PAN PAN & JIA
JIA – O PANDA-GIGANTE E A CONSERVAÇÃO
(Pan Pan and Jia Jia, the Giant Panda)
A notícia não é
recente, mas vale pela importância…
Pretendi desta notícia, ao mesmo tempo relatar um
acontecimento e fazer um artigo que me permitisse uma investigação para um
estudo da vida animal; e esta experiência parece-me ser uma ideia interessante…
Como nota adicional, quero dedicar este trabalho à minha neta Maria Madalena, que adora pandas!
Como nota adicional, quero dedicar este trabalho à minha neta Maria Madalena, que adora pandas!
O final de 2016
trouxe um maior vazio ao mundo da vida animal e da vida selvagem. A China
despediu-se de dois dos seus mais emblemáticos representantes. A conservação
das espécies perdeu magníficos exemplares que muito contribuíram para salvar e
mudar o estatuto de risco de extinção da espécie mais icónica do mundo animal.
JIA JIA, em Julho de 2015 |
PAN PAN, em Dujiangyan |
Pan Pan e Jia Jia morreram a 28 de
Dezembro e 16 de Outubro, respectivamente… eram à data, dois dos mais velhos
Pandas-Gigantes em cativeiro. Pan Pan
tinha 31 anos (o mais velho macho conhecido) e Jia Jia com uns 38 anos; o mais velho panda do mundo.
Pan Pan, no seu 30º aniversário, em 2015 |
Pan Pan |
Quem era Pan Pan? Pan Pan foi um extraordinário Panda-Gigante macho que nasceu na natureza,
mais especificamente, na província de Sichuan, possivelmente no distrito de
Baoxing, em 1985. Pouco tempo depois, foi levado para o Centro do Panda-Gigante
de Dujiangyan, onde viveu, conforme os dados e notícias… uma vida tranquila e
confortável. Pan Pan é considerado
para muitos como o mais importante espécime desta espécie e fundamental para a
preservação do Panda-Gigante, como também determinante na conservação e
reprodução da espécie. Foi, em parte, graças a ele, que esta espécie hoje pode
contar com mais de uma centena de outros exemplares; calcula-se, e de acordo
com os dados existentes que Pan Pan
foi pai de mais de 130 crias. O “avô dos Pandas” como também era conhecido,
contribuiu no Centro de Reprodução e Pesquisa de Panda-Gigante de Dujiangyan,
de uma forma singular para que esta espécie saísse do estatuto de conservação
“EN – Em Perigo” para uma espécie com um risco menos elevado como
“VU-Vulnerável”, deixando de estar na lista das espécies mais ameaçadas. Nos
últimos anos, Pan Pan fora
transferido para a ala de geriatria (local onde se encontram os Pandas mais
idosos; hoje em dia com cerca 30 pandas com mais de 20 anos; idade estimada da
sua longevidade em liberdade). Há seis meses que lhe fora detectado um cancro,
por isso a sua saúde vinha-se deteriorando à medida que os meses foram
passando, para além das naturais consequências advindas da sua avançada idade
(em cativeiro a esperança de vida, em média, de um panda… ronda os 25 anos). O
“Pai Herói”, outro dos nomes com que ficou conhecido, têm hoje descendentes
espalhados por muitos dos parques e zoos do mundo inteiro (China, Taiwan,
Tailândia, Bélgica, Escócia, ou Washington D.C. e a Califórnia nos EUA, são
alguns desses casos). Pan Pan era um
macho robusto, e bastante rápido e ágil quando era novo, o que se crê que tenha
sido um factor diferenciador para ter consigo acasalar tantas vezes e com
diversas fêmeas. Pan Pan é também pai
de Bay Yun (“Núvem Branca”, nascida a
7 de Setembro de 1991 da mãe Dong Dong
que faleceu em 2011), que vive no Zoo de San Diego, já famosa juntamente com o
seu companheiro Gao Gao se terem
tornado o casal mais bem sucedido de todos os pandas-gigantes em cativeiro;
isto depois de se terem tornado notícia por ter sido deles o primeiro
nascimento bem sucedido de um Panda em cativeiro no Centro de Pesquisa do Panda
Gigante em Wolong na China; a isto ainda se junta o facto de ser a segunda (com
uma diferença de dois dias) mais velha fêmea em cativeiro a dar à luz… o que
prova o quanto a genética e a hereditariedade podem ser fundamentais na
conservação das espécies. Pan Pan fica
agora conhecido nos meios zoológicos com “Hope” (Esperança), num reconhecimento
pelo contributo dado a toda a espécie. Aos 31 anos, Pan Pan, tinha o
equivalente aproximadamente a uns 93 anos do Homem.
