KENTARO & KAHN, E COMPANHIA!...
4 Imagens póstumas de KENTARO |
Este artigo é dedicado a todos os linces, e em
especial a todos os linces que infelizmente, tiveram um fim e um destino
trágico… mas, acima de tudo, dedicado a Kentaro
(que me marcou até hoje pela sua perseverança de viver). Como artigo, este não
pretende ser nenhum trabalho técnico-científico, mas sim um relato documental
sobre a recuperação e a reprodução do Lince-Ibérico, com a grande finalidade da
sua reintrodução no habitat natural da Península Ibérica.
Hoje, sabe-se que
um primeiro censo do Lince Ibérico em 2016, estimou uma população livre de 440
exemplares, com um crescimento de 36 indivíduos em relação a 2015, que era de
404 animais, quando em 2014 calcularam-se cerca de 327. Mais de ¾ desta
população habita a região da Andaluzia.
Kahn |
Em termos de
memória documental… Em 2011, habitavam no CNRLI (Centro Nacional de Reprodução
do Lince-Ibérico em Silves), 19 linces: 16 adultos e 3 jovens (11 machos e 8
fêmeas).
Era |
Fruta |
Jacarandá filmada por uma câmara armadilha |
Em 2016, foram igualmente formados 23 casais (5 em El Acebuche, 6 em Silves, 5 em Zarza de Granadilla, 6 em La Olivilla e um no Zoo Jerez), resultando 58 crias e das quais 48 (23 machos e 25 fêmeas) sobreviveram.
Em 2015,
decidiram-se por 27 casais; contudo 3 deles não emparelharam. A esperança
ficou-se nos 24 restantes (6 em Silves, 6 em Zarza de Granadilla, 5 em El
Acebuche, 5 + 1 não gestantes em La Olivilla e um no Zoo Jerez), originando 61
crias e destas sobreviveram 53 (17 machos e 25 fêmeas; nesta leitura com base na informação a que tive acesso, faltam 11 exemplares, que curiosamente, são o número de crias nascidas no Centro de Silves...)
Em 2014, somente
18 casais colaboraram no programa de reprodução, e destes houve 2 não gestantes
e 2 que resultaram em abortos; sobrando apenas 14 reprodutivos (4 em Silves, 2
em El Acebuche, 4 em Zarza de Granadilla e 4 em La Olivilla), com 36
nascimentos e 24 (10 machos e 14 fêmeas) os linces sobreviventes.
Em 2013, os
casais eram 25 em que 3 deles não foi possível levar o emparelhamento para a
frente. Dos 22 (7 em Silves, 4 em Zarza de Granadilla, 5 em la Olivilla e 6 em
El Acebuche). No CNRLI, resultaram destas uniões 17 crias, das quais 15
começaram de imediato o processo de edução selvagem para a sua futura
reintrodução na natureza.
Em 2012, foram 28
os casais tentados emparelhar, mas 4 não resultaram. Dos restantes 24 (8 em
Silves, 5 em El Acebuche, 8 em La Olivilla, 2 em Zarza de Granadilla e 1 no Zoo
Jerez), só 21 ficaram gestantes. Das 59 crias, sobreviveram 44 após os 2 meses.
No CNRLI, forma reintroduzidos no seu habitat 6 fêmeas e 5 machos dos 19 linces
nascidos no Centro.
Em 2011, nos
quatro centros (Silves, El Acebuche, La Olivilla e Jerez), foram 5 os partos e
13 as crias nascidas mas somente 5 sobreviveram.
Calabacín |
Drago |
O ano passado
(2016), em Silves, foram juntos seis casais. Todavia, somente, 4 fêmeas ficaram
gestantes. Artemisa com Foco (3 crias, todas sobreviventes), Fruta e Jabugo (com 4 crias), Juromenha
e Fresco ( 3 crias)… Infelizmente, Era e Fado, não foram felizes, pois a única cria gerada acabou por
morrer. Destas 10 crias que irão contribuir para as populações ibéricas, seis
delas são fêmeas e as outras quatro são machos. Nos outros centros de
reprodução foram: 19 crias em Zarza de Granadilla, 9 em La Olivilla, 8 em El
Acebuche e 2 no Zoobotánico Jerez em Cádiz… totalizando as já referidas 48
crias sobreviventes na última temporada. 83% numa natalidade complicada é um
enorme sucesso e esforço de todos aqueles que se encontram envolvidos em salvar
esta icónica espécie selvagem. Este dado é ainda mais significativo, quando
temos que ter em conta que algumas destas fêmeas são estreantes na maternidade,
o que nem sempre trás os resultados que mais gostaríamos; é natural que o
processo reprodutivo fracasse.
Outro elemento
importante neste projecto e no programa, é o número de crias nascidas e animais
identificados com indícios ou episódios de epilepsia. São já 17 os casos
registados, 2 deles em 2016, pelo menos desde 2008. Esta anomalia genética que
afecta estes exemplares, são um grave revés no programa de reprodução, dado
que, como é espectável para criar uma população saudável este tipo de patologia
não é de todo recomendável para não transmissão de genes.
Éon |
Era |
As primeiras crias a nascerem em 2017, no CNRLI em Silves, aconteceu a 28 de Fevereiro. Uma ninhada de 3 crias. Mas esta notícia ainda prima por uma extraordinária relevância; isto pelo facto, de os progenitores se chamarem: Biznaga (mãe pela primeira vez em 2011) e Drago. Esta fêmea de 12 anos (fundamental para o programa), com este parto, já foi mãe de 17 crias (para além destas recém-nascidas, 9 foram libertadas ao abrigo do programa “LIFE+Iberlince”, 3 morreram ainda no chamado período neonatal e 2 agora adultas continuam no Centro de Reprodução em Silves). Quanto a este macho, foi o progenitor de 23 crias (contando com as crias deste ano, mais 10 que foram libertadas, 3 que continuam no Centro e 7 não conseguiram sobreviver).
2016, trouxe, como referi, 48 crias
sobreviventes e destes jovens linces são 40 os que fizeram parte das soltas previstas
para este ano, foram preparados com os meios e as adaptações necessárias para
serem libertados no seu habitat tradicional este ano.
Fresco |
Para já (ainda
que prematuramente), a temporada deste ano no que diz respeito a nascimentos em
Silves, a 30 de Março… salda-se em 15 crias nascidas no centro. Mais quatro que
em 2016.
