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ILI PIKA, UM CASO COM 33 ANOS!


Ili Pika... 
Um estranho coelho!



Fiquei alguns dias na dúvida, se devia ou não, escrever um artigo sobre este surpreendente e estranhamente belo animal. Pensei nos prós e contras, se seria benéfico ou não, e se seria atitude mais correcta enquanto acérrimo defensor do conservacionismo… Porém, quero acreditar (e porque o que escrevo também não tem o alcance necessário) que o impacto deste trabalho não ponha em causa o já frágil estatuto de preservação deste magnifico pequeno mamífero.

Acima de tudo, vou tentar direccionar a minha intenção e preocupação, mais no sentido da importância que reveste hoje em dia, perturbar o menos possível os locais onde a biodiversidade e as espécies existentes coexistem com muitas dificuldades de sobrevivência. O Ili Pika é um raro e desconhecido herbívoro pertencente à ordem dos “lagomorfos”, que incluem a família (Leporidae) dos nossos conhecidos coelhos e lebres, como também as diversas espécies de “Pikas”, que fazem parte de uma outra família: os “Ochotonidae”. Os Pikas conhecidos e ainda existentes habitam sobretudo as regiões montanhosas da Ásia e do Norte da América. E muitas já foram as espécies que se extinguiram ao longo dos últimos milhares de anos. O Ili Pika é um animal descoberto há muito pouco tempo, muito recente e quase anónimo. Pouco se sabe sobre ele… E eu diria que, por um lado ainda bem mas que adiante explicarei.

Antes de entrar na ecologia típica deste animal, na sua taxonomia, pois sobre a etologia pouco se pode detalhar senão algumas alusões a determinados pressupostos destes animais… Quero principalmente, focar-me na sua breve história conhecida:

Ili Pika foi descoberto como a maioria dos casos de animais, mais evasivos, em habitats que poderemos considerar geograficamente inóspitos. Encontrado; por casualidade, por acidente. A sua existência foi dada a conhecer apenas em 1983, registada posteriormente em 1986. E esta descoberta devemo-la a um cientista e conservacionista do “Xinjiang Institute for Ecology and Geography”, o Dr. Weidong Li (hoje aposentado, mas mantendo a sua equipa a trabalhar na conservação deste animal). Li estava há altura a fazer um trabalho de terreno sobre recursos naturais e no levantamento da recolha de elementos para a prevenção de doenças (algo que não consegui saber em pormenor, apenas pressuposições), nas montanhas Tian Shan no noroeste da China, dentro da província de Xinjiang. Nesta altura, e a uma altitude considerável, nas montanhas de Ili Prefecture; (como ele próprio disse: a tentar recuperar o folego), reparou a uma certa distância entre as saliências rochosas, na cabeça de um pequeno animal felpudo emergindo com umas pequenas orelhas peludas e redondas. Observou e fotografou este animal e ainda outro ao seu lado durante bastante tempo; surpreso pela aparição de uma espécie que desconhecia. A partir deste momento, passaram-se três anos de dedicação à pesquisa desta espécie desconhecida (até 1986). A partir desta data o misterioso animal nunca mais foi visto, ou talvez numa ocasião em 1990. Depois disso, desapareceu de vista da equipa que se manteve em campo a trabalhar na sua conservação. Diversos censos e registos foram levantados, mas os mais significativos pela importância dos resultados ocorreram em 2002, 2003 e 2005. Onde foram sempre e apenas encontrados vestígios claros, como: marcas de pegadas e excrementos.



Li e a sua equipa de conservacionistas, procuraram ao longo destes quase 24 anos, manterem as informações e os dados sobre a espécie o mais longe do conhecimento público. Sabiam pelos vestígios, que os sinais foram desaparecendo dos locais identificados com presença e residência da espécie nas várias montanhas circundantes da região. A conclusão levou-os a considerar ao fim de uns anos o seu desaparecimento em cerca de 57% do território original. Sendo que parecia certo a extinção em alguns dos locais assinalados (sul das montanhas Jilimalale e Hutubi, nas regiões de Jipuk, Tianger Apex e Telimani Daban). Evidencias foram localizadas em 6 dos 14 locais estudados. Todavia, extinto em duas das seis regiões identificadas e populações em declínio em 3 das 6 regiões. Somente restavam os vestígios de sustentabilidade em Bayingou. Isto de uma população calculada no inicio dos anos 90, em perto de 2.000 indivíduos. As razões são ainda desconhecidas. Uma provável alteração climática e a crescente exploração agrícola à procura de novas fontes de pastoreio do gado podem ter afectado drasticamente o seu habitat. Uma população pouco dispersa mas bastante fragmentada, concentrada numa região com uma área geográfica restritiva, com características muito especificas comportamentais, leva também a que condicione a expressão demográfica das espécies… a mortalidade e a baixa taxa reprodutora são causas que associadas ao resto podem igualmente ter conduzido a uma estimada diminuição do Ili Pika na ordem dos 50 a 60% dos efectivos desta população. Na verdade, só foram observados, efectivamente, 29 exemplares durante todo o trabalho de estudo da espécie; o resto das estimativas são baseados em vestígios e sinais deixados no terreno e extrapolados para cálculos.


