Enquanto alguém atento e
preocupado com os fenómenos ligados à extinção das espécies há mais de 40 anos,
sempre admirei e de certa forma invejei todos aqueles que dedicam a sua vida
pessoal e profissional à conservação e preservação da vida selvagem. Se digo, “invejei”,
refiro-me somente, ao facto, de também esse ter sido o sonho de toda a minha
vida adulta. Circunstâncias de um destino que não consegui moldar nesse
objectivo, levou-me acompanhar o mais perto que pude, todos aqueles que
conseguiram-no fazer com um altruísmo que me marcou e marca ainda hoje enquanto
ser humano. Foram estes homens e mulheres, que definiram o meu caracter, a
minha personalidade, no fundo, o meu sentido humanista da vida.
Limitado, quem sabe, pela
predestinação, o caminho deixou-me nas mãos a oportunidade do conhecimento, dos
estudos, da literatura, das imagens e de uma proximidade condicionada com o
mundo animal, que tentei e tento aproveitar ao máximo. Aos meus olhos e apenas
perante eles, assumi o meu papel ou a minha representação enquanto naturalista,
e defensor desta causa como conservacionista. Estudar profundamente, o
conhecimento das espécies e do mundo natural tornou-se quase uma obsessão de
enriquecimento de todo o tipo de elementos. Os parques zoológicos sempre foram
a extensão mais próxima da realização de um sonho, e a câmara fotográfica ou de
filmar, a transposição do homem para a natureza possível. O registo e a
observação da vida selvagem, apesar de circunscrita ao cativeiro, permitia-me
olhar e pensar, sob a minha prespectiva conservacionista do estado e das
condições em que vivem as espécies, fosse em cativeiro fosse em liberdade, em
todo o planeta. A foto e a imagem, passaram a ser o longo documentário e a
extensa investigação a que me propunha. E assim, tem sido, junto em complemento
de centenas de horas de documentários televisivos gravados, dezenas de obras
sobre a natureza, e milhares de registos informativos e estudos publicados, que
tenho recolhido ao longo de várias décadas.
É por viver com este
sentimento desde que me conheço como gente, sentimento este, que nunca percebi
muito bem a sua razão de ser, que entendo a dedicação de tantos outros à causa
da defesa da natureza, do meio-ambiente e do mundo animal. Depois, de tantas
espécies já terem desaparecido sem grandes registos da sua efémera existência,
a fotografia e os documentários são o melhor processo de criar a história da
vida selvagem… talvez, inclusive, de promover a sensibilização certa para os
riscos que correm hoje mais de um milhão de espécies ameaçadas.
A
CÂMARA DE JOEL SARTORE
Depois de uma excelente
campanha de promoção e divulgação televisiva, no dia 2 de Maio, muito perto do
seu términus, lá consegui, ir à Cordoaria Nacional, antiga edificação fabril
da marinha portuguesa “Real Fábrica da Cordoaria da Junqueira”, datada de 1779.
E fazer o quê? Ver a magnifica exposição “Photo Ark” de Joel Sartore. Evento e
percurso que já conhecia de ver e rever os seus documentários e fotos para a “National
Geographic”, mas que não supunha puder um dia observar o seu trabalho de tão
perto.
Joel Sartore é um homem
admirável. Um conservacionista e fotografo extraordinário. Um "idealista" (no melhor dos sentidos da palavra) e um
defensor da vida selvagem que prepara um legado inigualável. Tal como a muitos
outros, o nosso Planeta Vivo, assim como a humanidade, deve a este homem um dos
mais importantes registos documentais de todos os tempos. Ao longo de 13 anos,
fotografar para o “Projecto Photo Ark”, qualquer coisa como 12000 espécies à
guarda de parques zoológicos ou santuários de vida selvagem, para além do
envolvimento directo que todo este processo requer na sua execução, é como fazer um doutoramento em biologia com tese em zoologia, etologia e morfologia.
Para Sartore, a
fotografia do reino animal foi a forma que encontrou para dar uma voz própria
aos animais e uma maneira de contar a história das espécies ou ainda alertar
para a importância da vida selvagem e a sua vulnerabilidade na natureza. E
fá-lo, com uma sensibilidade única na história da zoologia moderna. O destaque
do ou dos animais, o olhar ou a sua postura, o enfoco do enquadramento consoante
a espécie e o individuo, refletido pelo preto ou branco de um espaço
irrelevante, permite-nos viver a experiência de uma relação virtual com aqueles
seres vivos à luz de um momento especial e único.
A exposição acolheu cerca
de 100 espécies, poucas tendo em conta os milhares de animais já fotografados,
mas o efeito daqueles poucos instantâneos, penso que são suficientes, para reflectir
a finalidade do “Photo Ark” e a importância do trabalho de Joel Sartore. As frases
e as referências conservacionistas dos vários placares dispersos na exposição,
a pequena sala de visionamento dos seus documentários para a NG, em conjugação
com as placas identificativas das fotos, servem na perfeição o objectivo do alerta
para os riscos de extinção de muitas das espécies ali representadas. Isto é tão
mais importante, que alguns dos animais por Sartore fotografados já se
extinguiram, outros viemos, entretanto, a saber, que os riscos de extinção aumentaram,
e outros como o Rinoceronte-branco-do-norte vão inevitavelmente extinguir-se
porque a sua reprodução é já “quase” impossível.
Outro facto, que me mereceu, uma especial atenção, foram as visitas guiadas a grupos de estudantes, e que me pareceram bastante consistentes. O número de visitantes e a frequência da sua rotação deixou-me satisfeito e convencido de que o principal objectivo desta exposição pode ter sido realizado… informar, sensibilizar e influenciar aqueles que a visitaram a pensarem e agirem como novos heróis da conservação e da preservação da vida selvagem.
Só um senão… foi pena que
não houvesse alguns “flyers” disponíveis no espaço, com pequenas informações
adicionais sobre as fotos expostas, para que as pessoas pudessem levar como
memória futura e meio de divulgação.
Finalmente, para todos aqueles que visitaram a exposição, e mesmo aqueles que não tiveram essa oportunidade, deixo a sugestão de lerem no website da National Geographic de Portugal… “O Homem Por Trás da Arca – Entrevista a Joel Sartore”.
A sugestão anunciada na exposição de tirar uma "selfie" com uma das espécies retratadas, era realmente tentadora. Como era óbvio, com um telemóvel sem grande resolução, não estava à espera de grandes resultados. Todavia, podia escolher a espécie, entre muitas que tirei... e escolhi, pelas razões anteriormente já referidas... o Rinoceronte-branco-do-norte; e aquela espécie que me tem marcado toda a parte da minha vida dedicada à vida selvagem... o Lince-Ibérico! Excepto esta, resolvi (intencionalmente) não colocar qualquer legenda com o nome das espécies fotografadas, para desafiar os leitores a procurarem a sua identificação na "Web" e assim, terem a oportunidade de descobrir e ficarem fascinados com muitas outras fotos tiradas para a "Photo Ark" por JOEL SARTORE.
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