Azhar |
Outro caso a
sublinhar sobre a recente história do Lince-Ibérico é, Fresa. Uma fêmea magnifica, e a mais corpulenta de todas com cerca
de 14 kg, é um caso de sucesso. Progenitora de 15 crias até hoje. Tinha parido
3 crias em 2015, este ano gerou 4 crias (esta é a segunda vez que gera este
número de crias) no dia 26 de Março, após emparelhada com Hermes (a sua primeira ninhada no CNRLI).
Já Jabaluna e Jerte (chegou ao CNRLI, em 2016 vindo de Zarza de Granadilla onde
nasceu), foram pais de 3 crias, nascidas a 25 de Março. Esta fêmea é também ela
um caso marcante neste processo de recuperação da espécie. Nascida no Centro El
Acebuche, em Março de 2012, foi abandonada ao nascer pela sua Mãe Boj. Sobreviveu numa incubadora durante
um semana, e foi devolvida à mãe após esse período. Uma situação singular, pois
nunca acontecera que uma cria fosse aceite depois de uma rejeição. Apesar de ser
mãe pela primeira vez, esta fêmea de cinco anos mostra do ponto de vista
maternal um bom comportamento. É filha de Damán
II, macho fundador do CNRLI e actualmente no Centro de El Acebuche,
Gamma no Zoo |
Por fim, falta
saber o resultado da gestação de Juromenha.
Aguarda-se… e espera-se com êxito, o parto desta fêmea fecundada com a primeira
inseminação artificial em Lince. Esta fêmea de cinco anos, nascido a 5 de Março
de 2012, e filha de Biznaga e Drago, é um dos casos de sucesso do esforço das
equipas técnicas quando têm que intervir em situações que as crias correm risco
de vida. Foi abandonada pela mãe juntamente com a irmã Janes, ainda na caixa do ninho. Retiradas num momento crucial em
que já se encontravam muito fracas, a terceira cria não teve a mesma sorte
acabando por falecer antes da operação. Levadas para o centro de incubação,
estiveram dois a três meses no processo de adaptação até serem de novo
reintroduzidas juntas dos progenitores, que acabaram por as aceitar de novo e
ensiná-las a caçar sozinhas. Torna-se ainda mais especial, porque foi a
primeira fêmea nascida no centro a ser mãe; com Fresco a 11 de Março de 2016, geraram 3 crias.
Lagunilla com a suas crias |
No Zoobotánico de
Jerez, os trabalhos começaram com um desafio imediato; criar quatro crias: Esperanza (nascida em 2001), Aura e Saliega (nascidas em 2002), e Cromo
(nascido em 2003)… transferidos mais tarde para El Acebuche.
O CNRIL, como se
sabe, arrancou com Azahar, vinda do
Parque Zoobotánico de Jerez de la Frontera.
Em Zarza de Granadilla,
foram quatro os exemplares que iniciaram ali o programa de reprodução: Gitano, Galeno, Granito e Fábula.
Por seu lado, em
La Olivilla, Camarina e Cuco foi o casal seleccionado para
abertura deste centro.
QUANDO A NOTÍCIA É O REPOVOAMENTO…
Katmandú |
Liberdade |
Kahn |
Ao todo, desde
2009, e graças a este programa já foram ou ainda serão reintroduzidos no
decorrer deste ano… provavelmente 210 linces na natureza (contando com os
previstos 40 exemplares de 2017). Dos 170 linces até ao final de 2016, pelo
menos, 141 são provenientes dos centros de reprodução, os outros 29 tratam-se
de indivíduos que haviam sido transferidos para cativeiro nos respectivos
centros de reprodução.
A organização
“Life Iberlince” estabeleceu a libertação para 2107 de 40 linces na Península
Ibérica. As zonas estão demarcadas em Portugal (Vale do Guadiana) e Espanha
(Vale de Matachel, Montes de Toledo, Sierra Morena Oriental, Cuidad Real /
Guadalmellato / Guarrizas). Com a indicação de 8 exemplares por cada uma destas
povoações. É já na consequência deste reforço populacional, que o ano passado
(2016), nasceram em liberdade nos Montes de Toledo, 14 crias e 5 na zona de
Cuidad Real. Tão ou mais importante que o aumento da população efectiva, estes
dados são fundamentais para perceber adaptabilidade e o sucesso da reintegração
desta espécie no seu habitat original.
Tal como para
este ano, a temporada passada foram reintroduzidos no Parque Natural do Vale do
Guadiana, 8 linces como estava previsto no programa “Iberlince”.
As libertações ainda
no primeiro terço do ano de 2017, envolveram já seis fêmeas e dois machos dentro
do território espanhol. A reintrodução em Guadalmellato (Córdova) indicaram que
essas fêmeas foram: Noa (filha de Hubara/Hache), Niagara (filha
de Fábula/Juncabalejo), e uma jovem fêmea nascida no centro de reprodução de
La Olivilla (Jaén) sem nome (filha de Coscoja/Kilimanjaro)… (mais tarde baptizada de Niebla); o macho é Navío (filho de Jarilla/Gaspacho). Quanto a reintrodução em
Guarrizas (La Carolina, Jaén, Andaluzia) os linces devolvidos à natureza são: Nambroca (filha de Fábula/Juncabalejo), Nieve (filha de Cynaray) e Nebraska
(Filha de Fruta, e nascida no
CNRLI); o macho é Nacar (filho de (Fárfara/Helio). Estes exemplares têm como missão sublimada aumentar a
diversidade genética destas regiões.
Loro |
Loro |
Loro |
Na senda do pré-estabelecido
para 2017, em 22 de Fevereiro, uma quarta-feira e numa propriedade do Vale do
Guadiana no Baixo-Alentejo , vindos do Centro de Reprodução de Zarza de
Granadilla na Extremadura espanhola, foram libertados Naira (fêmea) e Noctulo
(macho). Estes dois linces com cerca de um ano representam a segunda solta
deste ano em território português. Aguardando-se agora, o resultado da
progressão destes exemplares em liberdade; sabendo-se que são animais
territoriais e que poderão dispersar com facilidade pelos 20.000 (a 70.000) hectares
mais adaptáveis e com melhores condições naturais para esta espécie ou mesmo
aventurarem-se por outras regiões geográficas, a expectativa é continuar
acompanhar adaptação destes indivíduos em território português. Tal como,
monitorizar o estado populacional das suas presas preferidas em termos da sua
fixação e estabilidade.
Entretanto, as
cinco crias já nascidas em território nacional em 2016, já têm nome (com o
apoio das escolas e populações locais, para além das equipas de monitorização).
