OS
LOBOS DO VELHO DO MUNDO: DA EUROPA À ÀSIA.
“The Wolves from the
Old World”
Mais uma
vez… os Lobos. Agora do velho mundo, no velho continente, da Europa à Ásia.
Mais uma vez, subespécies em risco, tal como, mais uma vez a eterna polémica e
controvérsia entre a diferenciação de uma boa parte destas subespécies; e as
entidades oficiais e cientificas a divergirem sobre a sua efectiva existência
enquanto subespécies distintas ou não, onde a pequena variação genética parece
não ser suficiente ou conclusiva para que haja um consenso claro sobre a
especificidade destes animais. Percebo ou entendo que tenha que haver rigor e
base cientifica para que não existam duvidas na sua classificação cientifica,
mas creio que para defender a espécie e a sua subsistência, em caso de
indefinição, seja preferível considerar e arriscar na variável de subespécies
distintas nos casos em que não há entendimento sobre a sua taxonomia final. O
facto, para mim, baseia-se fundamentalmente, no declínio das populações, na
expressão reduzida destas, na geografia complicada do ponto de vista do
conflito humano, e na prevenção da miscigenação entre subespécies quando não
existem certezas ou podermos estar a sobrevalorizar efectivos populacionais que
podem não existir. Os factores morfológicos que hoje são evitados como
elementos ou componentes destas variações da espécie, devem ser tidos como
determinantes nestes casos, pois características morfológicas distintas podem
estar por detrás de variantes desconhecidas no próprio gene destas subespécies,
que por alguma razão não foi possível ainda determinar. Tal como a etologia (os
estudos comportamentais) podem acrescentar alguma diferenciação entre todas as
populações de lobos existentes na Europa ou Ásia.
Depois, de
trabalhos e estudos sobre os lobos do ártico, os lobos-cinzentos do continente
americano, da extinção de algumas subespécies, do nosso lobo-ibérico, fica aqui
uma viagem pelos lobos do velho mundo. Com praticamente, visitadas a maioria
das variações de lobos, deixarei para fim, um ou outro caso mais discutível (lobos-africanos)
e principalmente, os artigos sobre o Lobo-mexicano, e o Lobo-vermelho. Mais
tarde, tenciono abordar a questão do Dingo, enquanto subespécie.
Os
Lobos do Velho Mundo…
Lobo-Árabe (Canis lupus arabs)
Arabian
Wolf, Canis lupus arabs /1775. Esta subespécie
povoou grande parte da Arábia, distribuído que estava pela chamada Península
Arábica. Hoje é apenas encontrado em pequenos locais, de países como: Israel (a
sul), Jordânia, Arábia Saudita, Omã ou Iémen, e a sul e ocidente do Iraque,
outros estudos indicam a sua presença também no Egipto (na Península do Sinai).
Trata-se de um lobo bastante ameaçado, devido à sua etologia e distribuição; os
criadores de gado e agricultores têm sido os seus maiores inimigos; desde o
abate, envenenamento às armadilhas, tudo é tentado para evitarem qualquer
prejuízo. Pelo que sei, em Omã são protegidos e a sua caça é proibida, talvez
por esta razão, seja uma das regiões em que as populações crescem e se
estabilizem. Em Israel (onde a população deverá ser inferior a centena e meia
de indivíduos) e na Arábia Saudita também estão ao abrigo de protecção em
certos locais. Sabe-se que nos Emirados Árabes Unidos foi extinto, contudo,
existe um programa de reprodução em cativeiro e que leva à sua protecção… o
mesmo registo acontece no Egipto. Um lobo de porte bastante pequeno, com uma
altura até aos ombros de 63-66 cm e pesando em média somente, 18 Kg. Apesar de
ser considerado o mais pequeno dos Lobos-cinzentos, ainda sim, é tido como o
maior canídeo da Arábia. Com uma pelagem entre o cinza e o bege, o pelo é curto
no verão e estações quentes, e mais longo e denso no inverno ou nas estações
frias. A particularidade da sua morfologia, reside nas orelhas grandes e bem
desenvolvidas em relação à proporcionalidade do crânio. Os olhos também parecem
apresentar por vezes uma pequena característica diferenciadora; como é natural
na espécie em geral os olhos são amarelos com pupilas negras, só que nesta
subespécie, surgem frequentemente espécimes com olhos castanhos, o que poderá
indicar ancestrais com cruzamentos/miscigenação de cães selvagens ou
silvestres. São animais nocturnos, predominantemente. Com uma grande adaptabilidade
ao seu meio ambiente. As alcateias são raras, fora do período de acasalamento;
quer dizer que só ocorrem em geral, entre Outubro e Dezembro. Um facto que
poderá se inverter, no caso de grande abundância de presas, o que não é de todo
frequente. Não sendo um predador de grande porte, as suas presas também não são
grandes: pequenos cervídeos, cabras selvagens ou mesmo domésticas, roedores em
geral e repteis, os insectos e cadáveres são uma das alternativas perante a
escassez ou a oportunidade. Perante a necessidade e quando a fome aperta, a sua
adaptabilidade leva-o a procurar frutos e plantas… um predador omnívoro. Um
outro facto etológico desta subespécie são os abrigos, que devido ao calor e às
temperaturas altas, fazem buracos ou covas na areia para se protegerem da
radiação solar. Caçando, normalmente, durante a noite, quando as temperaturas são
mais baixas e a actividade das suas presas é maior. As ninhadas são em geral de
apenas de 2 a 3 crias, todavia, em condições excepcionais podem chegar a uma
dúzia, o que é de qualquer forma, invulgar. Só por volta dos 2 meses são
desmamadas, começando nessa altura comer carne regurgitadas pelos progenitores.
Estudos recentes, de 2014, indicavam que esta subespécie está mais próxima do
Lobo-cinzento-eurasiático do que do Lobo-Iraniano ou do Lobo-Indiano, apesar da
sua aparente morfologia parecer indicar o contrário e da eventual hibridização
com cães-selvagens, silvestres ou domésticos (não se sabe exactamente, se é ou
não um factor genético). Mais uma vez, os investigadores, discordam sobre as
subespécies (quem é quem?); em Israel e nos territórios palestinianos há quem
aponte que a norte da região judaica, os lobos são Lobos-Iranianos e a sul
destes territórios as populações são de Lobos-Árabes (por serem de menor porte,
e de pelo mais escuro e denso), como há quem defenda que são ambas populações
deste último. Como as alcateias são pequenas e as populações concentradas numa
única região encontram-se dispersas, os riscos de conservação são obviamente,
elevados. Estatuto é: EN – Em Perigo.