Pan Pan |
Pan Pan |
Jia Jia, no seu 37º Aniversário, em 2016 |
Jia Jia |
Quanto a Jia Jia, era a mais velha fêmea viva em
cativeiro e o mais velho Panda-Gigante conhecido. Nascida na natureza, Jia Jia foi resgatada em Sichuan no
distrito de Qingchuan, em 1980/1981. Tinha cerca de dois anos (nascida em
1978). Transportada para o Centro de Reprodução do Panda Gigante na Reserva
Nacional de Wolong (o mesmo de Pan Pan)
onde viveu perto de 19 anos. Oferecida pela autoridades chineses do governo
central à administração de Hong Kong após o período em que esta esteve sob
governação britânica, mudou-se assim, em 1999, para o Ocean Park de Hong Kong
(HKSAR) com o macho An An (uns anos mais tarde, chegariam também Ying Ying e Le
Le). A vida de Jia Jia no parque era muito estimulada pela tratadores, criando
jogos ou situações para ela resolver, passava muito tempo no seu recinto ao ar
livre a subir e a descer uma colina tal como o faria no seu habitat. O contacto
com os visitantes era bastante frequente, visto que em Hong Kong funcionava
como um embaixador da espécie. Jia Jia foi mãe de seis crias (Guo Guo, Jia Lin,
Yue Yue, Di Di, Long Long e de Panda #440) em cinco partos ao longo dos anos
que viveu no “Ocean Park”, porém, enquanto esteve em Wolong quase duas décadas
nunca chegou acasalar. “Boa” é o significado transcrito de chinês para Jia Jia,
isto porque sempre se mostrou calma, dócil e receptiva com o público e os seus
tratadores que tinham por ela um carinho e uma dedicação muito especial.
Calcula-se que perto de um milhão de estudantes a tenham visitado e participado
em cursos para aprenderem tudo o que era possível sobre o Panda-Gigante e sobre
a conservação desta espécie, bem como, sobre a preservação da vida selvagem.
Estima-se igualmente, que cerca de 29 milhões de pessoas tenham visitado o
“Ocean Park” para ver Jia Jia e An An. São números impressionantes que revelam
um significado extraordinário e uma percepção daquilo que se pode interpretar
da importância que os animais podem ter, isto para além do contributo óbvio na
promoção da defesa ambiental e na atenção dada à preservação das espécies mais
ameaçadas e em risco de extinção. Os últimos dias de Jia Jia foram dramáticos
para os seus cuidadores, apesar de que há já algum tempo que era previsível
este desenlace. Nas últimas duas semanas o seu estado vinha piorando. Nestes
últimos dias encontrava-se bastante prostrada, deixando de se interessar pela
alimentação e passava grande parte do tempo deitada ou a dormir, alheada das
coisas em seu redor. Nem mesmo líquidos bebia. Para um animal que comia cerca
de 10 kg de alimento por dia, consumia agora menos de 3 kg, perdendo em poucos
dias 4 kg (pesava qualquer coisa como 67 kg, da sua média de 71/72 kg). No dia
da sua morte, Jia Jia apresentou um significativo agravamento do seu estado de
saúde, andando com muito dificuldade e permanecendo deitada a maioria do tempo.