O único critério definido pelos responsáveis ibéricos, é aquele que tem sido
utilizado todos os anos para identificar cada exemplar, através da designação
de um nome começado sempre pela mesma letra e que muda de ano para ano; neste
caso foi a letra “N” atribuída a 2016. As crias Nógado, Navarro, Neblina, Nuvem e Nossa serão
também elas agora fundamentais para o repovoamento do Lince-Ibérico no nosso
país. Como nota genealógica, é preciso referir que as quatro primeiras crias são
todas da mesma ninhada da fêmea Lagunilla.
Por seu lado, Nossa, foi observada
acompanhar o primeiro casal de Linces em liberdade: Jacarandá e Katmandú.
Aumentando para um total nesta altura, de 21 linces-ibéricos nesta região
crucial para o programa.
Jacarandá |
No fim do segundo
mês deste ano, calculava-se que fossem cerca de 475 os linces no seu habitat. A
grande concentração dá-se em Andaluzia, onde esta população provavelmente de
389 indivíduos, se estende por: Doñana-Aljarate e a Serra Morena; o que neste
caso refere-se a: Guadalmellato, Guarrizas, Aldújar-Cardeña. Sabemos também que
destes números oficiais, 19 encontram-se em território português, na região do
Vale do Guadiana. Em Matachel, na província de Badajoz, o número de linces
deverá apontar para 28. Em Toledo, nos Montes de Toledo, serão 23 os felinos
existentes. Os restantes 16, povoam a zona da Serra Morena Oriental. Contudo,
ainda é cedo para fazer um balanço do crescimento populacional para 2017.
Número sempre provisório à medida que a temporada vai avançando. Neste momento,
em Maio de 2017, calcula-se que exista este número quase mágico… 483
Linces-Ibéricos em liberdade (quando há 4/5 anos atrás a população rondava
entre as três centenas e as três centenas e meia).
Mel |
Foi em parte,
devido a este trabalho persistente, que se detectou um lince no terreno com uma
fractura da tíbia no membro posterior esquerdo. Loro (nascido em 2014, em El Acebuche), pode assim ser capturado a
9 de Julho e intervencionado cirurgicamente (no Centro de Cirurgia Veterinária
de Loures, pelo Dr. Rafael Lourenço) para correcção da fractura. Fazendo a sua
recuperação no CNRLI em Silves. Após a remoção dos ferros correctivos, no seu
processo recuperativo mostrou-se em perfeitas condições para voltar à sua
condição de liberdade, sendo solto a 2 de Novembro de 2015. Este Lince havia
sido libertado da primeira vez na zona mais oeste da Herdade das Romeiras, em
Mértola, a 16 de Abril de 2015, juntamente com a fêmea Liberdade, após passarem pelo período de “solta branda”; dentro do
cercado de adaptação desde 3 de Março. Uma das informações que recolhi, que me
pareceu bastante importante neste trabalho das equipas no terreno; é o facto de
permitirem o seguimento dos exemplares que dispersam para lá da região do Vale
do Guadiana, e desta maneira, poder-se controlar com mais certeza os potenciais
riscos que envolvem estes exemplares, sejam urbanos sejam eles causados em
condições naturais.
Outra das boas
notícias aconteceu, no primeiro dia de Março. A população português ficou bem
mais rica. De Espanha, vieram uma fêmea chamada Neves e um macho Nerium.
A primeira nasceu o ano passado, no dia 3 de Abril, no Centro de Cria de Lince
Ibérico de La Olivilla (em Santa Elena-Jaén, criado em 2007). O segundo nasceu
no Centro de El Acebuche (Matalascañas em Huelva, o mais antigo dos centros e a
funcionar desde 1992). A região de Mértola, é por enquanto, o grande foco da
estabilização da população de linces em Portugal, no projecto “Iberlince –
Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico em Espanha e Portugal”.
Assim, o Lince-Ibérico em território português, conta agora com 23 espécimes.
Para já 2017, está marcado pelo dia 17 e 22 de Fevereiro e 1 de Março, depois
das 3 soltas deste felino tão ameaçado. Tendo em conta o que estava projectado
para as reintroduções em Portugal, faltam apenas 2 dos 8 linces que estavam
previsto serem soltos no nosso território.
Até 2016, tinham
sido introduzidos na natureza cerca de 44 linces nascidos no CNRLI de Silves e
pelo menos 12 deles já haviam gerado crias em liberdade.
Uma questão é
certa; houve uma enorme evolução no acompanhamento e no tipo de intervenção dos
processos de reprodução do lince em cativeiro. Para se ter uma ideia, no ano de
2009, altura em que arrancou o programa de reprodução; em Espanha, cerca de 40%
das crias não sobreviveram. Hoje a taxa no sucesso da natalidade é superior 85%.
Mas nem sempre o
resultado na sobrevivência das ninhadas é bem sucedido. A mortalidade é
recorrente todas as temporadas. Tal como, nem sempre todas as parelhas resultam
em fêmeas gestantes, mesmo que em épocas anteriores isso tenha acontecido.
Infelizmente, há pelo menos três factores constantes que podem influenciar o
falecimento das crias. Um ou dois deles nos primeiros dias ou semanas de vida
dos pequenos linces. A septicemia neonatal, uma infecção bacteriana
generalizada, atinge algumas das crias todas as temporadas. Também o abandono,
a inexperiência ou a morte em consequência dos ferimentos causados por
repentinos maus tratos provocados pela progenitora, ditam uma percentagem das
crias não sobreviventes. Segue-se igualmente, um momento sempre critico nos
primeiros meses de vida, que se dá com as lutas fratricidas entre os jovens
linces, nas agressividades territoriais e de domínio dentro das ninhadas. Estas
situações são difíceis de controlar e prever, e quando detectadas, são
normalmente tarde demais para que se possa intervir a tempo de evitar o pior.