Lobo-Indiano (Canis indica)
Indian
Wolf, Canis indica /1831 e não Canis lupus pallipes (Lobo-Iraniano),
como inicialmente se prossupunha. Hoje são consideradas duas subespécies
distintas. Correctamente, seria, Canis
lupus indica, tendo em conta que é vista como uma subespécie do Lobo-cinzento,
conhecido mesmo por Lobo-cinzento-indiano. Há teorias que referem mesmo que
esta subespécie teve no passado uma relação genética com o Lobo-Iraniano. Contudo,
muitos ou a maioria dos estudos como outras fontes de informação continuam a
conjugar as duas subespécies como uma única, o que dificulta a identificação
das especificidades, da etologia ou da exacta morfologia diferenciadoras destas
subespécies. Este é na realidade um dos grandes problemas associados à
taxonomia de certas espécies. Partindo do prossuposto desta separação, ou mesmo
que na eventualidade de ela não existir biologicamente, os dados aqui serão só
aqueles que para mim são mais credíveis. Considerando que, até, a tipologia
comportamental e de subsistência, para além da sua morfologia, seja similar à
do Lobo-Iraniano, distinguirei por isso, os dados em cada uma das subespécies,
não repetindo a informação. Este lobo parece abranger países no Subcontinente
indiano como: Butão, India, Irão, Nepal, Israel, Líbano, Paquistão, Turquia,
Afeganistão ou a Arábia-Saudita, e eventualmente a Síria, mas sem dados que
possam ser confirmados. Não havendo um censo possível, a estimativa não é
científica, mas os números apontam para uma população na maior parte do
subcontinente indiano de 2.000 a 3.000; calcula-se que na Turquia este número possa
ascender a mais do dobro. Com uma estrutura morfológica semelhante à dos outros
Lobos da Europa, este apresenta uma compleição bastante mais pequena, parece
que inferior a qualquer das subespécies existentes do Lobo-cinzento (com
excepção do Lobo-Árabe, que é muito menos pesado); pesando em média cerca de 25
Kg. A pelagem é acentuadamente clara e curta para uma melhor adaptabilidade ao
clima quente, radiação solar e ao meio ambiente do Médio-Oriente predominante
em geografias semiáridas e desérticas. De tons que variam entre o
cinza-avermelhado e um vermelho esbatido com tons acinzentados, no dorso
apresenta uma tonalidade mesclada com uma faixa negra mais densa. A parte
inferior dos membros tende a ser ainda mais clara, quase branca em alguns
exemplares. Já foram descritos lobos-pretos, apesar de muito raros, tanto na
India como no Irão, não havendo relação directa nesta mutação com a
hibridização de cães domésticos ou selvagens. As crias nascem entre meados de
Outubro e o fim de Dezembro, com a pelagem castanho avermelhado claro e com uma
mancha branca no peito, que vai desaparecendo à medida que vão crescendo. As
alcateias são em geral pequenas, não ultrapassando os 6 a 8 elementos, podendo
inclusive, residir apenas no futuro casal reprodutor. Uma das curiosidades
associadas a esta subespécie, parece estar na pouca comunicação vocal entre os
seus elementos, o uivo que é tão típico na espécie raramente foi observado
nestes lobos. A vida desta subespécie na relação com o homem ao longo dos anos
tem sido muito conflituosa; mais de 100.000 lobos foram abatidos entre finais
do século XIX e a primeira década do século XX; como resultado dos ataques
muitos deles fatais causados por este canídeo, números que ascendem a alguns
milhares, e que continuam a ocorrer, pelo menos de acordo com os registos até
há 10 anos atrás ainda se verificaram ataques mortais. A história e a cultura
estão ligadas a esta subespécie, tanto na mitologia local hindu, em produções
artísticas na antiga Pérsia, ou igualmente, como acontece por exemplo, no livro
fabuloso e inesquecível de Rudyard Kipling: “O Livro da Selva (The Jungle
Book). O seu estatuto de conservação é idêntico ao do Lobo-Iraniano; EN – Em
Perigo.
Lobo-Iraniano (Canis lupus pallipes)
Iranian
wolf, Canis lupus pallipes /1931, as
referências aqui deixadas vêm da minha opção por considerar esta subespécie
distinta do Lobo-indiano. Baseado acima de tudo nas pesquisas de um estudo
sobre mitocondrial do DNA no Lobo-Indiano, e que objectivamente, o separam do
seu “primo” iraniano e o diferenciam de todos os restantes lobos. O habitat é
geograficamente geminado com algumas das regiões povoadas com este último,
talvez mesmo partilhado em alguns dos locais mais áridos do deserto ou
semiáridos; zonas que são características e habitacionais destas subespécies,
para além das florestas ou matagais mais densos. O Norte de Israel,
Afeganistão, Turquia, Arábia Saudita, Paquistão e o Irão fazem parte da
geografia onde reside o Lobo-Iraniano. Algumas pequenas populações são
referenciadas ao longo do subcontinente indiano. Como esta subespécie
dispersa-se por um largo conjunto de países do Médio Oriente, torna-se difícil
precisar o número destas populações e saber-se exactamente, ou mesmo que
aproximadamente, quanto indivíduos existirão desta subespécie; mais complicado
é quando permanece uma associação directa com o Lobo-Indiano. Estudos indicavam
que existiriam cerca de 400 indivíduos na India, enquanto em Israel deverão
rondar os 150/200 a 250/300 exemplares, números menores serão os do Irão ou na
Turquia. Os dados dos investigadores indicam que estas populações têm vindo a
decrescer ao longo dos últimos 100 anos. As armadilhas ou as caçadas não são os
únicos factores que têm contribuído para este declínio, a perda do habitat e a
progressão urbana e agrícola das terras também têm sido determinantes para a
dispersão das populações, a diminuição das suas presas (também elas sujeitas à
caça pelo homem devido a parca condição humana destes povos) mais tradicionais
também acaba por ter um forte impacto na sobrevivência destes animais; aumenta
o conflito lobo-homem, que acusam os lobos de invasão de zonas urbanas, tanto
pelo lixo como por atacar os animais domésticos vulneráveis (facto mais uma vez
discutível, pois as evidências não são esclarecedoras, dado que existem
matilhas de cães-selvagens ou silvestres mais perigosas e que não mostram
receio do homem como o lobo). Os estudos confirmam uma grande adaptabilidade a
diferentes tipologias geográficas, o que acaba por influenciar o comportamento
e as necessidades de cada população. Em habitats arborizados, as alcateias (que
podem variar entre 5 a 14/15 elementos, as ninhadas geram em média 3 a 5 crias,
dos quais os progenitores cuidam até cerca dos 6 meses) ou indivíduos errantes…
dependem de condições e de presas diferentes, disponibilidade de animais de
maior porte, e as próprias alcateias de efectivos em maior número (estes lobos
possuem uma estrutura mais robusta) … do
que dependem aqueles, que se adaptaram a terrenos secos ou a dureza desértica e
semiárida. A dieta é variada e consoante a disponibilidade ou oportunidade; à
falta de presas maiores como gamos ou veados, os ratos ou esquilos e outros
pequenos mamíferos fazem parte da alimentação, tal como as codornizes ou
perdizes e outras aves terrestres, e por fim, na falta destas alternativas,
sobra o gado doméstico quando as medidas de prevenção não foram tomadas. É um
canídeo com uma altura que vai dos 63/63,5 cm a 100-101-102 cm. Pesando entre
os 25 aos 31/32 Kg. Para além do seu pelo curto, devido ao clima, não possui
subcamadas de pelo, e tem uma característica de realce imediato; as orelhas
grandes e amplas, permitindo assim um arrefecimento mais rápido da temperatura
corporal. A sua longevidade no seu habitat não ultrapassa os 8 a 10 anos,
podendo chegar no máximo aos 15 anos; em cativeiro, dadas as condições, pode
ultrapassar os 16 anos e chegar mesmo aos 20 anos. O IUCN classifica-o como: EN
– Em Perigo.
