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LINCE-EUROASIÁTICO; OS OUTROS LINCES (parte 1)

LINCE-EUROASIÁTICO; OS OUTROS LINCES – parte 1

The Other Lynxs - Eurasian Lynx

Para além, do persistente sobrevivente e extraordinário Lince-Ibérico, ex-libris da fauna da Península Ibérica; quero dar a conhecer um pouco melhor, quais são as outras espécies Linces, que poderemos encontrar em diversos pontos da Terra. Todos eles no Hemisfério Norte; acima da linha do Equador.



Como disse, o Lince (do qual sou muito suspeito para falar, dado que sempre fui completamente fascinado por este animal), é para mim, o felino mais resiliente entre todas as espécies da sua família. Aquele que na sua etologia, nas suas caracterizações biológicas, maiores adversidades encontra nos diversos biomas e habitats onde vive. Como se trata de um felino de médio porte, o número e tipo de presas de que se alimenta também está limitado à variedade de espécies e às condições naturais dos seus habitats; apesar das suas capacidades excepcionais como caçador, depende fortemente de uma presa tipificada como: o coelho bravo ou a lebre comum. Para além destes já fortes condicionalismos, o facto de não ser em nenhum dos casos, um predador de topo da cadeia alimentar, secundariza-o como caçador dominante seja sobre outros carnívoros de maior porte ou inclusive de aves rapinas. Do ponto de vista patológico, também creio que está entre as mais vulneráveis desta família de animais, no que diz respeito à sujeição de doenças típicas de felinos. Não é igualmente, uma espécie muito privilegiada nos programas de conservação, promocionais ou educacionais dos parques zoológicos em geral, salvo uma excepção de que falarei um pouco mais para a frente; contudo, isto também trás pouco visibilidade ás magnificas espécies existentes de Linces.

No caso do Zoo de Lisboa, é bom salientar que temos actualmente duas espécies; que deveriam estar mais relacionadas em termos informativos e de localização… pois certamente, também iria contribuir para uma maior divulgação e atenção do nosso Lince-Ibérico.

Bom, com tudo isto, convêm agora, referir quais são as espécies de linces existentes hoje em dia e aquela que lhes deu origem há talvez dois a quatro milhões anos atrás, (mas esclarecerei melhor quando o detalhar um pouco mais).

Eis, então:
O Lince-ibérico, o Lince-euroasiático, o Lince-vermelho, o Lince-do-Canadá. Por último, o Lince de Ossoire; a espécie extinta.
Lince-euroasiático

Sobre o Lince Ibérico (Lynx pardinus / 1827)

Já escrevi alguns artigos sobre o género destas espécies. Quero voltar a ela em outras circunstâncias sobre assuntos mais amplos. Porém, as notícias recentes, do ano passado, permitem-me mudar uma das informações mais preocupantes relativas a este animal. A classificação da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que até 2015 era considerada como “Em perigo crítico” foi alterada para “Em perigo”. O que ainda não lhe retira o estatuto do felino mais ameaçado do mundo e de todos os carnívoros europeus é o que maiores riscos corre de extinção. Hoje, calcula-se que existam aproximadamente em números redondos: 400 exemplares. Acima de tudo, este importante mas ainda pequeno sucesso, deve-se fundamentalmente ao inexorável trabalho do centros de reprodução ibéricos que têm permitido a reintrodução de exemplares em cativeiro no seu habitat natural, tanto em Espanha como em Portugal. Sabe-se que este sucesso é ainda mais relevante, porque as últimas notícias provam que duas ou três das fêmeas libertadas em ambos os países já tiverem crias, o que é extraordinário para os objectivos de todos aqueles que se dedicam dia e noite para salvar esta espécie.
No entanto, ameaça que paira sobre o Lince-ibérico está longe de se resolver, e são, mais do que tudo o resto, os governos e as entidades estatais as que têm agora a maior responsabilidade… (sobre este e outros temas interligados, dedicarei em breve um artigo exclusivo).

Lince-euroasiático, a fêmea com uma cria

Sobre o Lince Euroasiático (Lynx lynx / 1758)
Este Lince é aquele com maior abrangência geográfica de todos eles. Habita numa longa mancha ao longo da Europa Oriental até Nordeste Asiático, disperso também por alguns pontos da Europa Centrla, mas com uma forte incidência na Ásia Central. No Norte da Europa mais setentrional, os países do Cáucaso, nas regiões dos Balcãs, como também nas tundras da Sibéria; seja a Ocidente como a Oriente ou mesmo no eixo do centro desta zona, é onde esta espécie se melhor adaptou.
     