Ou pelo
contrário, também já aconteceu, nas monitorizações ocorridas no terreno,
poder-se intervir a tempo, aquando de um hipotético abandono extemporâneo de
uma ninhada. Em meados do mês de Abril, os técnicos do projecto
(LIFE+Iberlince) tiveram que salvar uma ninhada de duas crias que se
encontravam abandonadas no Parque de Doñana, na Andaluzia. Após se aperceberem
pelos diversos registos, da constante distância a que se manteve a fêmea Iris (com cerca de 10 anos, conhecem-se
apenas 5 descendentes e somente um sobreviveu até à idade adulta), resolveram
intervir e retirar a crias. De seguida, e depois de verificarem a estado delas,
voltaram-nas a colocar no respectivo local. Todavia, a espera controlada e
mantida a fim de verificar a regresso da fêmea para junto das crias tornou-se
infrutífera. Os técnicos resolveram intervir mais uma vez depois de mais de uma
dúzia de horas de observação. Esta iniciativa foi tomada no momento exacto,
pois as crias já se encontravam em perigo de vida, com hipotermia e infestadas
de moscas. Felizmente com vida, foram transportadas para o Centro de Criação do
Lince-Ibérico de El Acebuche. Nunca é uma solução fácil de tomar; estas equipas
sabem por experiência que os animais não têm todos comportamentos idênticos,
formatos ou tipificados, o que isto os impede de tomar estas iniciativas que
possam alterar qualquer circunstancia temporal. Neste caso, a evidência era
demasiado clara, e foi esta a razão que permitiu a sobrevivência destes novos
exemplares que irão potencializar a diversidade genética e a capacidade
reprodutora, para além de novas reintroduções na natureza.
Doñana tem uma
população razoável de indivíduos (falamos entre 70 a 75 linces). O último censo
em 2016, identificou 74 exemplares, com pelo menos 24 fêmeas territoriais e 16
crias distribuídas pelos casais reprodutores.
No dia 24 de
Abril deste ano, a população de Guadalmellato foi aumentada com dois novos
exemplares; Noa (uma fêmea) e Navío (um macho). Nascidos no Centro de
Zarza de Granadilla em 2016. Esta população era composta por 55 indivíduos, com
apenas 14 fêmeas territoriais. No dia seguinte, a 25 de Abril, foi a vez de Namibia (nascida no mesmo centro), ser
liberta no Vale de Matachel na região de Badajoz, através do processo de solta
“dura” (sem passar por um cercado de adaptação); são cerca de 28 os linces
residentes neste local, porém, somente um dos exemplares é uma fêmea… facto que
não compreendo ou então não tenho dados suficientes para entender, pois com
tantos exemplares libertos na natureza em áreas tão demarcadas… como pode
existir um núcleo tão desequilibrado e exposto a um risco não-reprodutivo tão
elevado.
Este ano o
habitat natural do Lince-Ibérico já foi “abençoado” no sentido da preservação
da espécie e conservação deste população tão ameaçada (é preciso não esquecer
que em 2002, calculava-se que existissem apenas cerca de 100 indivíduos; isto numa
situação sem uma intervenção capaz, seria o principio da extinção)… com o
nascimento de pelo menos 3 ninhadas. Estes partos ocorreram em região espanhola
nos locais da reintrodução da espécie. As progenitoras são: Mesta (que teve 2 crias confirmadas) na
Serra Morena Oriental, libertada em Fevereiro de 2016, com o macho territorial Milvus (irmão de Mistral, solto em Portugal, e filhos de Hubara e Juncabalejo,
nascidos em 2015 em Granadilla); Kiowa
(com 2 crias) também na Serra Morena Oriental, nascida em 2013 no centro de
Zarza de Granadilla e libertada em Julho de 2014, sabendo-se que em 2016 já
fora mãe de 3 crias; Malvasía (4
crias) nos Montes Toledo, em Castilla-La Mancha, libertada também em Fevereiro
de 2016 e proveniente também de Granadilla, nascida de Guara e Helio na
temporada de 2015 . Qualquer destas fêmeas tem mostrado um cuidado materno, uma
dedicação e um afecto espantoso no tratamento das suas ninhadas. Esta
localidade de Serra Morena Oriental, tem uma das menores populações de linces
em liberdade. A região precisa, provavelmente, de melhores condições para a
sobrevivência e a sustentabilidade alimentar dos indivíduos. De acordo com os
censos do ano passado, foram registados 16 exemplares residentes.
Até 2016, tinham
sido libertados na Andaluzia 86 linces. Na região de Guadalmellato em Córdoba,
dos 48 soltos mantinham-se vivos 28. Em Jaén, na área de Guarrizas, foram 44 os
linces libertos e destes encontram-se vivos 29. Cerca de 65 a 66% são os dados
estatísticos da sobrevivência da espécie na região. Pode até ser um índice
acima do previsto, porém, os dados mais realistas são a morte 57 linces deste
projecto só nestas áreas. Quer se queira quer não, falamos de mais de meia
centena perdas, mais de 50 % de toda população existente em 2002 na Península,
para além do desaparecimento de uma significativa representação genética. Basta
só lembrar, que ainda há pouco mais de um mês (28 de Abril), um jovem macho
nascido em 2016 nos Montes de Toledo,
foi encontrado morto por atropelamento na Estrada CM-410. Como também na A-301
em Jaén, na região de Guarrizas, havia sido encontrado atropelado, a 6 de
Abril, o cadáver de uma jovem fêmea com cerca de um ano, sem GPS. A 31 de
Março, fora a vez de um outro macho, igualmente atropelado, e este com
radiotransmissor, somente não consegui saber o seu nome até agora. Esta é uma
realidade evidente; e não tenho conhecimento de outro mamífero, de outro felino,
tão ameaçado de extinção, que esteja sujeito a este tipo de riscos consentidos
e a uma complacência enorme das autoridades nesta situação… como o
Lince-Ibérico! O resultado está à vista neste primeiros meses, como estão nos
números de 2016 (com 15 linces atropelados; 13 na Andaluzia, 1 em Castilla-La
Mancha e 1 em Portugal), assim como nos números de todos os anos anteriores. No
passado, na Andaluzia, até 2012, já tinham morrido atropelados 30 linces, durante
um dos períodos mais críticos da espécie.
Como nota de
registo para este artigo, lembro que em 2013, o CNRLI já colaborara com algumas
das suas crias no projecto de reintrodução de exemplares em Espanha. Jazz (filha de Castañuela e Fado), Joaninha (filha de Fruta e Fresco)
libertadas em Guarrizas em 21 de Junho; Joio
e Janeira soltos também em Guarrizas
a e Jeropiga e Joeira em Guadalmellato a 14 de Março (os quatro filhos de Fresa e Eón). A 5 de Junho haviam sido libertos em Guadalmellato, Jembe e Jiga (mais duas das 4 crias de Castañuela
e Fado) com Jedi (filho de Flora e Foco). Em 18 de Junho foram foram
libertados Jam (a outra cria de Castañuela e Fado) e Janga (filha de Flora e Foco) desta feita em Guarrizas.