Lobo-das-Estepes (Canis lupus campestris)
Steppe Wolf, Canis
lupus campestris /1804. Conhecido
também como Lobo-do-Mar-Cáspio ou Lobo-Caucasiano. Este é outro dos casos, em
que a taxonomia não é unanime entre os cientistas. Canis lupus bactrianus, Canis
lupus cubanensis ou Canis lupus
desertorum, são algumas das classificações cientificas que têm gerado
discussão, mas que se encontram reconhecidas como sendo todas elas a mesma
subespécie, apesar das dúvidas em relação a algumas ditas ecomorfologias (onde
sobressaem os aspectos relacionados com o meio ambiente e as características da
morfologia dos seres vivos). Tal como o inverso, também aconteceu em relação ao
Lobo-Tibetano (conhecido igualmente como Lobo-da-Mongólia, Canis lupus chanco), que por engano foi associado a este lobo. Esta
subespécie habita as regiões ou países que circundam tanto o Mar Cáspio como o
Mar Negro. Encontrando-se bastante circunscrita a áreas remotas na zona do
extremo sudoeste da Rússia e parte do Norte do Mar Cáspio. Um habitat que passa
pelas estepes do Cáspio, dos Montes Urais, o Sudoeste da Federação Russa, o Sul
do Cazaquistão, possivelmente em algumas zonas do Afeganistão e Irão, e
esporadicamente ainda pode ocorrer na Roménia e Hungria. Um lobo que apresenta
um porte menor do que o tradicional Lobo-cinzento, contudo, pode pesar entre os
35 aos 40 Kg. De pelo curto e disperso ou desalinhado, mas espesso ou grosso, a
tonalidade da sua pelagem é de tons cinza-ferrugem, por vezes, acastanhado, com
uma mescla de pelos negros mais acentuada na zona dorsal. Na Ásia central os
exemplares, surgem em tons mais avermelhados. A cauda parece ser menos farta
que o habitual nesta espécie. Dada a geografia ambiental, a sua dieta não é
selectiva, pode caçar qualquer presa que esteja disponível. Uma particularidade
(que não é exclusiva, mas frequente) nesta subespécie, é o facto de caçar
isoladamente, quando não o faz junto com a alcateia (na escassez de presas
maiores); facto corrente, nos lobos errantes, e que por norma, podem causar
maior danos nos efectivos do gado doméstico, o que provoca um aumento e agravamento
nas relações com o homem. O veado-vermelho, corças, esporadicamente javalis,
roedores, lebres, marmotas, e outros pequenos animais, tal como peixes, fazem
parte da sua alimentação mais regular; por vezes, podem recorrer a bagas e
frutos. O período de acasalamento surge entre Janeiro e Abril. Após uma
gestação cerca de 63 dias, as ninhadas nascem por volta de Maio e Junho; em
média entre 4 a 7 cachorrinhos. Como é típico nesta espécie, toda a alcateia
toma parte nos cuidados com os novos elementos. Apesar das batidas já não serem
permitidas, a verdade é que a titulo particular o abate continua a ser feito. O
estatuto de conservação local é considerado: EN – Em Perigo
Lobo-Tibetano (Canis lupus chanco)
Tibetan
Wolf, Canis lupus chanco /1863. É uma
subespécie cheia de designações (e indefinições); não só cientificas como de
nomes comuns: Canis lupus chance e Canis lupus laniger ou Lobo Mongol (ou
Lobo-da-Mongólia) e Lobo Chinês, são algumas das designações conhecidas. Pela
proximidade geográfica, até há bem pouco tempo, os cientistas não faziam
distinção entre estas populações e as populações de lobos existentes na região
dos Himalaias ou do norte da India; apesar de hoje, alguns estudos defenderem a
separação destas populações como subespécies diferentes do Lobo-cinzento, e mais
uma vez, deparamo-nos com uma outra controvérsia sobre as subespécies do
Lobo-cinzento-eurasiático. Porém, testes filogenéticos feitos não há muito
tempo dão o Lobo-Tibetano como distinto do Lobo-dos-Himalaias, devido aos
resultados da análise do mitocondrial no DNA destas duas populações. O seu
habitat abrange regiões florestais e desérticas ou montanhosas como: o Tibete,
o centro da China, a Manchúria, o sudoeste da Rússia, o norte da região dos
Himalaias da India, o Nepal ou mesmo o Butão. De porte médio, mas robusto, aparenta
ser um pouco menor que a generalidade do Lobo-cinzento-eurasiático, a
particularidade está nos membros mais curtos do que é habitual; a sua altura
ronda os 68 cm a 76 cm. O comprimento da ponta do focinho à cauda, é de 147 a
165 cm. O peso pode variar entre os 29/29,5 kg e os 31/32 kg. A pelagem é farta
e dita desgrenhada ou revolta, com tonalidades mescladas que vão do branco,
amarelo, cinzento claro, castanho ou preto. Só por volta dos 2 anos atingem a
maturidade sexual, e o período de acasalamento dá-se em geral no decorrer da
Primavera. Como é natural nesta espécie só o macho e a fêmea dominantes destas
alcateias podem acasalar. As crias, de 4 a 6 cachorrinhos, nascem 60 dias após
este período, por norma ainda até ao final da época primaveril. Muito
dependentes, somente abandonam ou se afastam das tocas onde nascem, 3 a 4
semanas depois. Estes cuidados mantêm-se até aos 3 meses de idade, altura em
que já conseguem acompanhar os progenitores na procura de comida. Como um dos
mais eficazes predadores que se conhece, possuem uma capacidade de
sobrevivência e, como já referi, uma adaptabilidade a qualquer condição ou meio
ambiente, o que lhes permite, diversificar facilmente a sua dieta (é claro que,
para uma melhor garantia da sua sustentabilidade e do grupo, a preferência vai
para presas de maior porte, assegurando assim melhores condições de
sobrevivência da alcateia), por isso; os veados, o Carneiro-azul ou outros
ungulados de médio-porte são a sua fonte de energia, contudo, o rigor das
estações obriga-o, perante uma maior escassez destas espécies, a procurar
pequenos mamíferos ou roedores; entre eles lebres, esquilos-terrestres,
marmotas, ratos e outros. Como grande parte das subespécies de lobos do
velho-mundo, também esta, tem um estatuto considerado ameaçado: EN – Em Perigo.
