CONSERVATION & HABITATS IN LISBON ZOO
O Zoo de Lisboa na Conservação e nos Habitats…
Antes de iniciar este artigo, quero deixar aqui uma nota muito particular, que salienta um facto que sempre me deixou muito feliz e que tem sido determinante para mim, principalmente, nesta última década de visitas ao Zoo de Lisboa... este artigo é inteiramente dedicado ao meu neto Rafael, que tem sido o meu parceiro, companheiro e um excelente assistente, nos trabalhos de investigação e observação que venho fazendo sempre na sua companhia, e que muito me tem ajudado na recolha de elementos e também já como fotografo da vida selvagem...
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Crocodilo-do-nilo |
Como vem sendo hábito há várias décadas, as minhas
visitas anuais (no mínimo duas a três por ano), têm sempre uma finalidade objectiva no
estudo das espécies. Enquanto a terceira é mais uma visita com a família, nas primeiras do ano, procuro observar exclusivamente, os animais e as suas
condições ou o envolvimento da instituição na conservação e preservação das
espécies. Esta missão programada que imponho a mim próprio, pretende constatar
se as finalidades do parque zoológico estão a ser cumpridas naquilo que é a
defesa da vida selvagem em cativeiro e nas prorrogativas que hoje são
vinculadas a estas instituições de acordo com directrizes da EAZA (European
Association of Zoos & Aquaria) e da WAZA (World Association of Zoos and
Aquariums) ou nas orientações comunitárias. Também, serve para olhar
atentamente, os elementos que podem ser relevantes para quem visita e procura
factores importantes do ponto de vista pedagógico e conhecimento. É fundamental
que pelo menos as condições e os meios usados realcem a satisfação com que estes animais são
considerados e cuidados. Não sendo assim, os parques zoológicos são meramente
um abuso sobre os direitos a existir condignamente e com o respeito que toda a
vida merece… seja ela qual for!
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As duas crias do Tigre-da-sibéria com talvez 2 meses (era muito díficil conseguir uma boa imagem devido à protecção colocada) - Foto de Rafael Figueiredo |
Há dois elementos fulcrais para esta minha apreciação, e um
outro que poderá fazer uma diferença extraordinária, no correcto cumprimento
dos objectivos dos parques zoológicos com estas características condicionadas
pela sua inserção urbana. Falo primeiro; do tipo e das condições dos habitats
criados para qualquer das espécies existentes (sem excepções), e do trabalho
pensado para a conservação e preservação das espécies ameaçadas. O
outro elemento complementar, é algo em que o Zoo de Lisboa, mostra uma lacuna
muito deficitária; a comunicação com o seu público (de quem subsiste em larga
medida).
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Uma imagem reveladora dos Macacos-do-japão, na célebre Aldeia dos Macacos |
Depois das quatro visitas o ano passado, é a primeira vez este ano que visito o Jardim
Zoológico, com a finalidade única de observar e perceber como estão
considerados ou organizados os habitats das espécies que compõem o parque, depois do ano passado ter feita várias incursões neste sentido. Esta
questão sempre foi para mim fundamental. Hoje, as normativas europeias e
directivas das organizações de conservação que superentendem estas questões,
determinam que para todas as espécies em cativeiro um dos elementos chaves é a
sua integração num espaço de vida adequado (que contra a sua vontade lhe foi
destinado). O habitat é por isso, essencial, que esteja na maior sintonia
possível com aquele que seria o seu ambiente natural. Este é um dos maiores
esforços que as entidades zoológicas têm de fazer, para que o bem estar e a
qualidade de vida seja proporcionada aos animais em cativeiro. São estas
condições que vão estabelecer a etologia destas espécies, tornando obrigatória
analogias entre padrões ex-situ e o habitat
natural, em que a própria biologia do ser acaba por ser alterada.
O Zoo de Lisboa (e vou neste momento só falar do nosso
Jardim de Lisboa, sem cair na tentação de comparações com outros parques, por muito justas que fossem para os próprios animais), tem
casos ou situações que podem ser considerados razoáveis (nunca poderão ser
próximos da perfeição, devida à sua localização no coração de Lisboa), outros
menos conseguidos e outros inaceitáveis. Podem-me argumentar que as verbas são
insuficientes, que as condições são limitadas, que se faz o que se pode; porém,
tratando-se de seres vivos e de espécies selvagens condicionadas involuntariamente
a um espaço permanente exíguo, o melhor que se pode é pouco. Há sempre
alternativas, há sempre acordos possíveis, há sempre condições para os meios e
para os objectivos, nem que seja pelo desafio de encontrar soluções. Não
pretendo aqui, neste artigo, identificá-las, apenas lembrar que têm de ser encontradas.