Malva com 3 das suas 4 crias de Mundo, a outra só surge nos segundos seguintes do filme. |
O fim da
temporada de partos em 2017, sabemos que se deu no Centro de El Acebuche. A
fêmea Homer deu a luz 2 crias (dois machos), do
macho Esparto, no dia 19 ou 22 de Maio. Num período já considerado anormal para os partos previstos, Esta situação deveu-se após uma primeira tentativa de gravidez falhada. Falta agora esperar umas semanas mais e aguardar pelos resultados dos novos
linces a juntarem-se ao Programa de Recuperação do Lince-Ibérico (ver tabela de crias 2017).
Nara, é o nome do último lince libertado esta temporada no Vale do Guadiana, na
Herdade das Romeiras, no dia 24 de Maio. Uma fêmea de 9,8 kg, nascida em Março
de 2016 no Centro de Cría do Lince-Ibérico de El Acebuche. Mal foi libertada em
poucos segundos desapareceu entre a vegetação, apenas uma hesitação momentânea
para se orientar. Passando a ser o 27º lince a ser reintroduzido no nosso
território. Três deles morreram por atropelamento, doença e envenenamento.
Outros cincos estão dados como desaparecidos e desconhecendo-se o seu actual
paradeiro. Devemos juntar a este efectivo, as 5 crias nascidas o ano passado,
hoje com um ano de idade e se tudo correr bem como se espera, mais as dez já
nascidas em liberdade durante 2017, filhos de Mirandilla (e de Luso),
de Lagunilla (com Luso), Jacarandá (e de Katmandú),
Lluvia (com Katmandú) e Malva (e Mundo). Poderá entretanto, haver outras
ninhadas, pois há mais fêmeas territoriais e reprodutoras no Vale do Guadiana.
QUANDO A MORTE É
O ATROPELAMENTO…
A fêmea Melisandre, nascida no CNRLI de Silves,
em 2015 foi encontrada morta em Janeiro deste ano, num laço de uma armadilha
ilegal de uma reserva de caça em Jimena (Jaén, Andaluzia. Esta fêmea, portadora
de colar GPS, fora reintroduzida na natureza em Guarrizas (Jaén) a 16 de
Fevereiro de 2016. Um dia antes de Maravillas
em Guadalmellato e três semanas antes de Medea
e Menta serem libertas na
Extremadura espanhola. Apesar do Serviço de protecção da Natureza da Guarda
Civil e de Agentes da Junta da Andaluzia posteriormente, procurarem eliminar as
armadilhas ilegais, a reserva de caça continua a permitir que estas práticas
criminosas ocorram. Esta fêmea fazia parte dos mais de uma centena e meia de
linces nascidos em cativeiro e já reintroduzidos no seu habitat, desde 2009.
Neste mesmo mês
de Janeiro, durante a segunda semana, outros três linces foram encontrados
mortos. Dois deles atropelados (um macho e uma fêmea), nas fatídicas
auto-estradas (EN-420 em Adamuz em Córdoba ao Km 65 e A-421 em Ciudad Real-Viso del Marqués, entre Montoro e Cardeñan)
espanholas para a vida selvagem. Kaplán
era um dos primeiros exemplares libertos em Castilla-La Mancha, no âmbito do
programa IberLince em 2014. Um macho
de grande porte, com cerca de 14kg. Nascido em 2013, no Centro de Reprodução de
La Olivilla (Jaén) fora reintroduzido em Julho de 2014 na região da Serra Morena
numa propriedade em Almuradiel (Ciudad Real). Este macho extremamente
importante, por ter sido pai o ano passado, já em liberdade, de duas ninhadas,
sempre permaneceu na zona de libertação. Calcula-se que as fêmeas com que tenha
emparelhado sejam Kiki e Kiowa. A necropsia revelou lesões
musculares, fracturas antigas, hematomas e bastante debilitado; levando a
suspeita também que na origem da sua morte estivesse um problema renal. Algumas
destas mazelas poderiam ser consequência de uma rivalidade territorial que teve
com Kivu, um macho de porte franzino
que acabou por ser encontrado morto (esta causa de morte nunca foi apurada se
deveu a alguma luta entre eles), e que procurava acasalar com Kiowa.
Pouco dias depois
desta notícia anterior, um outro exemplar, uma fêmea com cerca de seis meses,
foi encontrada morta por atropelamento na estrada Nacional 502, entre Espiel e
Alcaracejos em Córdoba.
Tal como Hongo, o terceiro Lince a morrer em
território português. Exemplar libertado em Aznalcazar, em Espanha (em 2011), que
percorreu algumas centenas de quilómetros até se instalar em Portugal. O seu
colar transmissor deixou de funcionar a 16 de Outubro de 2012. Este animal
circulou pelos nossos cerrados entre 2013 e 2015. Fora de novo localizado em Maio
de 2013 na zona de Vila Nova de Milfontes. Seguido a partir daí por
foto-armadilha e vestígios naturais pelos técnicos do ICNF. Contudo, não
evitaram o pior, acabando a vida, atropelado, na A23 junto a Vila Nova da
Barquinha, no dia 22 de Outubro de 2015, com quatro anos.
Hongo nasceu na natureza, foi salvo devido ao estado de fraqueza. E depois de recuperar... Foi reintroduzido no seu habitat original. |
Durillo |
Outra das
contrariedades que muito entristece todos os que trabalham nestes projectos, é
uma típica patologia que afecta os felinos em geral. A Insuficiência Renal
Crónica (IRC), é uma enfermidade com três fases patológicas, mas que
controladas possibilitam uma qualidade vida e longevidade razoável. Porém, é
sempre difícil de prever e intervir atempadamente, quando a doença progride e
entra numa fase critica e terminal. É a história de Alandalus, um macho de 10 anos nascido em liberdade, que entrou no programa
de reprodução em cativeiro em Setembro de 2007, no Centro de El Acebuche. Em
2009, após exames foi-lhe detectado um estado avançado da doença em fase
terminal. Contudo, os tratamentos paliativos administrados, permitiram que este
exemplar mantivesse no centro uma qualidade de vida assegurada; não participando
nas temporadas reprodutoras apenas devido a falta quase total de produção
espermática. Infelizmente, a situação deteriorou-se muito em 13 de Outubro de
2014. O Centro acabou por decidir pela eutanásia dois dias depois, evitando
assim o sofrimento deste infortunado exemplar. Nessa altura existiam 23 linces
em todos os centros padecendo desta patologia, distribuídos pelas 3 fases da
doença, porém todos eles nessa altura com uma qualidade de vida satisfatória.
Hoje e três anos depois, não sei dizer quais os casos ainda de longevidade
destes exemplares.