Lobo-Himalaio ou Lobo-dos-Himalaias
(Canis himalayensis / Canis lupus himalayensis)
Himalayan
Wolf, Canis himalayensis /2009. Uma
taxonomia provisória, pois ainda não há uma decisão cientifica relativa a este
lobo; foi dada por cientistas indianos que a indicam como uma espécie distinta
do Lobo-cinzento. Canis lupus
himalayensis, é uma outra possível designação, dado que, há biólogos que
entendem que esta é igualmente, uma subespécie do Lobo-cinzento. Há teorias que
o apontam com a mais antiga linhagem e pureza de todos os lobos, o que a ser
verdade, é preciso agir em estudos o quanto antes (ao que parece não possui
qualquer marcador genético associado aqueles marcadores que são conhecidos nos
cães domésticos e que fazem parte do DNA de todos os lobos). Podem ser
elementos fundamentais para se entender melhor a evolução da espécie lobo; só
nesta região do subcontinente Indiano são conhecidas pelo menos três linhagens
distintas: o Lobo-indiano, o Lobo-tibetano e o Lobo-cinzento-eurasiático, o que
nos pode dar dados importantíssimos sobre a evolução deste canídeo. Supondo que
se trata de uma filogenética diferente, todo o processo de conservação e
estudos biológicos e genéticos como a sua própria etologia tem que ser
urgentemente desenvolvido, de forma a preservar este animal; em termos
ecológicos, é preciso avaliar o impacto deste predador em todo o ecossistema
habitacional, tal como a sua interacção na biodiversidade existente, incluindo,
perceber como funciona na partilha territorial com outros predadores (como o
Leopardo-das-neves ou a Raposa-dos-himalaias). Pelos dados existentes, já à
partida, sabe-se que se encontra muito ameaçada. Nos dados que recolhi, a sua
situação é muito preocupante, calcula-se que esta pequena população de lobos
não ascenda a muito mais do que 350 indivíduos. É um animal que habita
altitudes muito elevadas, que vai desde a região dos Himalaias ao planalto do
Tibete, com um território cerca de 70.000 km2. No subcontinente Indiano, povoa
o Norte de Jammu e Caxemira até ao estado de Himachal Pradesh, e Uttarakhand.
Uma pequena população de 30/33 exemplares foi observada no deserto elevado e
montanhoso de Spiti Valley na região das altas montanhas dos Himalaias, entre a
Região Autónoma do Tibete e o nordeste de Himachal Pradesh, na India. Desde
2000, que a India, tenta a preservação e a conservação pela reprodução em
cativeiro, em quatro Parques Zoológicos (ex: no Darjeeling Zoo ou no Kufri Zoo,
e no Parque Zoológico dos Himalaias: Padmaja Naidu, na região de bengala
ocidental). Parece que, há também informação sobre pequenas alcateias (8 grupos
espalhados por três localizações diferentes, constituídos pelo casal reprodutor
e as suas crias, entre 3 a 4 juvenis) no Nepal, entre Upper Dolpa e Upper
Mustang; mas aqui estas alcateias encontram-se fortemente ameaçadas, pois o
conflito entre agricultores e animais é constante, e ao que parece no caso do
lobo, os aldeões não têm qualquer compensação oficial como acontece na
depredação do Leopardo-das-neves (mais uma razão para as entidades entrevirem
com a maior brevidade possível). Em termos morfológicos, há certas
características que permitem diferenciar as várias subespécies desta região do
continente; a mais evidente entre estas populações centra-se nas dimensões do
crânio e na sua forma mais ou por vezes menos alongada; nesta espécie ou
subespécie é maior e apenas inferior ao dos lobos do continente americano e ao
lobo comum europeu, os caninos também são maiores do que as subespécies do
subcontinente indiano ou árabe (porém, idênticos ao tibetano), as patas também
são maiores e mais robustas, a pelagem predominante dessas subespécies é
acastanhada, enquanto o lobo-dos-himalaias é esbranquiçado (garganta, peito,
abdómen e o interior dos membros), o focinho é mais longo e marcado por manchas
de pelos negros nas faces até aos olhos e orelhas. É maior que os seus “primos”
desta região, pesando aproximadamente 35 Kg. As alcateias são pequenas, e
incluem somente as ninhadas nascidas em cada estação de procriação, e que podem
variar entre 4 a 6 crias, que se mantêm com os progenitores que cuidam deles
até um ano e meio e os dois anos de idade; após este período abandonam o grupo.
As suas presas em geral, são roedores e lebres, mais acessíveis neste tipo de
geografia. Uma das suas particularidades curiosas, é o uivo; ao que conclui, a
frequência sonora é mais baixa ou aguda e de menor duração, tal como variado e
distinto, em relação às restantes subespécies de lobos (excepto, das
subespécies africanas, que parece ser idêntico). Com todos estes dados
indicando a sua vulnerabilidade e risco de extinção, o seu estatuto na India é:
CR – Em Perigo Critico.
Lobo-Eurasiático, Lobo-Cinzento ou
Lobo-Comum
(Canis lupus lupus)
Gray Wolf, Canis
lupus lupus /1758. Esta
é a subespécie de referência do Lobo-cinzento. Um canídeo de porte poderoso que
faz dele um dos mais eficazes predadores que a vida selvagem já conheceu. Habita
as regiões das florestas da Europa central até às estepes da Rússia.
Considerado o maior dos lobos do velho mundo, da chamada Eurásia. Com um pelo
mais curto do que os Lobos do Norte da América, mas farto e denso em relação
aos seus “primos”; apresentam uma tonalidade pouco homogénea; castanho claro ou
creme, branco, cinzento-claro, preto, avermelhado ou cor-de-ferrugem, e com uma
certa frequência, os exemplares podem exibir uma mistura destas diferentes
pelagens; característica especifica é a mancha branca na garganta comum a
muitos espécimes (são raros os melanismos conhecidos, tal como, indivíduos
albinos); curiosidade particular, é o diferente uivo perlongado e harmonioso
que os lobos eurasiático produzem em relação a outros lobos do velho continente
ou dos seus congéneres da América do Norte (mais sonoro e intenso no início). Um
animal que, dependendo das regiões que habita e devido ao meio ambiental e da
sua biodiversidade, pode alcançar dimensões variadas, sendo que, os espécimes
mais a oriente, nas regiões da República Russa, mostram um porte mais robusto.