Para evitar o sofrimento e aumentar a angustia de todos devido à debilitação em
que se encontrava… a direcção do “Ocean Park”, com a concordância dos
veterinários responsáveis do departamento de conservação oficial e na sequência
das directrizes da WAZA e respectiva comunicação aos directores do Centro de
Pesquisa do Panda Gigante em Wolong, foi decidido proceder a uma rápida
eutanásia para que Jia Jia não sofresse e assim impedir que a sua qualidade de
vida se agravasse ainda mais… por muito que custasse (e eu acredito
profundamente no desgosto de toda equipa e pessoas envolvidas numa decisão
destas). Jia Jia partiu às 6 horas da tarde do dia 16 de Outubro do ano
passado. Tinha algo como… 114 anos no equivalente à idade humana. Todas as
pessoas que partilharam algum tempo com este Panda, tal como todas as
comunidades envolvidas ficarão reconhecidas pela importância e pela presença
que este animal teve na transmissão do valor da vida animal.
Jia Jia |
Jia Jia |
É um testemunho e
um testamento vivo que Pan Pan e Jia Jia nos deixam para que possamos nos
lembrar o quanto é fundamental que olhemos para o ambiente e a vida selvagem
como parte integrante e indissociável do Mundo em que Vivemos.
An An no "Ocean Park" de Hong Kong Hoje, o mais velho panda macho em cativeiro |
Bay Yun |
Pan Pan acasalando com uma fêmea do Centro de Dujiangyan, em 1999 |
Hoje em dia, e
depois do desaparecimento de Pan Pan
e Jia Jia… Basi (uma fêmea nascida provavelmente em 1990) que vive no Centro
de Reprodução e Pesquisa do Panda-Gigante de “Strait Panda World” em Fuzhou, é
considerada o Panda mais velho do mundo (em cativeiro). Basi tem uma história que diria no mínimo… curiosa; nasceu na
natureza, foi salva de morrer num rio congelado com cerca de 3 ou 4 anos na
Província de Sichuan na China, e é uma atracção no parque por ser considerado
uma estrela do desporto animal… pois levanta pesos, anda de bicicleta e lança
aros. Devido à idade já muito avançada, Basi
sofre como a maioria dos pandas idosos de problemas de tensão arterial,
cataratas as quais já foi operada, e a sua alimentação é muito baseada em
comida liquida e pequenas quantidades de folhas de bambu… mas de resto,
apresenta uma saúde e uma qualidade de vida razoável. Quanto a An An, é provavelmente nesta altura, o
macho mais velho em cativeiro.
Basi, possivelmente, hoje, o mais velho panda em cativeiro... |
Os Pandas do Zoo de Madrid |
Para quem vive no
nosso país, a única forma de ter o privilégio de ver ao vivo esta magnífica criatura
do mundo animal, este símbolo vivo da conservação das espécies… o mais perto
que é possível, é no Zoo Aquarium em Madrid, em Espanha. Bing Xing (macho) e
Hua Zui Ba (fêmea) vivem ali desde 2007 e já tiveram 4 crias, incluindo gémeos,
a mais recente nascida em Setembro de 2016 chama-se Chulina (fêmea)… uma
homenagem à quinta cria (Chulin) nascida neste zoo em 1982 e a primeira cria
nascida em cativeiro no ocidente, como a primeira de inseminação artificial
fora da China. Com os pais ainda vive ainda a cria anterior Xing Bao, uma fêmea
nascida em 2013.