Comecemos, então um tour pelo olhar de quem segue os parques zoológicos há quarenta anos…
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O solar dos Leões-africanos |
Vejamos o que acontece no "Vale dos Tigres"... os Tigres-de
Sumatra, Tigre-da-Sibéria ou com os Tigres-Brancos. O espaço do primeiro, o Tigre-de Sumatra (CR-Em Perigo Critico) está aceitavelmente dentro da primeira categoria que referi, o ambiente é
razoável e alguns pormenores aproximam-se da ambiência das ilhas da Indonésia (mas há
também recriações descontextualizadas). No caso de Tigre-da-Sibéria (EN-Em Perigo), os elementos deviam ser revistos, são animais que
precisam de espaço e de uma topologia de terreno com relevos acentuados mais
adaptados (biomas semelhantes à tundra), é o maior felino do mundo. O Tigre-Branco (Tigre-de-Bengala), (EN-Em Perigo),
no seu gene está um animal que habita as florestas tropicais e montanhas; e sendo estes exemplares tão singulares, o espaço poderia ter elementos que recriassem melhor a natureza e o meio indiano. No
caso destes felinos seriam mais apropriados, espaços semelhantes aqueles que os Leões-africanos têm no Solar dos leões, com as devidas adaptações. A água e a
vegetação, e elementos decorativos que lembrem o habitat são determinantes para
que sintam alguma integração; talvez as sombras poderiam ser pensadas de forma diferente. Estamos a falar de espécies, neste caso de
subespécies, fortemente ameaçadas de extinção, em que o índice de reprodução em cativeiro parece muito baixo no Zoo, nos últimos anos. Para um parque zoológico possuir estas espécies
precisa de condições, e no caso de reprodução são necessárias estruturas para
separar o macho da fêmea principalmente neste período. Esta é a realidade, para
se visar um programa de preservação das espécies… os parques têm de estar
preparados, não é só ter um ou outro exemplar, porque isto só por si não resolve a conservação e a diversidade genética destes animais. A boa notícia de 2017, foi o nascimento de 2 crias do Tigre-da-Sibéria.
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Tigre-de-Sumatra |
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O solitário Siamango |
Se olharmos, o recinto das 5 Zebras-de-Grevy (EN-Em Perigo), é um espaço triste, árido e desolador. Estamos a
falar de uma espécie em perigo de extinção que habita as grandes dimensões da
savana africana. Neste caso, divide ainda o espaço reduzido com um pequeno
bando de 4 antílopes Cobos-de-leche (LC-Pouco Preocupante)…
que se remetem para um canto do recinto e ali permanecem com pouca interacção
com o resto do espaço. Ainda por cima uma espécie originária de um bioma
completamente diferente… habitando zonas mais alagadas, pantanosas e ambientes
de lamaçais; uma espécie que tem até pouca adaptabilidade a terras secas, como acontece
no tipo de recinto onde vive no zoo. Em 2017, felizmente, fomos brindados com duas crias fêmeas desta espécie de Zebra, o que é uma excelente notícia; pode ser que a próxima seja um macho.
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Zebras-de-Grevy junto dos seus companheiros, os Cobos-de-leche |
Os Bongos (NT-Quase Ameaçada), (e
hoje não passam a meia duzia, quando no passado tivemos 10 exemplares
neste recinto) vivem num local desordenado, sem qualidade ambiental, com
algumas árvores aqui e ali. Estes animais são tímidos e pouco activos de dia, vivem
em zonas florestais, que vão de uma geografia de vegetação mais densa até ás
clareiras abertas com arvoredo e erva rasteiras, gostam de riachos e de se
refrescarem na água, no fundo ambientes tropicais. Sendo uma espécie quase
ameaçada, este é outro espaço que poderia ter um pouco mais, apesar da espécie
se reproduzir no zoo com alguma regularidade. Recentemente tivemos (acredito pelo que me foi dado a observar) um parto duplo. São animais por quem tenho um grande fascínio, desde sempre.