Nodriza |
A notícia mais
recente destes fatídicos atropelamentos, ocorreu já no mês de Maio (dia 18) e em
território nacional, que não tem sido vulgar, felizmente (apesar de não nos
podermos esquecer que estamos perante uma população muito mais pequena com uma
distribuição muito mais restrita). Neco,
um exemplar de quase 13 kg, nascido na primavera de 2016, no Centro de Zarza de Granadilla, em
Espanha e libertado na região de Mértola no dia 17, encontrou a morte ou no
próprio dia 17 ou no dia seguinte, numa estrada Municipal entre Mértola e Corte
gafo de Cima. São 10 km de estrada perigosa para a vida selvagem; um alerta
dramático que aqui fica para todos os que circulam nesta IC27. A libertação
deste lince de um ano, tinha como intuito perfazer 26 exemplares em liberdade no nosso
país e era a penúltima solta deste ano, fazia parte dos oito lince previstos na
reintrodução no Vale do Guadiana. Infelizmente, este é o primeiro lince
reintroduzido no nosso país a ser atropelado e o 4º a morrer nas nossas
estradas. Seria o 26º lince a integrar a população nacional.
Caribu, tal com Kentaro ou Kahn... tem uma história extraordinária. |
Como actualização dos dados desta mortalidade inaceitável, o ano de 2017 salda-se no final de Julho deste ano, com 12 Linces atropelados; 6 deles na região de Andaluzia.
As últimas vitimas da irresponsabilidade dos condutores com comportamento quase criminoso, aconteceram em Abril, com a morte de dois exemplares: o primeiro no principio do mês na auto-estrada A4, na A-301, e o segundo na A-302, ambos entre Andújar e Bailén, em Guarrizas. A 8 de Julho nova fatalidade em Santa Elena, Jaén. Como o mês mais negro do ano, Julho volta a registar uma nova morte por atropelamento, de uma fêmea não radio-marcada, no dia 16,entre Andújar e Bailén. Já no dia 19, em Valle de Matachel (Extremadura). é encontrada morta por um evidente atropelamento, uma jovem fêmea de 4 meses, filha de uma ninhada de Lechuza. Recentemente, no dia 22, em Valdepeñas, Ciudad Real, na A4 ao km 211, um outro macho rádio-marcado, é morto nesta miserável estrada.
Esperemos que as medidas que estão a ser levadas a cabo e outras em estudo, possam parar este verdadeiro massacre, que mata mais animais de uma única espécie que qualquer outra morta por acção irresponsável do homem.
Nublada |
São extraordinários, do ponto de vista da sobrevivência desta espécie, os relatos sobre a dispersão entre os dois países, de exemplares errantes que nunca fixaram um território estável. Se por um lado, pode ser fulcral para a diversidade genética e a possibilidade de criação de novos núcleos da população de lince... por outro lado, a não fixação de um território também não garante a desejada procriação e o arrastar com eles de fêmeas territoriais. Todos os mais significativos relatos indicam este comportamento sempre associado a machos. Em 2010, Caribu, Hongo em 2013, Kahn e Kentaro em 2015, Lítio e Mundo em 2016. Todos estes percursos foram feitos na direcção do território português, excepto Lítio que se dirigiu do Vale do Guadiana para o Parque de Doñana. Três deles morreram (Caribu, Hongo e Kentaro, Kahn está dado como desaparecido, Mundo reside agora perto de Serpa, e Lítio encontra-se provavelmente em Doñana. A História de Caribu, é igualmente fantástica, capturado por três vezes, insistiu sempre pela errância como quase de um trágico faticinio, parece que a fome e a desnutrição ditaram a morte deste magnífico animal a 25 de Setembro de 2010.
Kentaro, é o meu símbolo da luta pela sobrevivência do Lince-Ibérico e um dos meus
tributos pela conservação das espécies. Este exemplar nascido em 2013 no CNRLI
em Silves, é até à data a maior referência do espirito errante e dispersante
que podem ter os machos desta espécie. Tal como o irmão Kahn, este espécime viajou provavelmente como nenhum outro lince,
ao longo de mais de 3000 km. Atravessou uma boa parte do território espanhol (entre
os Montes de Toledo, a Barragem de Castrejon no rio Tejo, as províncias de
Madrid, Cuenca ou Guadalajara, cruzando a norte do rio Tejo até ás províncias
do sul de Soria e Zaragoza, retorna a Soria até à região de La Rioja seguindo
até à região de Zamora) e tentou regressar em Agosto de 2015 a Portugal a norte
de Vimioso no nordeste transmontano, no fundo ao seu país de origem, apesar de
ter sido libertado, como já referi, nos Montes de Toledo, (na propriedade El Castañar
no Municipio de Mazarambroz) a 26 de
Novembro de 2014. Este extraordinário lince, depois de ter percorrido o norte
da península, atravessado grande parte da cordilheira cantábrica, tentado
entrar em território português, dirigiu-se de novo para terras espanholas onde foi
alvo de uma tentativa de captura falhada em Dezembro de 2015. O seu rasto
perdeu-se nessa altura, só tendo-se conhecimento da sua posição quando foi
encontrado morto por atropelamento numa estrada no concelho da Maia no dia 15
de Outubro de 2016, após mais uma progressão de centenas de quilómetros. Depois da
perda do contacto com a sua localização, calculava-se pela última indicação da
sua coleira GPS que vagueasse perto de Ourense. Através da monitorização é de
crer que KENTARO tenha percorrido durante esta digressão errante mais de 3000
km entre os dois países. Tinha três anos!
Kentaro |
Por último, e como actualização destes estudo, junto a notícia que surpreendeu todos squeles que se dedicam a esta espécie...
A 24 de Junho de 2017, num sábado, um incêndio
deflagrou no município de Moguer, na Andaluzia, em Huelva. Na tarde de Domingo,
com o aproximar das chamas, o centro de El Acebuche recebeu ordem para
desalojar o local e evacuar os exemplares ali existentes, cerca de 27 linces,
entre machos, fêmeas e crias.
Este incêndio com três frentes activas
atingiu Doñana, a área protegida do Parque Nacional e as proximidades da Reserva
da Biosfera. Cerca de 2.000 pessoas foram evacuadas na região. O incêndio atingiu
os territórios da população selvagem de linces que habitam o parque. Mais concretamente,
o território de três fêmeas. Infelizmente, existe a suspeita ainda não
confirmada, que as crias (cerca de 8) existentes nestes territórios não tenham
sobrevivido. Tendo em conta que os censos de 2016, revelavam a existência de 74
exemplares em liberdade na região, entre eles 24 fêmeas residentes com 16 crias
registadas.