Chulina, no Zoo Aquarium em Madrid |
Apenas a titulo
informativo, deixo aqui só para se ter uma ideia, os Zoos que possuem o
Panda-Gigante fora da China…
Na Ásia:
Tailândia – Chiang Mai Zoo, em Chiang Mai
Malásia – Zoo Negara Malaysia, em Kuala Lumpur
Singapura – River Safari
Coreia do Sul – Everland Resort, em Yongin
Japão – Adventure World, em Shirahama
Japão – Kobe oji Zoo, em Kobe
Japão – Ueno Zoo, em Tokyo
Hong Kong – Ocean Park
Macau – Macau Giant Panda Pavilion
Taiwan – Taipei Zoo, em
Taipei
Na Europa:
Reino Unido /Escócia – RZSS Edinburgh Zoo,
em Edinburgh
Holanda – Ouwehands Dierenpark Rhenen, em
Rhenen
Bélgica – Pairi Daiza, em Brugelette
Alemanha – Zoo Berlin Zoological Garden,
em Berlin
Austria – Tiergarten Schonbrunn, em Vienna
França – ZooParc de Beauval, em Saint’
Aignan
Espanha – Zoo Aquarium de
Madrid, em Madrid
Na América de Norte:
EUA – San Diego Zoo, na Califórnia San
Diego
EUA – Memphis Zoo, no Tennessee Memphis
EUA – Zoo Atlanta, na Georgia Atlanta
EUA –
Smithsonian’s national Zoological Park, em Washington DC
Canada – Toronto Zoo, em Ontário Toronto
México – Chapultepec Zoo, na México City
Tao Tao |
Xue Xue na Liziping Natural Reserve em Shimian, sudoeste da China, província de Sichuan, quando libertada a 14 de Outubro de 2014 |
Eram 1864 Pandas-Gigantes adultos
(excluídos que foram neste levantamento todas as crias com idade inferior a um
ano e meio), de acordo com os resultados do 4º censo (2011 a 2014) sobre a
espécie; os números estimavam nessa altura, eventualmente, 2060 “ursinhos”
pretos e brancos no seu habitat (a percentagem estimada de crias não envolvidas
é de 9,6%), com cerca de 471 pandas em cativeiro e nos centro de reprodução (no
final de 2016)… o que nos leva a prever, olhando para estes valores e na melhor
das hipóteses baseadas nos números obtidos e o eventual aumento desde 2014, que
não passarão muito de 2500 Pandas-Gigantes em todo o mundo, talvez perto de
3000, se os sinais (fezes e marcas) deixados no terreno nos levarem a essa
estimativa. É verdade que a população vem crescendo em algumas áreas, graças às
medidas de protecção das florestas e da reflorestação das zonas integradas no
seu habitat, para além do alargamento das áreas protegidas em 12%, que fez
estabilizar e mesmo aumentar a população depois do declínio registado no censo
de 1985-1988 ou do pequeno crescimento no 3º censo entre 2000 e 2004. Estudos
tanto de especialistas chineses como de outras autoridades internacionais,
propunham como ideal para a sustentabilidade da espécie, uma meta de 3000
Pandas em liberdade e qualquer coisa como 300 exemplares em cativeiro. Este é
um objectivo (que em 2008 era um desafio) pode já ter sido alcançado; visto que
em cativeiro os números são já bem superiores e as monitorizações e os sinais
também indicam que este número deva rondar os 2500 e os 3000 indivíduos… é na
realidade, um facto que deve congratular todos aqueles que investiram nesta
tarefa hercúlea. Todavia…
Bashanna Bambu |
Hua Mei (à direita) com a mãe, Bay Yun (à esquerda), no San Diego Zoo |
Para lembrar o Panda-Gigante... a "WORLD WIDE FUND FOR NATURE - WWF", na evolução do seu logotipo |
O Panda-Gigante é um mamífero endémico da
Republica Popular da China, descrito pela primeira vez em 1869, por um
missionário jesuíta francês (Armand David). Nessa altura foi associado de
imediato à família dos ursos (Ursidae). Todavia esta classificação tem
levantado uma polémica que dura há quase 150 anos. A sua taxonomia não é nem
nunca conseguiu ser consensual; ainda hoje esta classificação cientifica ou
biológica está envolta de uma discordância entre os cientistas sobre a
verdadeira família a que pertence: se aos ursos (Ursidae) se à dos
Pandas-vermelhos (Ailuridae), onde o género é partilhado com algumas
semelhanças. Os Guaxinins e os Coatis, agora numa família à parte
(Procyonidae), também já foram diversas vezes ligados ou associados com a do
Panda-vermelho, o que de certa forma já ligou entre si todas estas espécies.
Esta discussão tem-se mantido ao longos dos tempos, fazendo com que as espécies
acabem por saltar entre famílias, géneros, tribos ou subfamílias, pelo menos
até à última revisão em 2005.