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Bisonte-americano |
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Búfalo-cafre ou Búfalo-africano |
Outro dos espaços que poderiam estar melhor enquadrados
com as regiões de onde são originárias as espécies que os habitam, é o local em
que se encontram os Bisontes-americanos,
o Búfalo-cafre (Búfalo-africano ou negro) e actualmente os Camelos-bacterianos (Bacteriano Selvagem), uma espécie muito ameaçada (CR- Em Perigo Critico) e que de forma inexplicável vieram substituir as Pacaças
ou Búfalo-vermelho (NT-Quase Ameaçada/cd-Dependente de Conservação), uma subespécie vulnerável
do Búfalo-africano. Os 3 locais são
exactamente iguais. Enquanto o Bisonte-americano (NT-Quase Ameaçada) é originário das grandes planícies
americanas, o Búfalo-cafre (LC-Pouco Preocupante) vive nas savanas africanas, e o Camelo-bacteriano entre os desertos e as montanhas rochosas ou zonas de estepes semidesérticas. No caso dos bisontes e búfalos, mesmo com algumas
semelhanças ou proximidades na tipologia dos terrenos os seus habitats são caracterizados por
ecossistemas diferentes. Os espaços são áridos, sem qualquer
vegetação rasteira, excepto uma ou outra árvore. Talvez por isso, encontramos estes
grupos sempre na mesma posição e nos mesmos lugares, movendo-se apenas para
comer nas manjedouras. Os búfalos em África gostam de charcos e lamaçais,
para além da erva e da terra batida entre amontoados de arvoredos secos. O espaço, hoje, de 3 Camelos até se adapta, porém, o recinto é demasiado estreito, tal como os outros, para animais de grande porte.
Um dos recintos e locais mais bem conseguidos, e que prova
como se pode construir um espaço replicando um habitat quase perfeito, é o caso
do local onde se encontram as Suricatas (LC-Pouco Preocupante).
São animais que se reproduzem com facilidade, e é evidente o comportamento
harmonioso, alegre e vivo com que interagem na habitação e entre si. Uma
comunidade bem sucedida.
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Suricatas |
Os Rinocerontes-indianos (VU-Vulnerável),
cerca de três exemplares (eram 5, mas não consegui ver os restantes), têm um espaço em termos de dimensões que considero
interessante para estes animais de grande porte. São uma espécie vulnerável,
que usa as pradarias verdejantes e as florestas alagadas da India e do Nepal
como habitat natural. Aquilo que encontramos aqui pouco ou nada tem de
semelhante, é apenas mais um espaço que precisava de maior cuidado ambiental.
As cancelas metálicas que separam um dos casais dos "restantes" são inapropriadas
e os dois tanques de água pouco eficazes para este tipo de animais. Assim como,
poderemos dizer o mesmo sobre o espaço reservado aos Rinocerontes-brancos (NT-Quase Ameaçada); um recinto com um espaço bastante razoável quando
aberto ambos lados aos exemplares existentes, já muito mais reduzido quando as
fêmeas são separadas do macho ou existe uma cria ou o macho é junto a uma das
fêmeas. Existe um compartimento gradeado que penso que seja pensado para separar algum exemplar, macho ou não. O pequeno lago está geralmente seco e as condições das duas áreas do
recinto são diferentes. O espaço foi concebido para os exemplares usarem-no na
sua amplitude e requisitos que possui.
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Arara-azul-e-amarela no Templo Madail |
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Arara-escarlate no Templo Madail |
Uma das zonas do zoo que menos me agrada, que menos
preocupação parece revelar por parte dos ambientalistas responsáveis pela
adaptação dos recintos às espécies que neles vivem, são todas as zonas dedicadas
às aves. Temos várias dezenas, certamente bem mais de uma centena, de espécies de aves, algumas delas ameaçadas.