Esta espécie é a maior de todas as espécies de linces, podendo atingir um peso de 17/18 a 30kg (a fêmea têm um porte menor, de uma dezena de kilos até aos 20kg ou pouco mais). Com um comprimento que pode ultrapassar 120cm; varia em média os 80 a 130cm. Quanto à típica cauda deste felinos, no caso do Lince-euroasiático é um pouco maior, e ronda os 11 e os 24cm.  Em altura, fica-se pelos 55/60cm até cerca dos 75cm. Há registos que mostram um dado particular; os indivíduos da região da Sibéria, apresentam um aspecto mais robusto, bem adaptado ao meio, chegando exemplares a pesar entre os 38 e os 45kg.



A pelagem também tem especificidades. Partilhando eles, entre as diversas espécies, particularidades comuns; o Lince-euroasiático assemelha-se mais ao Lince-do-Canadá. Chegou-se em tempos a considerar classifica-los como sendo ambos da mesma espécie… porém, a conclusão levou a identifica-los como espécies distintas, com morfologias e etologias diferentes, tal como o cômputo biológico em consequência da diferenciação de habitats associados a cada um deles, levando uma evolução de características e adaptabilidades especificas em cada uma das espécies. No caso deste lince, a sua tonalidade varia de forma significativa do verão para o inverno: Na época do calor, a cores vivas vão dos tons avermelhados e amarelados ao castanho num pelo curto, com a chegada do frio esta pelagem transforma-se em tons que vão do cinzento-prateado ao castanho-acinzentado num casaco de pelo espesso, grosso e sedoso. Os aspectos característicos são típicos neste felino: cauda muito curta preta, os tufos rijos de pelos pretos como de um pincel nas extremidades das orelhas, nesta espécie a barbicha de pelos brancos destaca-se mais do que nas outras espécies (principalmente em algumas subespécies das zonas nórdicas), os famosos manchas ponteadas são bastante variáveis, que vão desde uma cobertura bastante densa à quase ausência da sua visibilidade, isto nota-se na diversidade de pelagem das subespécies a sul em relação às do norte. As patas, mais robustas, são tradicionalmente bem protegidas nesta espécie, usando uma camuflagem suplementar que os ajuda a percorrer largos quilómetros do seu território nos períodos de maior rigor invernal.

Sendo o de maior porte e mais bem preparado dos linces face as adversidades dos seus diversos habitats, o Lince Euroasiático têm ao longo de sua extensa zona geográfica, uma variedade de presas que lhe permitem assegurar com maior garantia a subsistência da espécie. A lebre, o coelho, a marmota, o esquilo, o arganaz, outros pequenos roedores, martas e furões, camurça, javali selvagem euroasiático, jovens alces, corço, veado-vermelho, renas, tal como qualquer ave que se distraia… são uma parte substancial da alimentação desta espécie ao longo das suas diversas zonas geográficas. Enquanto no verão, dispõem de um maior número de presas, e o esforço da caça é menor, satisfaz as suas necessidades e das suas crias, com presas mais fáceis; porém, no inverno, arrisca em presas de maior porte, onde os grandes ungulados (veados e outros) lhe permitem um abastecimento alimentar mais durador.
A dependência da caça também varia com as limitações de outros predadores dominantes no seu habitat que podem ameaçar a sua vida. As alcateias de Lobos podem matar este felino num confronto desproporcional. O poderoso Glutão (também conhecido por Carcaju), é capaz de atacar qualquer animal que surja no caminho. O tigre-da-Sibéria, o Leopardo-das-Neves, e mesmo o Leopardo-comum, são adversários muito perigosos e que se não os conseguir evitar este encontros tornam-se fatais. Por isso, quando a competição com estes, e outros como as aves de rapina, o seu instinto leva-o a optar por presas pequenas e de caça rápida, de modo a se refugiar o mais rapidamente possível e afastar-se dos locais onde essas presenças sejam sentidas.
Esta espécie pode percorrer 10 a 20 km numa noite, num território que varia uma área impressionante; entre uns prováveis 20 a 250 km, dependendo da disponibilidade de presas e da diferenciação dos habitats que povoa. A fêmea, devido aos cuidados com as crias, não chega a passar os 130 km. Por norma, a sua actividade é predominantemente nocturna ou sob o entardecer ou sob a madrugada. É um predador que usa acima de tudo a técnica da emboscada, o espantoso salto na vertical no caso de presas como as aves, e a rapidez e agilidade… o que o torna um caçador eficaz com fortes capacidades de sobrevivência se as adversidades não se acumularem umas sobre as outras.

Felix lynx wrangeli, Lince-da-Sibéria-oriental

Sendo um animal solitário e evasivo, só procura outros da sua espécie no período de acasalamento, que ocorre entre Janeiro e Abril, num tempo mais extenso do que as outras espécies de linces. O ciclo de fertilidade da fêmea é muito curto e ocorre neste período do ano, mas só é receptiva durante meia dúzia de dias, aproximadamente uma semana. A gestação varia dos 50/55 dias aos 70/74 dias. Como as outras espécies deste género, a sua prole varia entre uma e quatro crias, não chegando a pesar 300 ou 400gr, muito vulneráveis durante os primeiros tempos de vida, com índices críticos de mortalidade. Tornam-se independentes entre os 10-12 meses. A maturidade sexual vêm depois: a fêmea perto dos dois anos, dos 21 aos 24 meses; nos machos só aos 30 meses.


