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UM CENSO EXPERIMENTAL


Não são assim tantas as vezes que as notícias sobre a natureza ou a vida selvagem privilegiam uma espécie especifica, e mais raras são aquelas que abordam espécies que ocorrem em terras lusitanas. Contudo, as aves, apesar de tudo, são das mais noticiadas.

Em Portugal (incluindo: Continente, e as regiões autónomas da Madeira e Açores), encontram-se registadas, entre espécies autóctones, endémicas e migratórias, cerca de 600 espécies de aves. Estas espécies, variam muito nas suas populações, sejam elas residentes ou não. Assim como, os seus estatutos de conservação, oscilam por quase todas as nove categorias classificadas pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza); pelo menos, por seis delas, se excluirmos as três primeiras de maior risco.

A melhor ou a única forma, mais credível, para saber a situação de uma espécie num dado local ou território, região ou país, é com a realização de censos; no fundo, estudos que possam nos dar elementos estatísticos com o recenseamento demográfico das populações nesses territórios. Mas, para que nos permita perceber a evolução dessas espécies, o ideal, seria que estas contagens se pudessem realizar por períodos o mais frequentes possíveis, e com um intervalo de tempo tão reduzido quanto exequível, pois a estado das populações e a sua sustentabilidade, com todos os riscos hoje inerentes ao equilíbrio ecológico, as espécies podem ver alterada, rapidamente, a situação da sua preservação enquanto espécies selvagens.       

Rouxinol-Grande-dos-Caniços difícil de ver…

As notícias já no fim de Abril deste ano, davam conta de mais uma situação com indícios preocupante com as populações de vida selvagem, neste caso, no nosso território. Há já algum tempo, que se vem notando um decréscimo no avistamento de exemplares do Rouxinol-grande-dos-caniços. Esta ave migratória, que costuma chegar ao nosso país, entre o inicio da Primavera e o final de Abril, e aqui costuma permanecer até Agosto; ocorre normalmente, a sul do rio Tejo, com uma maior predominância na região dos Vales do Tejo e Sado, mas também com alguma frequência na região do Alentejo, por outro lado, a sua presença apesar de esporádica é pouco comum, nas regiões no Litoral Centro e Algarve, quanto à região da Beira Interior, poucos ou nenhuns registos têm sido efectuados. Estes dados sobre a situação populacional desta ave, só são possíveis de fazer com alguma previsibilidade, com base nos elementos colhidos pelos apaixonados pela observação de aves (Birdwatching). Contudo, estes registos não permitem, uma fidedignidade muito grande para efeitos de um recenseamento preciso, dado que muitos destes avistamentos são redundantes, pois os mesmos exemplares costumam ocorrer numa região onde existem grande número de observadores, o que leva ao mesmo exemplar a ser identificado mais do que uma vez nesse local, sendo difícil quantificar a espécie sem uma metodologia de registo documental que possa estabelecer critérios precisos.

Porém, estão a ser realizados a nível nacional, pela primeira vez, censos populacionais, sobre o estado e a distribuição do Rouxinol-grande-dos-caniços. Iniciado a 15 de Abril, e que decorrerá até 15 de Junho, De acordo com Gonçalo Elias, o coordenador deste “1º Censo Nacional do Rouxinol-grande-dos-caniços” e responsável pelo portal online “Aves de Portugal”, a premência deste estudo, parece resultar, de uma evidente diminuição do avistamento desta ave nas suas zonas de nidificação, e que leva a considerar uma eventual regressão populacional da espécie em termos migratórios. Os dados recentes são quase inexistentes. Segundo este ornitólogo os números que servem ainda de base de trabalho estão demasiado sobrestimados; no “1º Atlas das Aves Nidificantes de Portugal” davam conta na altura, de 1978 a 1984, de uma existência entre 1000 e 10000 casais residentes no período estival; enquanto os dados da organização “Birdlife” ficavam-se pelos 5000 casais. Mas, que na opinião de Gonçalo Elias, a sua espectativa leva-o a crer, que hoje esta população não deverá ultrapassar, o máximo, 200 a 300 casais. A perda ou afectação do seu habitat e a possível diminuição da sua fonte de alimentação, que depende de insectos, podem estar na causa desta regressão.
    