Apesar de ser evidente algum cuidado e atenção à vegetação e ao arvoredo
necessário na maioria dos casos, as “gaiolas” são demasiado pequenas para que
possam voar e saltar com frequência entre ramos mais distantes e até interagir
umas com as outras (acontece apenas em dois espaços). Esta situação é mais
grave no recinto (no dito "Aviário Madail") dedicado às Araras,
visto tratarem-se de aves com um porte razoável e asas com alguma envergadura,
para além disso são pássaros que adoram fazer voos longos e usarem as copas das
árvores… estes recintos nem vegetação têm (eu percebo que são os chamados
psitaciformes, e que devido ao bico que têm pouca coisa lhes resiste), mas são
necessários elementos que os façam interagir para além do gradeamento da
“gaiola”. Existem uma dezena de outras gaiolas com árvores e ramagens para
outras espécies de Papagaios ou Catatuas ou Faisões, porém, apesar de os elementos funcionarem,
poderiam ser mais altas e mais amplas. Em alguns casos, se fossem maiores,
incluindo, poderiam ser partilhadas por diferentes espécies. Tal como os
recintos onde se encontram os Calaus,
Tucano e Turacos, Mutums; áreas com cerca de 10 metros quadrados, onde a altura até pode ser aceitável mas apertada para aves de médio
porte. Um pouco diferente é o espaço dedica às Ibis, bastante amplo, e bem partilhado com outras espécies. A outra
zona a precisar de ser revista e que se
deve destacar pelo porte das respectivas aves, é o local reservado aos Pelicanos-brancos (LC-Pouco Preocupante), aos Grous do Japão (EN-Em Perigo) com um bom espaço mas um habitat errado para o caso dos Grous (ainda por cima com dois casais, um deles foi substituir na "goiola" o solitário Casuar (VU-Vulnerável),que aparentemente ali viveu alguns anos, mas que em 2017 tinha desaparecido e o local estava abandonado. O mesmo se aplica às Emas ou Nandus-de-darwin (NT-Quase Ameaçada), Emus (LC-Pouco Preocupante) ou ao solitário Grou-coroado-de-pescoço-cinzento (VU-Vulnerável) e que já teve companheira e crias há alguns anos atrás (ainda por cima é a minha ave favorita). Tal como o espaço dedicado às aves de rapina e ou aves
necrófagas… que não se entende, pois a área parece-me razoável em comprimento e
altura e a ambiência do habitat aceitável, parece ser a residência hoje da Águia-rabalva, mas apenas de um exemplar acompanhado por uma outra ave de rapina que não consegui identificar no local onde estava; anteriormente, já foi "casa" de Grifos e antes destes, Corujas-das-neves. Pelo que vi o outro exemplar da Águia-rabalva, encontra-se numa "gaiolita" que pressuponho que seja um local de convalescênca nos jardins do pálacio, onde se encontram outras duas aves (incluindo, um Corvo e uma outra ave de rapina) creio que a recuperar.
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Recinto das Íbis |
De uma forma genérica, diria que há espaços que precisam
de serem repensados com urgência (para que se cumpram os requisitos de habitats
condignos)...
Macacos-do-Japão (LC-Pouco preocupante), na
célebre "Aldeia dos Macacos"; não podia estar mais errada esta opção. Um
local completamente despropositado, com um desrespeito pelas mais básicas
ambiências da tipologia ambiental desta espécie, a elevação onde se encontra a
aldeia até está próxima da ideia das montanhas rochosas onde vivem, mas falta o arvoredo e um solo florestal. A piscina agora daptada não faz sentido de todo, nem mesmo os troncos e bocados de madeira pendurados recentemente nas encostas da elevação da aldeia conseguem resolver a falta de adaptação do seu ambiente natural, apesar de minimizar ligeiramente o que era em 2017, mas não era esta a mudança que esperava quando se falou numa remodulação deste espaço.
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Pinguim-do-Cabo |
Os Pinguins-do-Cabo ou Pinguim-africano (VU-Vulnerável) já tiveram melhores condições. Hoje estão reduzidos a condições exíguas e pouca actividade e a interacção quase nenhuma. Se o calor natural do nosso país não ajuda, pelo menos a
disponibilidade de pedras frias e molhadas e de um lago suficiente grande para uma
espécie que nada grandes distâncias deveriam estar sempre disponíveis. São
animais com uma forte evidência de “desambientalização”. Só as tocas parecem satisfazê-los. Não sei se irão permanecer aqui, pois no verão do ano passado, estiveram no recinto ao lado das Focas-comuns e Leões-marinhos-da-califórnia; (ambos com um estatuto considerado: LC-Pouco Preocupante) o que foi uma enorme surpresa; só a satisfação não foi maior, porque esses mamíferos-marinhos também como muitos outros desapreceram sem deixar rasto que saibamos.
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Hipopótamo-pigmeu |
Os Hipopótamos-pigmeus (EN-Em Perigo) são outra das espécies com muito poucas preocupações por parte da instituição.
De hábitos reservados e noctívagos, esta espécie habita as florestas tropicais,
zonas pantanosas e lagos ou grandes charcos. Pouco ou nada tem de semelhante
com o local onde vive este casal; um lago com cerca de 30 m2 divido a metade
grande parte do ano para separar o macho da fêmea, o que leva a uma constante apatia e distanciamento do local a que estão confinados.