A distribuição do Panda-Gigante é outro
factor que tem marcado a espécie. Hoje encontra-se confinado apenas às zonas
montanhosas mais isoladas das Províncias de Ganzu, Shaanxi e Sichuan, numa área
que cobria cerca de 3.000 km2, mas a espécie ocupa na totalidade um habitat
somente de 1/5 desta área. Sabe-se que habitou no passado nas regiões de
Myanmar, do Vietnam, nas imediações do Tibete (onde parece ter sido descoberto),
para além de uma vasta área no Leste e no Sul da China, limitando-se agora a
uma pequena proporção nestas regiões chinesas. Fixando-se em populações
fragmentadas entre as frias montanhas nevadas e húmidas, entre planaltos e
vales, que oscilam na altitude dos 2000 aos 4000 metros (ou pouco mais),
circunscritos a seis áreas montanhosas que servem hoje de abrigo a todas as
subpopulações do Panda; as maiores localizadas em Minshan, Qinling e Qionglai e
as mais pequenas e mais isoladas em Liangshan, Daxiangling e Xiaoxiangling. Entretanto,
o governo chinês já tomou a iniciativa de aumentar a área protegida para 10.000
km2, durante a última década. Nas regiões onde as populações são diminutas,
chegam a existir 23 subpopulações com mais de metade apenas com pouco mais de
10 exemplares (estimavam-se um valor total de 223 exemplares nestes locais em
2010/2011), onde o risco da consanguinidade e da diversidade genética é
extremamente preocupante.
Bi'Feng Xia em Ya'an, na província de Sichuan, China... uma das regiões do panda. |
Vamos tentar descrever um pouco que
espécie é esta que está em torno de Pan Pan e Jia Jia…
Primeiro de tudo é claramente um mamífero…
e omnívoro, que se alimenta substancialmente… de plantas. Já foi um carnívoro,
que ao longo da evolução da espécie, adaptou a sua dieta para sobreviver.
Um Panda-Gigante... e um Panda-Vermelho |
Panda-Gigante numa reserva, em semi-liberdade |
Pandas num Centro de Reprodução |
Isto leva-nos à sua etologia natural e
ecológica. Sabendo nós, que o Panda-Gigante é um animal solitário no seu meio
ambiente, não precisa nem procura interacção com outros da sua espécie. Os
territórios são demarcados e no caso das fêmeas residentes não permitem a
intrusão de outras fêmeas por perto… como a maioria dos carnívoros marcam o seu
território com urina e as garras funcionam na marcação das árvores como reforço
visível na definição dos territórios. Costumam amontoar as fezes marcando
fronteiras. A vocalização numa floresta propaga-se com facilidade e essa é
outra das formas de comunicarem entre si; seja como aviso a outros machos ou
como chamamento a fêmeas que eventualmente se encontrem no período fértil. Um
macho cruza o seu território com uma ou mais fêmeas, as relações são
poligâmicas. Mas como animais errantes e solitários, dá-se o caso com
frequência de mais do que um macho disputar uma fêmea residente ou de passagem.