Todavia, este projecto trás como novidade, algo que me parece muito interessante, do ponto de vista, do envolvimento que todos nós podemos ter na preservação da natureza. Isto porque, todos aqueles que queiram colaborar, podem-no fazer livremente, tendo disponível um ficheiro online para registar os avistamentos, e que permitirá no final elaborar um balanço geral deste censo. Incluindo, estão referenciados 240 locais em Portugal que ajudarão a determinar os territórios de reprodução da espécie. As referências são os machos canoros, pois estes têm um canto típico na protecção do território. Este critério é fundamentado, devido ao facto desta ave ser difícil de observar, por isso, o som do canto particular da ave e por gostar de se expor quando usa deste comportamento, torna mais fácil o seu avistamento.

Mas quem é esta ave apelidada de um rouxinol grande dos caniços?

Reconhecida como uma grande felosa, uma ave insectívora, e migratória, que habita as zonas fluviais e pantanosas; húmidas como caniçais, tabuais, pauis, valas ou as margens de ribeiros onde predominem uma vegetação e arvoredo denso. Ecossistemas que reúnem todas as condições para a sua natureza biológica; para além da quantidade e diversidade de insectos (pode incluir na sua dieta: caracóis, aranhas e pequenos vertebrados), os caniçais são o local perfeito para a tipologia de ninhos que esta ave constrói (ninhos com a forma de taças cilíndricas ou de cestos suspensos nas hastes afiladas dos caniços). Apesar do nome, não devemos confundir o Rouxinol-grande-dos-caniços (Acrocephalus arundinaceus), com outros rouxinóis, as espécies pertencem a famílias diferentes, com características morfológicas distintas. O seu tamanho é bem maior (16/17 a 21 cm) do que o dos pequenos rouxinóis (15 a 16 cm), um aspecto físico que o faz parecer mais com um tordo. A cor da sua plumagem é completamente castanha, salientando-se somente, a região do peito esbranquiçada. Mas, é o canto que melhor o pode identificar; com o som muito característico num tom arrastado, de várias entoadas agudas e perlongadas. O seu estatuto de conservação oficial pela IUCN, é considerado LC – Pouco Preocupante, a nível global, porém, pode já não ser esse o caso da sua situação em Portugal, e que pode ainda deferir do resto da Península-Ibérica.

Como nota final, seria magnifico, se a participação fosse surpreendente. Contudo, pede-se o maior cuidado para não importunar demasiado as aves neste período, tanto de acasalamento como nidificação. Apesar de uma aparente segurança e resistência, os ninhos não deixam de ser frágeis, e com sorte, podem conter de 3 a 6 ovos ou crias. O reconhecimento na diferenciação entre esta espécie e as restantes aves residentes nestes habitats é bastante importante; principalmente, no conhecimento das diferenças entre esta e o Rouxinol-pequeno-dos caniços (Acrocephalus scirpaceus).

Boas fotos e gravações, podem ser obtidas, a Sul do Tejo, como: Santarém, Lisboa, Setúbal, Beja, Évora, Portalegre ou Faro. Apesar de uma menor esperança, acima do Tejo esses registos podem dar-se na região de Aveiro (junto à ria) ou Coimbra (na várzea do Mondego). O ornitólogo Gonçalo Elias, deixou referido meia dúzia de locais, que apresentam condições perfeitas para o seu avistamento e registo: Parque Ambiental de Vilamoura – Loulé; Herdade da Alfarófia (caniçal junto à estrada) – Elvas; Paul da Barroca – Alcochete; Espaço EVOA – Vila Franca de Xira; Paul do Taipal (Várzea do Mondego) – Montemor-o-Velho ou a Rede de percursos pedestres de Salreu (Ria de Aveiro) – Estarreja. Contudo, se tiverem sorte nestes locais, quem sabe se: as lezírias da Ponta da Erva, nas salinas de Alverca, no paul da Barroca, na várzea de Loures, no paul do Boquilobo, na lagoa de Albufeira e na região de Coruche; ou a albufeira de Santa Maria de Aguiar; no paul da Madriz, no paul de Tornada ou na lagoa de Óbidos; quem sabe até no estuário do Minho… tudo regiões onde no passado pontificaram registos desta ave de canto impressionante.





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