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Órix-do-cabo ou Órix-austral (Foto de Rafael Figueiredo) |
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Impala-de-face-negra (Macho) - Foto Rafael Figueiredo |
Alguns apontamentos fotográficos tirados pelo neto Rafael, sobre algumas espécies, como sobre prespectivas dos seus habitats, enquanto eu filmava um pouco mais demoradamente, a interacção dos Pandas-vermelhos no seu habitat, ou com a sua tratadora no momento da alimentação.
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Impala-de-face-negra (foto Rafael Figueiredo) |
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O novo recinto de Sitatungas |
A situação bem aplicada, de resultados positivos em
termos geográficos e de um habitat mais ou menos bem conseguido como aquele em
que habitam os Aix ou Chital (LC-Pouco Preocupante) e os Veados-da-Birmânia (EN-Em Perigo); seria o ideal para outros cervídeos, como a “VU-Vulnerável”
Impala-de-face-negra ou espécies da
família dos Bovideos como: Oríx-austral ou do cabo (LC-Pouco Preocupante),
Elandes (NT-Quase Ameaçada ou cd-Dependente de Conservação) ou Palancas (Negras/LC-Pouco Preocupante e Ruanas ou Vermelhas/cd-Dependente de Conservação) com habitats muito comparáveis (ainda no final do ano passado eram 4 as palancas-negras, hoje resta um casal). Por
outro lado, era necessário a edificação de um habitat com características mais
específicas para os Adax (com quase uma duzia de membros) e os Oríx-de-Cimitarra (apenas 6 individuos, isto porque acabamos por desconhecer o paradeiro das crias que vão nascendo) , dado que são animais
de regiões desérticas ou semiáridas, para além que o primeiro encontra-se em
“CR-Perigo Crítico” e o outro “EW-Extinto na Natureza”. Tirando os dois
primeiros referidos, todos os outros espaços são idênticos; Uns de dimensões
razoáveis e outros demasiado pequenos. Recentemente, a novidade passou pelo bando significativo de Sitatungas para um novo espaço (onde se localizavam as velhas antigas instalações gradeadas dos Chimpazés), mas que nada tem a ver com o seu habitat (florestas densas, zonas pantanosas, e leitos de rios extensos), são animais solitários e esquivos que gostam de água e de nadar. Os antílopes Nialas; uma espécie estável na natureza, e com pequenas caracteristicas semelhantes aos Sitatungas, (porém de familias diferentes; estes últimos são cervídeos, enquanto os Nialas são bovídeos) habitam territórios em que o habitat não difere muito um do outro, excepto neste último caso, prolonga-se até às abertas savanas africanas; e como disse ambas as espécies têm um estatuto considerado de baixo risco, somente (cd) dependente de conservação. Por fim, os Órix-da-arábia (VU-Vulnerável ou EN-Em Perigo), que tinham um pequeno bando, deixei de os ver nesta última visita, e falamos de um antílope que já esteve extinto na natureza que foi salvo devido aos programas de reprodução e reintrodução no habitat, hoje o seu recinto está ocupado pelos Adaxes.
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Duas imagens do recinto dos Chimpanzés |
No caso dos diversos recintos dedicados aos primatas, os
locais vão de excelentes na dimensão até aos estreitos e pequenos como até a
gaiolas que já nem deveriam ser permitidas nem aceites pelo próprio Zoo. No "Templo dos Primatas" onde habitam 5 espécies de Primatas, os Gorilas-ocidentais-das-terras-baixas (3 adultos e uma cria),
diria até que, as condições estão bem próximas do seu habitat; ou contrário do
bando (bastante grande) de Chimpanzés-comuns,
que habita zonas florestais densas, normalmente perto de lagos ou cursos de
água (o que aqui não falta, apesar de não se puderem aventurar devido à electrificação de segurança), interagindo fortemente com factores essenciais nestes habitats como o solo, a
água e as árvores. Ambas ameaçadas de extinção; a primeira “CR-Em
Perigo Crítico” e a segunda “EN-Em Perigo”. Mesmo possuindo um espaço de
excelentes dimensões, o recinto paralelo do Orangotango-de-Sumatra
está muito desajustado a esta espécie; são primatas que habitam o topo das densas florestas tropicais mais isoladas da Indonésia, e que raramente descem ao solo.