Em geral, esta subespécie e de uma forma transversal, tem um peso que vai dos
31/32 Kg aos 58/59/60 Kg (a média situa-se nos 39/40 Kg), e o comprimento varia
dos 100/101 cm aos 160/165 cm, com uma altura até aos ombros/omoplatas de 95 a
98/99 cm; tendo em conta que estes dados são para os machos, as fêmeas são
sensivelmente mais pequenas, com valores inferiores de 15 a 20% da compleição
dos machos. Nas regiões russas, estes dados são ligeiramente maiores ou mais
constantes; com pesos médios idênticos e arredondados entre os 32 e os 50 Kg,
um comprimento dos 105 aos 160 cm, a altura é constante nos 80 a 85 cm; porém
alguns exemplares chegam aos 80 Kg, sabe-se que em meados do século passado,
depois do final da 2ª. Guerra Mundial, um lobo foi morto na Ucrânia com pouco
mais de 86 Kg… outros dados não confirmados falam em animais com pesos entre
91/92 a 95 ou 96 Kg. O facto é que não é fácil estimar valores homogéneos e
congruentes. Outros estudos parecem indicar que no norte da Europa, nos países
nórdicos, como na Escandinávia, estes exemplares são ainda mais encorpados, com
uma massa muscular bem desenvolvida. É difícil concluir, dados exactos, quando
estes animais ao longo dos tempos cobriram quase todas as regiões da Europa e
da Ásia; muitas vezes sobrepondo os seus territórios sobre as restantes
subespécies de Lobo-cinzento, espalhados pelo velho mundo. A dimensão dos
territórios destas populações e das suas alcateias, também, varia sobretudo,
das condições que dispõe; seja das circunstâncias climáticas e geográficas,
como da abundância de presas ou água disponível, pois estes são os grandes factores
da sua versátil adaptabilidade a qualquer meio ambiental. Sendo, para mim, e
para a maioria dos conservacionistas, provavelmente, o mais eficaz predador
existente, a sua sobrevivência está ligada à capacidade de caça; seja em
numerosas alcateias, pequenas alcateias, ou isoladamente… as suas presas também
variam bastante da oportunidade, mas são os cervídeos ou bovídeos que perfazem
grande parte da sua dieta, e quando escasseia, são os roedores e pequenos
mamíferos, peixes que colmatam as suas necessidades; tal como outras
subespécies, podem complementar estas exigências com o gosto que têm por frutos
e bagas. Devido às suas poderosas mandibulas, à sua força e velocidade quase
incansável, à persistência, à organização de grupo, os Gamos, as Renas,
Muflões, Camurças, Cabras Selvagens, Veados, Alces ou Bois-Almiscarados,
incluindo, Saigas e Ibex, até um bovídeo de grande porte como o
Bisonte-europeu, tornam-se presas vulneráveis; nas regiões mais florestais ou
arborizadas os Javalis ou Corços são também alvos de perseguição. Claro que,
com esta capacidade predatória, é natural que, o gado doméstico nas pastagens,
acaba por ser vitima, com regularidade, do ataque destes animais; o
desequilíbrio das populações de ungulados selvagens faz aumentar a
probabilidade da incursão do lobo em locais agrícolas e de agro-pecuária ou de
actividade humana significativa. Causas que levaram à sua extinção na maioria
dos países do norte da Europa (Reino Unido em 1786, na Suécia em 1966, na
Dinamarca em 1772, na Noruega em 1973, na região da Baviera o último lobo foi
abatido em 1847, na Finlândia a população chegou a estar reduzida a pouco mais
do que 140 indivíduos, na Suíça no final do século XIX, tal como no centro da
Europa o declínio desde do século XIX têm sido drástico, na região do Reno
acabou por se extinguir mesmo no final do século XIX: em 1899, na Alemanha
desapareceu por volta de 1904, na Bulgária nos anos 60 a população foi reduzida
a 300 animais e hoje encontra-se provavelmente extinta, na Roménia há dados que
indicam cerca de 2.800 abatidos num ano, situação idêntica ocorreu na Grécia,
na antiga Jugoslávia, na Eslovénia). Este ciclo, acaba por ser ligeiramente
controlado no final do século XX, com a protecção da espécie em algumas destas
regiões, todavia, as populações ao longo do centro e norte da Europa até
território russo, estão fragmentadas, só ocorrendo de novo em alguns destes
países, com alcateias errantes. É verdade que a Polónia, tem feito um
importante trabalho na protecção desta espécie, criando mesmo corredores com os
países vizinhos, e sabe-se hoje que mais de uma dúzia de alcateias habitam
terras germânicas. A realidade é que permanece extinto ainda em países como:
Bélgica, Áustria, a Dinamarca, Reino Unido, Irlanda, a Holanda ou a Suíça;
apesar de alguns sinais, num ou outro país, não passam, eventualmente, de
movimentações temporárias. Infelizmente,
é dos poucos animais selvagens, para os quais as medidas de conservação e
protecção são muito brandas por parte das entidades oficiais dos estados
europeus, e como parece evidente os organismos de preservação das espécies
ameaçadas não têm força nem autoridade suficiente, mesmo que ao abrigo da União
Europeia. Uma das medidas que deveria ser aplicada na forma de lei transversal
em toda a Europa, era a proibição absoluta do abate durante o período de
acasalamento e amamentação das crias… e que ocorre nas latitudes baixas ou de
climas moderados a partir de Janeiro e de Abril, a meio da época primaveril,
nas regiões mais altas e mais frias, se juntarmos a isto o período de gestação
nestas duas épocas que é de dois meses (61 a 63 dias), quer dizer que, para
protecção e conservação do Lobo-Eurasiático, pelo menos na primeira metade do
ano, precisava de garantias e adoção de medidas que levassem a penas pesadas de
forma a evitar que esta subespécie desapareça de vez da Europa, ou seja, de um
dos centros mais “civilizados” da humanidade. Lembrando que a esperança média
de vida deste lobo… em liberdade, medeia os 7 a 10 anos, o que não é uma vida
propriamente, longa. Como nota adicional sobre esta subespécie, o designado
Lobo-Russo (Canis lupus communis), parece
que não existe, os estudos não conseguem determinar se estamos perante uma
variante do Lobo-cinzento (associado às florestas da Rússia ocidental), e não
está hoje classificado oficialmente como subespécie… certamente, fará parte de
uma população do Lobo-Eurasiático localizada naquela região. Até porque, se
considerarmos os estudos da “Red List”, efectivamente, só duas subespécies são
aí classificadas: O Lobo-Ibérico e o Lobo-Italiano, todas as outras são aceites
como sinónimos do Lobo-cinzento-euroasiático. O estatuto de conservação do
Lobo-Comum não é fácil de definir, o IUCN considera-o: LC – Pouco Preocupante.
