longa e
extraordinária história de um exemplar único. Será que não poderíamos fazer
pelo menos uma menção, um tributo semelhante, a um caso eventualmente com
particularidades únicas?
Pode ser que um
dia, há nossa pequenina dimensão, surja algum esclarecimento…
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