Os Gibões-de-mãos-brancas e os Macacos-aranha-pretos, apesar de não ser
um espaço excelente, conseguem interagir nos seus espaços com bastante
naturalidade e à vontade como também mantêm um bom índice de reprodutividade.
Já não se pode dizer o mesmo do único Siamango
existente, num espaço idêntico ao grupo das duas outras espécies, porém é um
primata de grande porte como também uma espécie “EN-Em Perigo”; um isolamento já longo que precisa urgentemente de ser repensado. O Langur-de-Java e as restantes espécies
de Cercopitecos vivem todas em
recintos que já deviam ter sido proibidos e banidos de qualquer parque
zoológico; gaiolas de gradeamento e rede frontais não podem ser aceitáveis hoje
em dia quando uma instituição advoga o interesse, o bem-estar e protecção das
espécies; estes macacos são oriundos de habitats predominados por florestas
subtropicais, pantanosas a tropicais húmidas, . O mesmo ou mais grave podemos referir quanto
ao recinto gradeado dos Babuínos-Hamadrias, num espaço que permaneceu imutável
ao longo das últimas décadas, ainda para mais um bando com quase duas dezenas de elementos. O espaço dedicado aos pequenos primatas como as
diversas espécies de Saguins, está
muito bem ornamentado em termos de vegetação, humidades e chuvas artificiais;
só tem um pequeno senão… poderiam ser mais altas, mas nesse caso as protecções
teriam de ser diferentes pois o risco de acidentes ou fugirem era maior, mas está perto da harmonização que os recintos deveriam ter. Por
fim, confrontamo-nos com um dos espaços que poderia ser um dos locais de maior
atracção no Zoo: os "Lémures de Madagáscar";
infelizmente, estes recintos são dos menos atractivos, para além disso são
verdadeiras gaiolas de rede, mesmo tendo em conta algumas semelhanças, em alguns casos, com típico habitat de uma ilha como Madagáscar,
isto porque são endémicos de habitats com biomas com especificidades biológicas diferenciadas
onde as suas florestas vão desde húmidas, secas a tropicais, do interior a costa, umas
mais arbóreos do que outras, outras mais montanhosas; espécies todas elas ameaçadas e algumas em perigo
critico… penso que o bem-estar destes animais merecia algum trabalho ambiental
nos seus espaços interiores e exteriores. Já a meia-dúzia de individuos da subespécie Colobo-guereza-kikuyu (LC-Pouco Preocupante) partilha o espaço dos gorilas alternadamente (ou quando ambos fechados, num recinto demasiado pequeno) ,
o que é tão difícil de perceber, como o que acontece com o Gibão-de-mãos-brancas que se encontra
isolado no recinto dos orangotangos (este então, para mim, faz-me demasiado confusão, só se explicando talvez por ser outro macho dominante... contudo, uma parceira poderia resolver este isolamento despropositado).
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Elefante-africano |
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jovem cria de Elefante-africano |
A maior desarmonia ambiental com os próprios habitats,
está evidente com a generalização dos recintos nas poucas identificações com as
semelhanças dos habitats naturais de algumas espécies. As Girafas-de-Angola (LC-Pouco Preocupante), os Hipopótamos-comuns (VU-Vulnerável),
os Elefantes-africanos (VU-Vulnerável), no fundo a
maioria dos ungulados e paquidermes; todas estas espécies habitam aqui espaços praticamente
idênticos, quando as próprias especificidades dos seus biomas naturais divergem
na natureza do seu biótopo. Uma atenção que não permite olhar estas espécies
numa analogia da sua natureza com o seu habitat, criando nestes recintos uma relação com o cativeiro
que se torna óbvia por um comportamento sistematizado e compulsivo/obsessivo, dos índividuos destas espécies. Qualquer uma delas merecia outro cuidado, principalmente, no caso da girafa, uma subsespécie que para além do nosso Zoo, só existe ao que parece num outro parque zoológico. Tanto no caso destas como dos hipopótamos, têm se reproduzido com regularidade.