Lobo-Italiano (Canis lupus italicus)
Italian
Wolf ou Apennine Wolf (devido aos montes Apeninos em Itália, onde ocorrem as
maiores populações), Cannis lupus
italicus /1921. Contudo, no final do Século XX, em 1999, os mais recentes
estudos levam-nos a crer que estamos perante uma espécie própria, a qual foi já
atribuída, inclusive, uma nova designação cientifica: Canis italicus. Mas, como vem sendo habitual, os dados ainda se
mostram inconclusivos, o que até hoje permite manter esta subespécie como uma
variação do Lobo-cinzento. Associado por natureza aos Montes Apeninos, pode
vaguear até às proximidades urbanas como a cidade de Roma, onde já foi observado
nas matas que medeiam a capital. Hoje, o seu território tem-se alastrado; a
necessidade de alimentação levou-os a regiões como o sul de França (ao Parc
Nacional du Mercantour) ou a áreas mais restrictas em populações fragmentadas
na Suíça. Por ser considerada uma espécie (subespécie) ameaçada, os países
(Itália, França e Suíça) envolvidos com estas populações resolveram decretar a
sua protecção ao abrigo de um programa de preservação do lobo pela Convenção de
Washington em 1973 (com a sua inclusão no Apêndice II), e posteriormente, pela Convenção
de Berna em 1979, (com a sua inclusão no Anexo II), ambos relativos às espécies
potencialmente ameaçadas. As populações em Itália (nos Montes Apeninos e na
região da Toscânia) decresceram significativamente, até finais dos anos 70 do
século passado, afectados pela perseguição de que são alvo. A sua extinção
chegou mesmo ocorrer em regiões como os Alpes e a Sicília. Outro dos factores
que fazem sempre temer os conservacionistas no caso de espécies em risco, é a
pureza genética; os lobos estão pela sua natureza e semelhança expostos a um
risco maior de alterações hibridas (miscigenação) com cães selvagens ou mesmo
outras subespécies de canídeos que povoem regiões limítrofes. Estudos até à
primeira metade da última década (2004), o Lobo-Italiano era considerado a
subespécie com maior pureza genética de todos os lobos cinzentos da europa; só
recentemente foram encontrados (em Siena) casos em que ergos (5º dedo, típico
no gene dos cães) na morfologia destes lobos. A perseguição e a redução
territorial também influenciaram o decréscimo populacional da espécie; só nos
anos 60 cerca de 400 lobos foram abatidos neste período, no início dos anos 70
calculava-se que existissem cerca de 100 indivíduos, mas só na década seguinte
as populações começaram a crescer, estimando-se que a sua evolução terá chegado
perto dos 220-250 exemplares. Nos anos de 1990, estas populações terão
duplicado. Já no decorrer deste século, acredita-se que esta contabilidade leve
a crer que deverão rondar ou perto disso, os 600 lobos italianos na natureza;
com estudos a indicar um crescimento previsível de 7 a 8% anualmente. Hoje pode
ser encontrado ao longo da faixa central de Itália, em regiões como a Sul da
Calábria ou o norte ocidental do país. Em França a população encontra-se
circunscrita e não deverá ultrapassar a meia centena de indivíduos, e é pouco
provável que evolua no bom sentido; os conflitos com os agricultores e
criadores de gado é latente, e isto na sequência de um relatório que mostrava que
entre 1994 e 2003, o número de ovelhas mortas passara de 200 para 2.200, para
além de um ataque a um homem grave; as leis hoje procuram proteger os
agricultores desde que as medidas não ponham em risco a espécie. Na Suíça, a
primeira alcateia que ali se fixou, só ocorreu em 2012; antes disso, só
ocorrências pontuais e transitórias; soube que apenas um macho ali se fixou no
ano de 1994, sendo abatido em 1996… o que nos deixa uma espectativa baixa de
sucesso, pois a variedade genética é difícil e o contacto com outras populações
imprevisível, apesar da espécie ter voltado em 1987 a povoar e a transitar os
Alpes… facto que não ocorria há mais de 100 anos. Mas que lobo é este? Trata-se
de um canídeo de porte médio, que pode variar o seu peso entre 24/25 e os 35 kg
nos machos (só casos muito excepcionais poderão rondar os 40 kg, e aqui já não
serão animais de porte médio), as fêmeas revelam um porte sensivelmente mais
baixo na ordem dos 10 a 20%. O
comprimento, com a excepção da cauda, varia entre os 110 e os 140 cm, ao passo
que a altura até aos ombros ou espadua fica-se pelos 50 cm ou no máximo perto
dos 70 cm. A coloração da pelagem varia entre cinzento e o castanho, e só
recentemente foram observados espécimes de pelagem negra e apenas na região da
Toscânia; constituindo hoje, talvez, 20 a 25% de toda a população de
lobos-italianos. A época de acasalamento regista-se por norma em meados de
Março. O período de gestação das fêmeas dura como é habito cerca de 60 dias (2
meses). Mas o número de cachorrinhos que nascem parece dependerem da maturidade
ou idade das progenitoras (claro que, os efectivos de presas também influenciam
as ninhadas), o que faz com que variem entre os 2 e as 7/8 crias. Pesando entre
as 250 e as 350 gramas quando nascem, frágeis e vulneráveis, só abrem os olhos
ao fim de 12 dias. O desmame ocorre entre os 35 e os 45 dias, ao fim de mês e
meio. A carne só passará a ser a sua alimentação integral por volta dos 90 a
120 dias de idade (3 a 4 meses). Os jovens ou sub-adultos permanecem junto da
família, pelo menos, até atingirem a idade para constituírem as suas próprias
alcateias ou integrarem novas, ou ainda dispersarem como animais errantes. Os
grupos, em geral, são constituídos somente, pelo par reprodutor, as crias da
última estação e a ninhada da presente época (todavia, estas alcateias podem
ser constituídas entre 6 a 7 animais adultos ou semi-adultos em média); o que
difere da maioria das alcateias do Lobo-cinzento, que sempre que é possível
procuram organizar alcateias numerosas. A razão fundamental, tem a ver muito
com a sua etologia, com a geografia do seu território, e o tipo de presas
disponíveis (principalmente, presas de grande porte). A dieta desta subespécie
centra-se, com natural preferência, por animais que lhes deem maior possibilidades
de subsistência: Javalis, Cervos ou Gamos, Veados ou Corços, e Camurças são as
presas preferenciais; em situações de menor densidade das populações destas
presas, os roedores, as lebres e coelhos podem colmatar parte das necessidades;
isto se tivermos em conta que alimentação ideal diária prevê de 1,5 a 3 kg de
carne. Apesar de não ser estranho, a erva, plantas e bagas estão entre as suas
necessidades alimentares mais fibrosas. O seu estatuto de conservação está
classificado como: VU – Vulnerável.