A sua natureza reactiva não é tão simpática e dócil na natureza como poderemos
pensar através da imagem tradicional que foi construída… quando incomodado, o
seu comportamento depressa se pode tornar irritadiço, mesmo agressivo, passar a
perigoso e despoletando-se numa reacção violenta; na época de acasalamento,
este padrão torna-se exponencialmente hostil entre machos. “Curiosamente”,
muito semelhante à tipificação do mesmo instinto nos ursos. É um excelente
trepador de árvores (gosta particularmente, como muitos ursos, de observar o
mundo do alto de uma árvores para além de servir de refugio para fêmeas e
jovens machos). Igualmente, é um óptimo nadador e gosta de tomar banho em
riachos e lagos das montanhas, onde os peixes por vezes servem da proteína que
precisam. Tratando-se de um animal errante nestas regiões condicionadas e
ansioso na sua procura de bambu recente, não constrói ou define refúgios
constantes; os locais mais adaptados a esta espécie, são as saliências nas
rochas, as árvores ou outras cavidades ocas em troncos velhos ou estruturas
rochosas, que servem somente de bases temporárias e sendo uma espécie que não
hiberna como alguns dos semelhantes, opta por vaguear entre altitudes consoante
as condições climáticas e a temporalidade sazonal. As quantidades que consome
leva a crer que se trata de um animal mais activo do que se poderia pensar;
porém, aceita-se que este comportamento seja mais regular com o nascer do dia
ou ao crepúsculo do entardecer. Os seus territórios, tendo em conta a
devastação do seu habitat original, podem-se hoje estender entre uns escassos 3
km e 15 km, dependendo também da quantidade e qualidade de bambu existente. Só
em Qinling calcula-se que haja mais ou menos 100 indivíduos em 300 km, o que
evidencia as dificuldades territoriais do habitat do Panda-Gigante.
No período reprodutivo, um dos momentos
mais críticos da espécie; as fêmeas ficam somente receptivas por um tempo muito
curto, o cio desenvolve-se durante duas a três semanas. Parece que as fêmeas mais novas ficam férteis durante 2 a 3 dias, enquanto as
fêmeas mais velhas podem ter apenas um período de fertilidade de horas, passando pouco das 24 horas e não
chegando a 36 horas. Por vezes, este cio, chega a ocorrer já fora da fase de
reprodução. Esta situação, pouco benéfica para a espécie, aumenta a preocupação
dos conservacionistas pelo facto de que habitualmente, as fêmeas só acasalam por
norma de dois em dois anos, ou mesmo três. É ainda entre a Primavera e o Verão
que decorre a fase de acasalamento. Nesta altura, o comportamento das fêmeas é
muito evidente, a carga de estrogénio faz com que a sua atitude evidencie
claramente a sua receptividade; a vocalização que durante o ano é rara aumenta
de volume quando sentem o sexo oposto nas proximidades, agitação e a
instabilidade, o odor e a marcação dos genitais, são sinais de transmissão para
qualquer macho que se encontre por perto. Podendo inclusive, copular com mais
do que um parceiro no mesmo período… nem todos os machos são dotados nesta
espécie da experiência que lhes permita acasalar com sucesso. Como disse
anteriormente, sendo este um período mais agressivo e violento entre os pandas
machos… é, por estranho que pareça, importante que este comportamento ocorra,
pois este instinto vai fazer com que se desgastem nestas disputas e que se
tornem (devido ao cansaço) mais pacientes e tolerantes nas tentativas de
acasalamento, evitando assim causar ferimentos maiores nas fêmeas com o excesso
de energia acumulada pelos machos. As copulas nesta espécie são quase sempre
complicadas; a falta de frequência e a inexperiência, a dificuldade na
coordenação motora e posicionais para o acto para que ocorra naturalmente,
ditam muitas vezes o fracasso e levam ao desespero pela impaciência e
insatisfação das fêmeas (o instinto alerta-as para o curto período de
fertilidade). Nos centros de reprodução, apenas 1 em cada 10 machos acasala
naturalmente, enquanto só ¼ das fêmeas entra em cio. Após uma gravidez
concretizada, a fêmea procura uma toca ou gruta, com uma entrada estreita que
protegerá melhor as futuras crias, de predadores e principalmente das
intempéries típicas das montanhas destas regiões. Ao contrário das outras
espécies de ursos que criam toda a sua prole quando nascem, as fêmeas pandas
dão à luz gémeos em 50% das vezes (seja na natureza seja em cativeiro, contudo
aqui a ocorrência chega a ser mais elevada) e é certo que a fêmea abandona
sempre uma das crias, geralmente a mais pequena ou fraca; não se conhece nenhum
caso de sucesso na criação duas crias. A gestação tem uma duração que varia
desde os 3 meses e alguns dias até aos cinco meses (às vezes um pouco mais); é
também difícil prever com exactidão parte do tempo da gestação como a fase de
parto… e na natureza as fêmeas prenhas conseguem ser ainda mais solitárias que
os machos. Os pandas selvagens dão a luz 5 a 6 vezes em média ao longo da vida;
em cativeiro esta situação poderá dar-se até 10 vezes (a explicação tem lógica;
pois as fêmeas são “apresentadas” a várias machos reprodutores no período de
fertilidade para aumentar as hipóteses de gravidez). Os nascimentos decorrem já
no Outono, mas também aqui a imponderabilidade acontece em matéria da estimação
de tempo, é uma percepção que não é fácil ao monitorizar uma fêmea gestante.