A evacuação do centro foi feita em cima da
hora e tardiamente, com base num plano definido dentro da acção de um protocolo
criado para o efeito. Durante esta operação foram deixados para trás 13 dos
exemplares do programa de conservação ex-situ do Lince Ibérico. Tendo somente
sido possível retirar 9 adultos (5 machos e 4 fêmeas) e 5 crias. Conforme o
protocolo, as portas foram deixadas abertas dos restantes recintos, para que os
exemplares deixados pudessem fugir.
Homer |
Homer |
Homer |
A 26 de Junho de manhã, foi possível às
equipas regressarem ao Centro com os animais. Recuperando ainda 11 dos 13 exemplares
deixados para trás, com recurso a jaulas-armadilhas e a câmaras de foto-armadilhagem.
Três dias depois, conseguiu-se recuperar Aura, a fêmea de 13 anos, perto do
Centro. O incêndio foi dado como controlado no dia 27. Faltava apenas encontrar
o macho do qual as equipas já seguiam vestígios deixados no terreno.
Fran (Antes) |
Fran (Depois de capturado, após o incêndio) |
Fran, este macho acabou por ser recapturado
no dia 19 de Julho, quase um mês depois, a 8 km do centro, bastante debilitado,
coxeando de uma pata e por não se ter alimentado. O seu estado é agora seguido
no Centro, apesar de nos exames preliminares não se terem verificado situações preocupantes,
encontrando-se em quarentena para melhor
acompanhamento da sua evolução. A sua história é bastante interessante: é um
macho muito admirado dentro do programa de reprodução, com cerca de 15 anos dos
quais 14 em cativeiro, foi capturado em Setembro de 2003 em Cardeña na Serra
Morena ferido também numa pata, transferido para o “Centro de Recuperación de
Especies Amenazadas de Los Villares” em Córdoba, ingressa no programa de
reprodução em Janeiro de 2005, após recuperação é inserido em El Acebuche, em
2006 muda-se para o Zoo de Jerez, regressando de novo ao centro em Novembro de
2006.
No Centro da Cria de El Acebuche, nasceram cerca de
128 Linces até à data, destes pelo menos 33 já foram reintroduzidos na natureza.
Numa região entre a Serra Morena e Doñana, que conta hoje, provavelmente, com
uns 400 exemplares em liberdade.Estas linhas são dedicadas às últimas notícias de 2017, como culminar deste artigo que só procura apenas um tributo à conservação de uma espécie que me fascina há 40 anos e que começou nos finais dos anos 70, do século XX, com a angariação de assinaturas na campanha da LPN, "Salvem o Lince e a Serra da Malcata"...
Nara, a correr para a liberdade no de 24 de Maio |
Começamos por uma notícia que para além da indignação deixou-me profundamente revoltado. A 28 de Setembro os técnicos do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, foram informados pela GNR, que tinha sido encontrado em Alcoutim, um colar radio-localizador azul... da fêmea Nara, o último lince (antes de Neco), a ser libertado no nosso país. Este equipamento revelava ter sido cortado por uma faca ou navalha ou outro objecto cortante. E como indicam os técnicos, esta acção só poderia ser feita com o felino anestesiado, imobilizado ou morto. Porém, a notícia, torna-se mais cruel ainda, quando surge na internet a noticia de um lince à venda no site OLX, no dia 11 de Dezembro; tendo sido removida logo de seguida. Até hoje, nenhuma investigação deu qualquer resultado... se as houve com objectivos eficazes e o grau de investigação criminal grave que traduz.
Nairobi |
Já no ínicio de Agosto as notícias sobre as populações do Vale do Guadiana e de Doñana tinham trazido uma novidade, com tanto de curioso como de importante para a conservação da espécie. Um novo caso, confirmado a 15 de Agosto por uma foto-armadilha, de um lince errante verificara-se entre estas duas populações. O quarto lince a viajar mais de uma centena de quilometros até território nacional. Desta vez, uma jovem fêmea percorreu mais de 150 Km até Mértola, vinda provavelmente da região de Sevilha, de Puebla del Rio, local onde nasceu e se mantinha até finais de Maio. Nairobi, esta jovem fêmea tem igualmente, uma particulariedade... é também irmã de... Mundo (o outro lince que veio de longe para se juntar a Malva, em Serpa). Este novo caso, que até pode ter algo genético em comum, é acima de tudo essencial para estas duas populações, das mais frageis de todas elas, principalmente, pelo isolamento em relação a outras áreas onde poderiam ocorrer outros linces e elevar a viabilidade da espécie, como pela distância que ditam das outras populações (novas ou mais numerosas) da Península; a possibilidade de partilha genética é fundamental para a preservação do Lince-Ibérico. Em Doñana não chegam a 80 exemplares, enquanto no Vale do Guadiana deverão ser nesta altura cerca de três dezenas.
Niebla, instantes após a sua libertação em Janeiro. |
Boj |
Infelizmente, o ano de 2017, não é um registo que possamos admirar, nem pelos dados nem pelas notícias. Já mesmo com o ano a terminar, faltava ainda a notícia que todos os que seguem este animal maravilhoso... não gostariam de receber. Boj, uma famosa fêmea de 12 anos, faleceu após ter sido eutanasiada no Centro de El Acebuche, no dia 21 de Dezembro. Este exemplar foi determinante e importantissima para a parte que considero dita com sucesso no programa de salvaguarda do Lince-Ibérico: a reprodução da espécie. Foi uma das primeiras fêmeas reprodutoras do programa, integrando o programa de reprodução no Centro de El Acebuche em 2005. Lutava há 7 anos, contra a enfernidade que mais afecta estes felinos; uma insuficiência renal, desde 2010. Porém, o esforço extraordinário de todo equipa do centro, principalmente na dedicação dos médicos-veterinários em encontrarem formulas para a melhoria da sua saúde, conseguiram que ela se mantivesse dentro do programa de reprodução com a qualidade de vida que lhe era merecida. Teve 16 crias em seis temporadas de reprodução, que vivem hoje alguns nos centros do programa e outras que foram libertadas na natureza. No Centro de Silves, Jabaluna (de que já falei) é uma delas. Assim permaneceu enquanto a doença permaneceu na fase 2. Só em 2016, foi retirada do programa, quando a doença evoluiu e entrou na fase 3, num processo considerado terminal da doença. Boj, que nasceu na natureza na região de Doñana, deixa hoje os seus genes espalhados na maioria das populações existentes na natureza, como na descendência ainda existente nos centros de reprodução. Ao que parece, contribuiu igualmente, para aperfeiçoar os métodos e as técnicas que ajudam a manusear os linces que se encontram em cativeiro.