Lobo-da-Tundra (Canis lupus albus)
Tundra
Wolf, Canis lupus albus / 1792. Subespécie do Lobo-cinzento endêmica do Norte
da Europa e das regiões nórdicas da Ásia. Encontrada desde o Norte da Finlândia
até ao extremo norte da Russia, passando pela Península de Kamchatka, na região
mais oriental já junto ao Oceano Pacifico. Porém, hoje extinto, no norte do
Ártico e em muitas das suas ilhas nesta região polar, incluindo, o norte da
Sibéria. Só recentemente, foram vistos na ilha russa de Wrangel, na Sibéria
oriental. É um animal majestoso, e de uma beleza impressionante, tal como, uma
das maiores subespécies conhecidas do Lobo-cinzento. Com um comprimento, em
geral, do nariz à cauda, de 120 a 138/140 cm nos machos; há registos que
indicam cerca 200 cm a 210/213 cm. O peso oscila entre os 45/50 Kg e os 56/57
Kg (nos espécimes maiores), apesar de registos não confirmados, indicarem
exemplares com 99 Kg (que me parece manifestamente, bastante exagerado). As
fêmeas são sensivelmente mais pequenas, não ultrapassando muito os 35-40 Kg. A
tonalidade da sua pelagem vai do cinza, preto, passando por uma cor de
ferrugem, até ao magnifico manto de pelos, cor de cinza prateado. Este manto macio
é farto e espesso, próprio para as condições climáticas do extenso habitat
nórdico; possuindo duas camadas de pelo. Infelizmente, devido a sua beleza e ao
seu porte (que faz dele um predador de respeito), é alvo de uma perseguição
desmesurada, de dimensões exterminadoras, sem paralelo na vida selvagem. Aliás,
o seu abate é permitido e alimentado pelas autoridades, sem quaisquer limites,
na maioria dos estados Russos, mesmo em qualquer altura do ano, incluindo no
período de acasalamento e procriação. O governos locais e organizações de caça
chegam a oferecer cerca de 200 dólares por cada lobo morto, e estas caçadas
faziam e continuam a fazer parte da cultura russa há séculos. Na realidade, é
uma das regiões do planeta, onde a vida selvagem é mais ameaçada e perseguida,
e a prova está na situação de conservação em risco de extinção em que se
encontram os grandes predadores desta região, como outras espécies de
carnívoros, cervídeos ou bovídeos. Como se trata de um lobo de grande porte, a
sua dieta centra-se em grandes ungulados; veados, wapitis, alces, caribus, muflões
ou cabras-da-montanha, bisontes-europeu, e incluindo bois-almiscarados,
dependendo da região povoadas por estas alcateias. Como nem sempre as caçadas a
este tipo de animais é bem-sucedida, ele precisa de se alimentar com grandes
quantidades para sobreviver durante longos dias sem comer; é possível que
consuma cerca de 9 a 10 kg de carne numa caçada. Os Caribus ou Renas são o
grande alvo, dado que se deslocam em grandes manadas e por um território vasto,
mas os rebanhos domésticos desta espécie também podem ser vitimas na escassez
ou oportunidade, no verão as fêmeas e as crias deste cervídeo são as presas
mais vulneráveis. Dada as condições climáticas, as suas presas podem passar por
aves terrestres, pequenos roedores, lebres, ou mesmo pequenos predadores como a
Raposa-do-Ártico e outros mamíferos. O cio é curto, e as fêmeas estão
receptivas apenas durante uma semana a quinze dias. A época de corte e
acasalamento dá-se só por volta dos finais de Março, um pouco mais tarde do que
é comum nesta espécie, e dura até Abril; este comportamento deve-se ao natural
instinto animal, evitando ao máximo o rigor do inverno nas tundras árticas.
Porém, a gestação é idêntica às restantes subespécies; cerca de 60 a 63 dias.
As ninhadas variam bastantes; de 2 a 6 cachorrinhos nascem em geral, no principio
do verão. Apesar do seu estatuto ser considerado pelas autoridades locais como:
LC – Pouco Preocupante, a verdade é que, como qualquer subespécie do
Lobo-cinzento, a sua preservação é de risco elevado, e por isso, vulnerável ou
mesmo em perigo de extinção.
Lobo-de-Hokkaido (Canis lupus hattai)
Hokkaido
Wolf, Cannis lupus hattai ou Cannis lupus rex /1931. Conhecido também como Lobo-Ezo ou
ainda Ezookami. Supõe-se que descenda dos Lobos siberianos, mas existe também a
possibilidade de descender directamente do Lobo-cinzento da América do Norte,
mais concretamente das populações do Alasca e que tenha migrado há 10.000 anos para
a Ásia através do Estreito de Tsugaru durante o período da última era glaciar.