Os dois primeiros gêmeos de 2016 |
Dos vários centros de reprodução do Panda-Gigante na China, o “Wolongo National Nature Reserve” no condado de Wenchuan, na Província de Sichuan, é o maior e a mais importante reserva da China, para além do Panda, habitam muitas outras espécies ameaçadas. Estabelecida em 1963, o Centro de “Wolongo Panda Reserve” foi criado nos anos 80 do século passado. Mas só muitos anos mais tarde se conseguiu que os resultados começassem a surgir. Durante 20 anos a reprodução foi uma luta sem grande êxito, nos 10 primeiros anos, apenas uma cria nasceu em cativeiro, e morreu com 2 anos e meio. No inicio deste século, os anos foram já de um assinalável resultado em termos de reprodução, e foi a partir de 2005 com o primeiro grande resultado de nascimentos que o paradigma desta espécie em cativeiro mostrou que era possível salvar a espécie. Em 2015 foi batido o recorde de nascimentos no centro (maioria por inseminação artificial, que é processo adoptado, pelas já conhecidas dificuldades de acasalarem naturalmente), com 23 crias sobreviventes após 26 partos. Em 2013, o número tinha sido 20 pandas bebés. Só para termos uma ideia: Em 1990 na população global tinham nascido 10 crias, em 2008 nasceram ao todo 130 filhotes. Este trabalho deve-se não só aos centros e reservas mas também aos esforços de colaboração de todos os Zoos possuidores de Pandas-Gigantes. Não esquecer que os Pandas-Gigantes são todos eles propriedade da República Popular da China, mesmo aqueles que nascem no estrangeiro, são cedidos apenas por um período de tempo perfeitamente acordado. O êxito só não é maior porque os Pandas em cativeiro dependem muito do ser-humano, e este é um trabalho que ainda não foi possível resolver nem encontrar formas de os manter com autonomia suficiente para integrarem o programa de reintrodução na natureza.
Como dizem os especialistas chineses e
outros investigadores, é preciso um maior conhecimento etológico sobre este
animal e mais conhecimento científico, sabendo que os 3 grandes obstáculos
(1º-as fêmeas nem sempre entram no cio, 2º- o acasalamento e a fecundação são
complicados e 3º- a taxa de mortalidade das crias continua a ser um desafio) na
criação desta espécie continuam a limitar este sucesso. Acrescentaria, pelo que
me foi dado a ver, uma melhoria nos recintos (principalmente dos centros) na
qualidade, na dimensão e na transposição do habitat… pois fiquei sempre com a
impressão de que não são muito mais do que centros de incubação; se entendo por
um lado, por outro suponho que o local onde habitam e se cruzam para acasalamento
deve ter mais ambiência natural e maior isolamento.
Tao Tao (que já foi reintroduzido na natureza) e a mãe Cao Cao |
Haizi, comendo bambu |
A única foto que encontrei de... Dan Dan |
Esta subpopulação habita uma área muito
especifica nestas montanhas, uma zona entre os 1000 e os 3000 metros altitude e
os estudos falam numa população com cerca de 300 indivíduos.
Até hoje… só se conhecem 7 casos
registados de pandas com esta mutação na pelagem, todos eles foram descobertos
na natureza.