O Lince-euroasiático foi extinto em vários países da Europa e esteve bastante ameaçado em alguns países asiáticos. A Europa ocidental perdeu toda a sua população, tal como na Escandinávia. Hoje algumas reintroduções parecem começar apresentar pequenos mas circunscritos sucessos. Contudo, muitos países nórdicos possuem leis estatais que permitem a caça ao lince, mesmo que a digam controlada. A verdade, é que são populações muito diminutas nos poucos países da Europa ocidental e que variam nuns entre os 20 e os 80 exemplares, muito poucos locais alcançam populações perto das 3 centenas. Países como a Finlândia ou a Suécia, fazem parte dos exemplos mais tristes e criticáveis, por isso o conceito de países evoluídos é tão subjectivo como enganador em termos sociológicos. Por exemplo: na Rússia (Reserva de Baikal), na Turquia, na Estónia e eventualmente em outros países do leste asiático não me surpreende este comportamento, a responsabilidade na extinção de espécies é transversal na história das espécies, mesmo com algumas medidas proteccionistas tímidas não chegam para disfarçar as barbaridades destes prazeres humanos. Sendo que, o território russo detém cerca de 75 a 77/78% de toda a população desta espécie.     

Lince-do-rio-Amur - Lynx lynx stroganovi

Mesmo com todas estas varáveis tão determinantes nesta espécie, o seu estatuto de conservação de acordo com IUCN, é considerado “LC – Pouco Preocupante”. Apesar de algumas populações se encontrarem ameaçadas ou provavelmente vulneráveis.

Ainda relativamente a esta espécie, deve-se sublinhar um facto importante. São conhecidas pelo menos 9 subespécies em diferentes regiões. Este estudo não está ainda aprovado e definitivamente classificado, longe de ser consensual, todavia os dados apontam para estes indicadores:


Lince-do-Norte  (Lynx lynx lynx /1758) na Escandinávia, na Europa do leste, na Sibéria ocidental
Lince-do-Cárpato  (Lynx lynx carpathicus /1963) nas Montanhas dos Cárpatos e Europa central
Lince-das-Montanhas-Balcãs  (Lynx lynx balcanicus ou balcanica /1941) na região dos Balcãs
Lince-caucasiano  (Lynx lynx dinniki /1915) na região do Cáucaso
Lince-do-Altai  (Lynx lynx wardi /1904): Montanhas do Altai, Leste Asiático
Lince-da-Sibéria-oriental  (Lynx lynx wrangeli /1928): Leste da Sibéria
Lince-do-Turquistão ou da Ásia Central  (Lynx lynx isabellinus /1847) na Ásia Central
Lince-de-Baikal  (Lynx lynx kozlovi /1950) na região Baikal da Russia e no sul da Sibéria
Lince-do-rio-Amur  (Lynx lynx stroganovi /1969) na região de Amur      
Lynx lynx balcanicus ou balcanica

O Lince-da-Sardanha (Lynx lynx sardinae / 1908), na ilha da Sardanha, em Itália, encontra-se provavelmente extinto. A questão recente com a indicação que poderá ser o extinto Lince-dos Alpes (Lynx lynx Alpina) que vêm nos últimos tempo repovoando esta cordilheira, levanta mais uma vez as dúvidas quanto à subespécie identificada na península italiana.
Lince-das-Montanhas-Balcãs
 
Com tentativas falhadas e outras ainda sem resultados animadores da reintrodução, ou de um ou outro povoamento natural pela espécie; o trabalho na defesa deste extraordinário animal por parte do homem deveria ser muito mais assertivo e objectivo.
Lince Cáucasiano
Por incrível que pareça, é o felino com a maior zona dispersa da Europa e da Ásia. A caça furtiva na procura insana pelo comércio de peles, a destruição das condições naturais e a desflorestação comercial das matas, a escassez de presas em diversas regiões do seu habitat e o conflito homem-animal devido a predação do gado na sua luta pela sobrevivência; são de facto os principais factores que põem em causa a estabilidade do Lince-euroasiático.




Notas curiosas:
a Macedónia tem como ex-libris, como símbolo nacional, a subespécie: o Lince-das-Montanhas-Balcãs ou Lince-dos-Balcãs.
O Lince tem uma visão amplificada 6 vezes mais que o homem.
A sua visão tanto vê a preto e branco, como imagens coloridas.
Nunca mas nunca ataca o homem. Evita-o completamente. Aliás mal se vê.
Apesar de puder atacar o gado doméstico, são considerados raros estes episódios na Europa.
A Roménia, Outubro de 2016, proíbe a caça aos troféus de Linces.
    

Lince-euroasiático no Zoo da Maia

Lince-euroasiático no Zoo de Lisboa




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