Originário da ilha japonesa de Hokkaido, mas igualmente, de locais como: a ilha
russa de Sakhalin, da Península Kamchatka ou ainda das ilhas do arquipélago de
Kuril (Iturup e Kunashir). A sua morfologia e as suas dimensões caracterizam-se
nas suas semelhanças com os mais comuns Lobos-cinzentos- eurasiáticos, apesar
das naturais comparações feitas com um outro lobo de tamanho menor das regiões
do Sul; o Lobo-de-Honshu ou Lobo-Japonês. Elementos estes que nos fazem
questionar se a sua existência não é muito mais recente do que a do seu “primo”
de Honshu, que se estima que tenha chegado a estas regiões há cerca de 14.000
anos. De porte semelhante ao lobo-cinzento, de crânio bem desenvolvido e presas
(caninos) longas e curvas, as patas robustas três vezes maiores que um cão de
grande porte, a tonalidade do pelo está associada a cores que variam entre o
cinzento claro e o cinzento. Na caça, tanto poderia fazê-lo isolado ou
juntamente com a companheira, há mesmo registos que através do vestígio de
pegadas que também poderia ocorrer em grupo de cinco ou mais elementos. A sua dieta calcula-se que variasse pouco
devido ao habitat circunscrito onde ocorreria; veados ou gamos (Veado-Vermelho
ou o Veado-de-Hokkaido; um cervídeo de grande porte, mas ambos extintos),
coelhos e aves deveriam ser as suas presas mais comuns. Porém, o
desenvolvimento industrial da ilha, a escassez de alimentos nas últimas décadas
do século XIX, as condições climáticas, e principalmente, o eterno conflito do
homem com estes animais; as batidas estabelecidas e o uso da estricnina como
veneno num programa das autoridades oficiais para se livrarem desta espécie e
protegerem o gado, os rancheiros e o desenvolvimento industrial… levou à sua
irradicação em poucos anos. O destino factídico do Lobo-Ezo (Ezo quer dizer
“Estrangeiro” em Japonês) dá-se entre 1968 e 19012, durante o reinado e as
políticas de destruição ambiental do Imperador Meiji, que os declarou animais
indesejáveis. A história destes lobos está directamente associada ao povo
“Ainu” que habitava o norte da ilha de Hokkaido, que os venerava e os
considerava deuses poderosos (descritos nos mitos, no folclore e nos poemas da
sua cultura), um respeito levado ao extremo (que os levava a matarem este
animal de forma dolorosa e brutal, como glorificação do seu estatuto(?)), ao
qual lhe atribuíam muitos nomes sagrados. Apesar dos relatos do seu avistamento
ao longo dos anos, esses sinais nunca foram confirmados. Foi dado como extinto
(EX-Extinto) em 1889.
Lobo-de-Honshu (Canis lupus hodophilax)
Honshu Wolf, Canis
lupus hodophilax /1839. Também
conhecido vulgarmente por Lobo-Japonês. Os nomes são vários: Cão das Montanhas,
Lobo-de-Hondo, Yamainu. Habitante das ilhas de Honshu, Shikoku, Kyushu. Como um
dos nomes indica, era um predador das montanhas, das áreas mais remotas. Um dos
dois lobos conhecidos no Arquipélago Japonês; o outro já foi referido: o
Lobo-de-Hokkaido. De acordo com alguns registos, de todas espécies e
subespécies, esta era a mais pequena delas; contudo, a taxidermia dos
esqueletos comparados, revelam que as dimensões dos crânios e mandibulas ou dos
molares e pré-molares são superiores aos do Lobo-árabe. Todavia, outra
circunstância, pode afectar este estudo e a investigação sobre este lobo;
falamos da hibridização com cães-domésticos (raças como o Husky Siberiano ou o
Akita), visto que os estudos genéticos revelaram que partilhava o mesmo haplótipo
(cromossoma) que estes cães, o mesmo aconteceu com outros estudos sobre o
mitocondrial do DNA e a “pool” ou conjunto genético de alelos únicos que
determinam uma espécie… o que parece, dificultar a taxonomia desta subespécie;
conduzindo a dúvidas que chegam-nos a levar a crer que pode ser mesmo uma
espécie única ou mesmo a pensar que nem um Lobo seja. Com pouco mais de 30 cm
até aos ombros ou omoplatas. Cerca de 89/90 cm do nariz à cauda. A pelagem
indicava um pelo curto e fino, e uma cauda pouco densa e muito mais típica de
cão pequeno. As pernas eram, igualmente, curtas, na relação com o que parecia
ser a volumetria do seu porte. Vitima, aparentemente, da caça movida
oficialmente pelo governo das prefeituras japonesas onde habitava, ou
teoricamente, também, vitima da destruição e redução do seu habitat, ou ainda,
de acordo com alguns registos, da introdução dos coelhos silvestres na região e
que fizeram com que se expusesse mais aos agricultores; parecem ser um ou
todos, factores, que levaram ao seu desaparecimento. Apesar, do seu porte ser
menor do que a maioria dos lobos-cinzentos, suspeita-se que fosse um predador
de topo, e as suas presas era animais de grande porte como: veados ou javalis. O
último exemplar morto e conhecido data de 1905, na vila de Higashi-Yoshino, na
Província de Nara. Hoje restam da sua existência, 8 peles conhecidas desta
subespécie, e cinco espécimes embalsamados, espalhados por museus de história
natural (um na Holanda, 3 no japão e um outro no Museu Britânico em Londres). A
cultura e a mitologia, os contos e o folclore japoneses estão enraizados de
referência ao lobo nesta região do Japão. Infelizmente, os sinais da sua
existência são muito raros e praticamente não chegaram ao nosso tempo. Contudo,
ao longo dos anos, muitas referências e relatos evocam sinais e avistamentos de
animais que se tentam associar ao Lobo-de-Honshu, mas todas as investigações
foram infrutíferas, e nunca nenhum destes sinais se conseguiram confirmar. Para
todos os efeitos, o seu estatuto é considerado… Ex – Extinto.
O LOBO É DOS ANIMAIS MAIS EXTRAORDINÁRIOS DE TODA A FAUNA MUNDIAL. A IMPORTÂNCIA DESTE ANIMAL NO EQUILIBRIO DA BIODIVERSIDADE E DOS ECOSSISTEMAS É DETERMINANTE PARA O FUNCIONAMENTO DE TODA ECOLOGIA DA VIDA COM SUSTENTABILIDADE. POUCAS PESSOAS TÊM A NOÇÃO DO IMPACTO NA VIDA DA TERRA CASO SE DESSE A EXTINÇÃO GLOBAL DESTA ESPÉCIE. MESMO A SUA REGRESSÃO EM TERMOS DE POPULAÇÕES É JÁ HOJE UMA CONSEQUÊNCIA DESASTROSA PARA O EQUILIBRIO ZOOLÓGICO E ECOLÓGICO EM TODAS AS REGIÕES ONDE ELES AINDA HABITAM. E A VIDA HUMANA INDIRECTAMENTE SERÁ UMA DAS MAIS AFECTADAS... SE NADA FOR FEITO NA SUA TOTAL PRESERVAÇÃO, O TEMPO O PROVARÁ!
Por aqui vemos a dramática realidade, com dados de há vinte anos atrás... do "nosso" Lobo-Ibérico... em pouco mais de 50 anos era esta a imagem! |
https://criancas.uol.com.br/novidades/2011/08/02/conheca-o-lobo-que-vive-na-america-do-sul-e-nao-tem-nada-de-malvado.htm
ResponderEliminarApesar de não ser um lobo, é uma excelente referência! Tanto no Brasil este animal, como em Portugal com o Lince-ibérico as ameaças são muito semelhantes, e os seus estatutos de conservação são igualmente, de risco. Ambos têm que ser ajudados no processo de conservação.
Eliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=1yxMkYLoSOM
ResponderEliminarConheço o Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) há muitos anos. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de ver um ao vivo.
EliminarMas o video está muito bom, e é bastante pedagógico. Obrigada pela lembrança e cuidado.