Jazmín e Kalama, no seu recinto em Madrid |
Javo e Judia, no espaço reservado no parque de Málaga |
A recuperação da espécie terá de continuar a contar com esta rede essencial de Centros de Crias, para o futuro do Lince-Ibérico:
- Centro de Cría “El
Acebuche”, no Parque Nacional de Doñana, Matalascañas (Huelva). Inaugurado em 1992, e com 18 instalações
para linces.
- Zoobotánico de
Jerez, em Jerez de la Frontera. Inaugurado em 2005, e com 5 instalações para
linces.
- Centro de Cría
La Olivilla, nos Montes de La Aliseda, Santa Elena em Jaén. Inaugurado a 19 de
Janeiro de 2007, e com 23 instalações para linces.
- Centro Nacional
de Reprodução de Lince Ibérico/CNRLI, no Centro de Silves, no Vale Fuzeiros.
Inaugurado a 21 de Maio de 2009, e com 16 instalações para linces.
- Centro de Cría
de “Granadilla”, em Zarza de Granadilla, Cáceres. Inaugurado em Março de 2011, e com 16 instalações
para linces.
SÃO MUITOS OS
NOMES QUE ME FALTARAM MENCIONAR, SÃO MUITOS AQUELES QUE POR INSUFICIÊNCIA DE
INFORMAÇÃO NÃO CONSEGUI PRESTAR O TRIBUTO QUE QUERIA… MAS, FICAM AQUI MUITOS
DAQUELES QUE CADA UM NÓS PODE REFERIR A ALGUÉM NOSSO CONHECIDO PARA QUE TODOS
LEMBREMOS CADA UM DOS LINCES QUE LUTOU PARA A PRESERVAR UMA ESPÉCIE AMEAÇADA DE
EXTINÇÃO.
A MINHA SUGESTÃO
FICA AQUI NUM DESAFIO… PORQUE NÃO, CADA ESCOLA ESCOLHER UM DESTES LINCES COMO
EMBLEMA DE UMA QUALQUER SALA DE AULAS, SERIA UMA BONITA MANEIRA DE MOSTRAR ÀS NOSSAS CRIANÇAS E AOS NOSSOS JOVENS A IMPORTANCIA DO LINCE-IBÉRICO… SÃO QUASE 150 NOMES QUE AQUI DEIXO.
Como dados, em jeito de nota final, e para que se melhor entenda quem são estes linces... e de onde vêm; ficam aqui algumas das tabelas relativas às temporadas de reprodução:
Ano 2017 com 37 crias sobreviventes, das 45 nascidas. mais uma cria que sobreviveu das duas abandonadas pela mãe na natureza. E com apenas um caso de uma cria diagnosticada com epilépsia (19 desde o primeiro caso em 2008). Infelizmente, o primeiro caso de inseminação artificial, no CNRLI, não teve sucesso.
Como dados, em jeito de nota final, e para que se melhor entenda quem são estes linces... e de onde vêm; ficam aqui algumas das tabelas relativas às temporadas de reprodução:
Ano 2017 com 37 crias sobreviventes, das 45 nascidas. mais uma cria que sobreviveu das duas abandonadas pela mãe na natureza. E com apenas um caso de uma cria diagnosticada com epilépsia (19 desde o primeiro caso em 2008). Infelizmente, o primeiro caso de inseminação artificial, no CNRLI, não teve sucesso.
temporada 2017 |
temporada 2016 |
temporada 2015 |
temporada 2014 |
temporada 2013 |
temporada 2012 |
Não vou incluir, ou adicionar à posteriori, nenhuma notícia ocorrida em 2018. Porque esse será o último ano e quando terminará igualmente a envolvência das ajudas ao programa de reprodução e conservação do Lince-Ibérico. Será um ano de balanço, para o bem ou para o mal. Por muito que tenha sido eleito o melhor programa de reprodução de uma espécie em risco de extinção, não deixa de ter problemas muito questionáveis. As acções que advogo há mais de meia década, parece que estão a ser finalmente consideradas; os corredores protegidos com passagens subterrâneas estão por fim a ser criados (como na A-483 em Amonte, Doñana, na Andaluzia, que parece ter custado 560 mil euros... meio milhão de euros é um valor significativo, nem questiono, mas as parcerias e os mecenatos podem mitigar e ajudar a preservar esta espécie). Contudo, continuo acreditar que poderiam ser implementadas outras medidas como complemento dos corredores; que tanto podiam ser subterrâneo ou aéreos.
Estão previstos a libertação de 31 linces para 2018... 16 machos e 15 fêmeas. No território nacional, no Vale do Guadiana, espera-se contar com mais 6 exemplares (3 machos e 3 fêmeas). Com esta previsão, certamente (e com tudo a correr bem, como desejamos), serão mais de 500 os linces-ibéricos a percorrer em liberdade a Península Ibérica. Estes novos linces podem juntar-se a um programa de conservação que já libertou pelo menos 216 no seu habitat. Falta só educar e criminalizar quem deliberadamente põe em risco um dos mais belos e extraordinários animais que este planeta pode observar.
Sendo a LETRA "O" designada para os esxemplares nascidos em 2017;
ResponderEliminarseria interessante dar uma lógica de continuidade a muitos dos nomes existentes...
Olimpo. Osiris. Olga. Olivia. Oman. Oviedo. Orgulho. Orvalho. Orquídea. Oki. Oscar. Oprah. Oriol. Odin. Oneida. Omar. Oihana. Oriana. Oriel. Olaf. Olya. Olena. Olimpia. Ondina. Odilia. Opal. Okelani. Orangel. Olive. Opalina. Oni. Oma. Oke. Otelo. Ofelia. Olujimi. Oceania. Ottar. Oliana. Oran. Odilon. Ovidia. Onella. Obi. Olaja. Orestes. Osahar. Oline. Orion. Olexa. Onora. Oba. Orva. Oxa. Oberon. Otylia. Odion. Ottah. Obama. Orabela. Estes são alguns nomes de inspiração histórica e mítica!
Valiosíssima análise de dados! Parabens e muito obrigada!Só uma correção. A data da morte do Kentaro e 15 de Outubro de 2016 e não Maio. Grande abraço
ResponderEliminarMuito mas muito obrigado pela correcção sobre Kentaro (com tantas datas e dados baralhei a que eu não queria), vou emendar de imediato. Fiz igualmente, uma actualização sobre os atropelamentos mortais em 2017 e sobre a tabela de nascimentos e sobrevivências das crias em 2017.
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