Gostaria igualmente, de ver num ambiente mais espaçoso o casal de Urso-formigueiro-gigante, uma espécie "VU-Vulnerável" que é transversal a vários tipos de ambientes geográficos. Tal como sentiria-me melhor e mais seguro, se visse o recinto do Corcodilo-do-Nilo (LC-Pouco Preocupante) transferido para o interior do espaço reservado às espécies, podendo assim, eventualmente, enquadrar um habitat com melhores caracteristicas ambientais; o desequilibrio existe na analogia entre o reduzido espaço terrestre e um lago excelente (que poderia ainda assim ter uma prespectiva do interior do lago com uma melhor visibilidade). A casa onde os animais recolhem está descontextualizada (tanta esta, como muitas outras). São animais que por vezes no seu habitat podem recolher do intenso calor, procurando buracos nas rochas, na terra/dunas ou entre as árvores.
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Flamingo-rosa |
Porém, também há casos ou
exemplos, que se aproximam de espaços mais ou menos bem sucedidos. Deixo aqui alguns desses recintos que estão perto das condições que gostava de ver para todas as outras espécies. Os 4 Pandas-vermelhos (EN-Em Perigo), as Chitas (VU-Vulnerável), os Leões-africanos (VU-Vulnerável) , os Flamingos-rosa
ou comum (LC-Pouco Preocupante); neste caso em concreto só precisavam de um lago maior e diferente, ou os Ursos-pardos (LC-Pouco Preocupante) e veados Muntjac-chineses (LC-Pouco Preocupante). A
zona dedicada aos felinos (a Encosta dos Felinos) como: o Jaguar ou Pantera-negra,
graças ao melanismo típico destes exemplares (NT-Quase Ameaçada), o Ocelote (LC-Pouco Preocupante), o Lince-euroasiático (NT-Quase Ameaçada), o Leopardo-da-pérsia (EN-Em Perigo)… são recintos
suficientemente equilibrados em termos de ambiência natural; pecam em alguns
casos apenas por serem diminutos. O Okapi (EN-Em Perigo),
apesar de se encontrar num local distante e mais isolado, mesmo sendo um
recinto excelente nas suas dimensões, não é muito adaptado a este tipo de
espécie; sendo ele um animal tímido e reservado, que vive no interior das
florestas tropicais mais densas e a uma altitude que produz uma vegetação típica
das florestas húmidas e montanhosas. Tanto os Koalas (VU-Vulnerável), como o (era um casal, mas desta vez vi apenas um deles numa dormência constrangedora num espaço suficientemente grande para um único exemplar ali perdido e que outrora foi uma população razoável, que incluía dois ou três cangurus-albinos extremamente raros,) Cangurus-de-Bennett (LC-Pouco Preocupante), possuem espaços muitos próximos das suas
necessidades ambientais. O caso que se pode dizer mais singular, tratado para
ser um local privilegiado e dotado de uma ambiência muito próxima do habitat
natural; é a Tapada do Lince-Ibérico (EN-Em Perigo) onde vivem “Azahar” e “Gamma”, os
embaixadores do reino animal ibérico.
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Urso-pardo |
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Grou-coroado-de-pescoço-cinzento |
Quanto ao Reptário, sou um pouco mais crítico. Pois, olho para este edifício/recinto como uma montra de exposição de animais. Espaços excessivamente apertados, tanto no comprimento em alguns casos ou como na altura noutras situações, para a maioria das espécies aqui existentes. Com excepção dos jovens Dragões-de-Komodo, num recinto bastante bem adaptado em termos ambientais, somente com a falha habitual no que diz respeito a água, porque falamos de um animal que habita uma ilha e que no seu ADN está uma proximidade muito grande com a costa, por onde passa parte da sua actividade territorial e predatória. Nos caso das espécies de Tartarugas aquáticas ali presentes quase que nem se conseguem mexer muito menos nadar com naturalidade. Apenas um ou outro caso está nas dimensões e ambientação mais ou menos aceitável.
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Um dos dois exemplares do Dragão-de-Komodo |
No que respeita à conservação sobre as espécies num Zoo com apenas um exemplar, é algo que tenho e sempre tive, muita dificuldade em aceitar ou mesmo compreender. Não são fáceis as premutas ou transferências entre zoológicos e envolve sempre uma logística complexa e arriscada, todavia necessária. Só que isso nem sempre acontece, com todos os espécimes existentes e disponíveis neste tipo de parques. Muitas vezes, a opção até passa por exemplares retirados da natureza pela consistência e diversidade genética, o que faz com que estes exemplares acabem por viver isolados da sua espécie. Um investimento nestes exemplares, para além de evidenciar uma falta de sensibilidade zoológica e biológica, é também um erro no investimento da preservação das espécies, como igualmente e mais grave... um desrespeito com um animal que precisa de interagir com os da sua espécie. Entre aquilo que pode ser condenável aos parques zoológicos, e muitas vezes com forte razão de ser, esta é uma situação que nem muito bem explicada consegue ter fundamentos para ser aceite. Uma coisa é quando o processo é temporário e de uma duração curta, outra é quando se mantêm estes casos por tempo indeterminado. Não quero pensar, ou quero evitar de pensar... que as razões são meramente de gestão financeira.