QIZAI |
Hoje só existe: Qizai (tradução: “O Sétimo
filho”). Um panda macho castanho-branco de sete anos que vive no Foping Panda Valley,
na província de Shaanxi. Qizai foi abandonado pela mãe na natureza, pesava 2
kg, o que sugeria que tivesse, provavelmente, dois meses. Quando foi encontrado
em Novembro de 2009, estava muito mal tratado, doente e mal nutrido que levava
a querer que tivera uns primeiros tempos de vida muito difíceis. A conclusão a
que se chegou: é que fora agredido por outros pandas mais velhos que lhe
roubavam o bambu que comia (se era apenas por ser diferente e mais frágil, é a
questão que prefiro colocar). Qizai, de acordo com o tratador (He Xin) que lhe
dedica mais de 18 horas por dia, é um panda gentil, brincalhão e adorável. Come
uma média de 20 kg de bambu por dia, cerca de quatro a cinco vezes durante o
dia. A dieta é também composta por leite e pãezinhos de farinha chinesa. Pesa
uns 100 kg. Tem a particularidade de ser um pouco mais lento do que todos os
outros pandas, seja a reagir seja a deslocar-se quando são chamados. Antes de se
mudar para o Foping há dois anos, Qizai residia
desde o seu resgate em “Shaanxi Rare Wildlife Rescue”. Os especialistas
do Centro procuram agora encontrar uma fêmea para acasalar visto que já atingiu
a maturidade sexual e seria igualmente uma oportunidade para pesquisarem novos
elementos que descodificassem esta subespécie
sobre a questão da mutação da pelagem. Qizai é certamente, nesta altura,
um dos exemplares mais extraordinários do reino animal, colocando-o ao lado de
Snowflake (o gorila-do-ocidente-das-terras-baixas albino que vivia no Zoo de
Barcelona) e Migaloo ( a baleia-jubarte ou corcunda albina que corre os
oceanos).
Os pandas têm 2 tipos de genes, um herdado
da mãe e outro do pai. Uma das sugestões dadas pelos especialistas é que o
Panda Qinling possui 2 genes característicos; um gene dominante que caracteriza
o branco e preto e um gene recessivo que define o castanho e branco, no caso
dos exemplares castanhos e brancos acredita-se que eles herdaram os genes
recessivos de ambos os progenitores… o
que mesmo sendo raro, acaba por se tornar numa forte probabilidade quando a
relação de consanguinidade é mais elevada ( uma possibilidade de facto num
habitat muito fragmentado onde a população é numerosa para a proporcionalidade
geográfica). A causa desta variação está hoje associada a uma provável mutação dos
genes ou factores genéticos, ao duplo gene recessivo, ou à diluição da
combinação dos genes.
A origem e evolução cientifica do
Panda-Gigante, não é clara. Pressupõe-se que a espécie como a conhecemos hoje,
tenha evoluído desde há 2 milhões de anos. Se é originária unicamente da China,
já não há tanta certeza, as investigações mais recentes levaram a querer que
antepassados do panda poderiam estar relacionados com ossadas (mandibulas
semelhantes) encontradas na Península Ibérica com mais de 11 milhões de anos.
Os estudos até agora sempre apontaram para uma evolução a partir de um pequeno
urso há mais de 3 milhões de anos, que só depois da última era glaciar (há mais
2 de milhões de anos) os dados é que indicavam que o panda seguiu o processo
evolutivo que todos conhecemos até há 600 mil anos, quando biologicamente se desenvolveu
e avançou até a este género de urso. Se, como estudos identificam, que o Panda-Gigante
pode ter origem na época geológica Miocénica (5 a 25 milhões de anos), não é
absolutamente relevante, por outro lado, já é pertinente conhecer os mais
recentes ancestrais cronológicos desta espécie… pois pode-nos ajudar a entender
melhor o Panda-Gigante.
Algumas imagens de momentos da vida de... QIZAI, em Shaanxi e Foping |
Classificação científica
Nome binominal: Ailuropoda melanoleuca
/1869
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Subordem: Caniformia
Família: Ursidae
Género: Ailuropoda
Espécie: Ailuropoda melanoleuca
Subespécies:
Ailuropoda melanoleuca melanoleuca /1869
Ailuropoda melanoleuca qinlingensis / 2005
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