Percebesse o porquê, de manter sob um secretismo, os dados e a informação sobre este animal, por parte de Weidong Li e da sua equipa. Eu faria exactamente o mesmo! Tendo em conta aquilo que se pode ler e a informação disponível, teremos de acreditar que hoje, provavelmente, restarão menos de 1.000 exemplares. Menos do que o próprio Panda-Gigante, símbolo máximo da preservação da vida selvagem.


Por força do destino. Em 2014, Li, o mesmo cientista, quando se encontrava na mesma região com um grupo de voluntários em pesquisa, voltou a deparar-se com um Ili Pika. Conseguindo algumas fotos sob uma alegria enorme. 24 anos depois, o que é extraordinário… Tanto para a ciência como para o incansável trabalho desta equipa. A notícia foi viral. O objectivo agora tornou-se claro com esta redescoberta; criar uma área protegida de conservação para esta espécie.

Uma grande questão põe-se perante estes factos. O que fazer? Se por um lado é fundamental para uma melhor implementação de medidas de protecção e preservação da espécie… Conhecer: o real número do tamanho da população deste animal, a sua distribuição exacta, factores tendenciais de riscos e revitalização da espécie, como a sua etologia mais precisa e comportamento biológico e ecológico. Só assim se pode traçar com rigor um plano (que aparentemente não existia) de recuperação do Ili Pika. Por outro lado, sabemos que, quando as espécies apresentam uma forte ameaça de extinção, a intervenção humana pode inadvertidamente (por factores imponderáveis e associados) potencializar o aceleramento do seu desaparecimento. É uma decisão urgente e necessária, que de uma forma ou de outra preconiza riscos elevados.


Weidong Li aponta para o local onde viu
a primeira vez o Ili Pika
Com a resiliência e a devoção de mulheres e homens que acreditam no seu trabalho em prole da conservação, muitas espécies têm sido poupadas a uma prévia e condenada extinção. Em Portugal temos exemplos disso. Não se pode desistir e deixar que o destino decida o caminho. É o papel de todo e qualquer conservacionista; lutar conjuntamente pela sobrevivência das espécies. Mesmo tendo que usar o cliché habitualmente útil para estas questões: Os nossos filhos e netos ou gerações vindouras merecem e têm direito de puder partilhar o seu mundo na companhia de todos os animais; porque não do Ili Pika!

Só a titulo de nota, e fica apenas como comentário: Foi dado a conhecer na comunicação social, o Ili Pika, com nomes que podem ser sugestivos demais e de potencial risco… O “Coelho Mágico” (The Magic Rabbit) ou “Teddy Bear”. Não o promovam assim, porque esta não é a melhor maneira de divulgar uma espécie ameaçada. Há sempre outras formas de difundir uma notícia e defender ao mesmo tempo o interesse daquele que é visado. Este cuidado, é aquele que está em melhor consonância com a inteligência e com o saber humano.

Falemos então agora, quem é: o “Ili Pika” ou o “Ochotona iliensis”…


Classificação cientifica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Lagomorpha
Familia: Ochotonidae
Género: Ochotona
Espécie: Ochotona iliensis (Li & Ma, 1986)

Estatuto de conservação: (EN – Em Perigo)

Como disse antes, é um pequeno mamífero endémico do noroeste da China (conhecida somente no Borohoro Shan em Xinjiang), que habita em montanhas entre os 2.800 e os 4.100 metros de altitude. Num ambiente já por si, agreste. De hábitos diurnos, pode ter alguma actividade nocturna. Revestem, por norma, o seu espaço territorial com pequenos montes de erva. Construindo as suas tocas ou usando as pequenas fendas rochosas das montanhas e falésias para tocas mais protegidas (no fundo como outros “Pikas”). São seres, ao que parece, bastante vulneráveis ás alterações climatéricas e a perturbações ambientais.  



Com uma morfologia idêntica há de um coelho, mas de orelhas pequenas e redondas. Com um porte mais desenvolvido do que as outras espécies de “Pikas”. A coloração é de um pêlo brilhante e de tonalidade colorida. A cor do corpo é cinzenta, mas varia com pequenas manchas entre o vermelho e os tons cor-de-ferrugem ou tons mais acastanhados. Com maior evidencia na parte superior da face, e na parte superior do crânio (numa cabeça também ela de cor acinzentada), como também de ambos os lados do pescoço. Mede em média uns 20 cm. Deve pesar umas 250 gr ou um pouco acima. Alimenta-se fundamentalmente de ervas, plantas típicas das montanhas e vegetação rasteira. Contudo, existe uma curiosidade que o diferencia das outras espécies de “lagomorfos”; devido às condições excepcionais do seu habitat, pode alimentar-se de qualquer coisa que apanhe que seja comestível. Não sendo certo e sem dados sustentados, supõe-se que tenham entre uma a duas crias. Os dados existentes dizem que parece que expressam um tipo de comunicação através de gestos como o espiar ou espreitar e postura corporais. Não há a certeza, se emitem algum género de vocalização; os tais 29 elementos registados não permitiram chegar a alguma conclusão.




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