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Gibão-de-mãos-brancas, isolado no recinto dos Orangutangos-de-Sumatra |
Se por um lado, existem questões ambientais
com uma parte significativa dos habitats que poderiam ser melhorados por um gestor
em biologia paisagística (tendo em conta soluções onde os vidros substituissem parte ou integralmente as gaiolas gradeadas, e
principalmente, um cuidado maior com os ambientes aquáticos); então por outro lado, no que diz
respeito a comunicação o Jardim Zoológico poderia e deveria fazer muito melhor.
A identificação das espécies apesar de ser técnica e cientificamente muito boa,
está mal localizada em muitos delas e pouco visível. É fundamental que existam
placares informativos sobre o sucesso reprodutivo anual ou não, das espécies
existentes no zoo, como já houve no passado. Tal como, um placar sobre as
espécies chegadas e aquelas que o parque deixou de ter, com a respectiva
indicação do que aconteceu com essas espécies ou mesmo com exemplares específicos de espécies que de um momento para outro se encontram reduzidas.
Outro elemento informativo determinante, mesmo que menos agradável e menos
popular, é uma relação dos óbitos anuais. Espaços novos ou com uma previsão de
remodelação deveriam ser anunciados de forma a promover a espectativa dos
visitantes. Parcerias com outros parques no intercambio de exemplares no âmbito
do Programa Europeu de Reprodução de Espécies Ameaçadas (EEP), e de outros
programas promovidos seja pela WAZA ou EAZA precisam de ser divulgados com
clareza juntos de todos os visitantes. É fundamental que, exemplos como os placares informativos e pedagógicos usados no Vale dos Tigres, na Tapada do Lince-Ibérico, no Templo dos Primatas, se possam aplicar a muitas outras espécies, porque são excelentes casos de como acção de um parque zoológico pode e deve contribuir para ajudar a educar e promover o conhecimento a todos aqueles que visitam o Zoo. É preciso que esta instituição nunca
esqueça que a subsistência e a qualidade de vida ou preservação de muitas
espécies dependem do público em geral e que são estes que mantêm em grande
parte este espaço zoológico de portas abertas. Enquanto visitante e estudioso
da vida animal, sistematicamente, há mais de quarenta e cinco anos… sinto-me no direito
de apresentar este artigo como um alerta na defesa da preservação e conservação
das espécies, bem como lembrar o quanto uma boa imagem e comunicação pode mudar
a opinião mais desatenta para os riscos que correm os animais e a importância que
os parques hoje podem ter para evitar uma nova extinção em massa.
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Macaco-cauda-de-leão |
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Recinto dos Orangotangos-de-sumatra |
Sobre a minha concepção de parque zoológico, sobre as alternativas ambientais ou adaptações técnicas para uma diferente interacção entre espécies, reservarei um outro artigo mais dedicado a conservação e preservação da vida selvagem.
Como nota final: a referência à classificação e ao estatuto de conservação das espécies no artigo, serve fundamentalmente, para lembrar a situação de cada espécie na natureza, para além, de evidenciar aquelas que o risco de ameaça de extinção é considerado importante, e por isso, o papel do Zoo é acrescido de responsabilidade, tal como o nosso em olhar para estes casos com uma exigência maior.
Comecei num agradecimento, termino num tributo...
Para além das fotos do meu neto Rafael e das que se seguem do meu pai, todas as restantes são da minha autoria, tiradas e seleccionadas entre 2015 e 2018
Seguem-se algumas imagens do Zoológico nos anos 60 e princípio dos anos 70 do século passado tiradas pelo meu pai (Jorge de Figueiredo) e que faria hoje, se ainda cá estivesse, 92 anos. Foi uma das pessoas que mais me influenciou na minha paixão pela vida selvagem, e na minha dedicação à vida animal...
Estes registos também nos permitem observar como o Jardim Zoológico de Lisboa evoluiu, em "muitos" casos (outros parece óbvio, que talvez não), nos últimos 50 anos...
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