LINCE VERMELHO OU BOBCAT
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Ernest Ingersoll, ilustração de 1906, Lynx rufus |
Depois, de vários artigos sobre o Lince-Ibérico (pelo qual tenho um afecto
e quem sempre dediquei particular atenção), decidi dar a conhecer um pouco
melhor as outras espécies de Linces. Escrevi sobre o Lince Euroasiático. Porém,
parece que nunca é suficiente para falar sobre uma espécie, seja ela qual for.
No entanto, sinto que o mais importante é falar sobre elas, a dimensão do
artigo no momento deixa de ser a questão pertinente mas sim, lembrar o animal
nas suas particularidades mais relevantes…
Agora, chega a vez do…
Lince-Vermelho.
O Bobcat, um felino de uma
beleza extraordinária…
Lynx rufus é o nome cientifico desta espécie, ou a
sua nomenclatura binomial (ou seja binominal, isto porque o nome cientifico de
cada espécie é constituído por duas palavras; a primeira que identifica o
género e a segunda mais especifica, que em geral qualifica, o género). A
designação cientifica deste lince foi-lhe atribuída em 1777, pelo biólogo e
zoólogo alemão chamado Johann Christian
von Schreber.


A sua coloração é de um castanho vivo, quase cobreado, com manchas pretas,
aquilo que entendemos como pintas, porém podem ser bastante irregulares na sua
forma; por vezes, até acentuadas na cor negra ou mais difusas quase
dissimuladas, ou sob comprido ou com um formato arredondado lembrando um
leopardo. Mas é nos membros, principalmente posteriores, que o negro se mostra
mais intenso e revelador. A pelagem no inverno transforma-se em tons cinzentos
que podem mesmo ser de um cinzento claro, fazendo desaparecer quase por
completo as manchas características e o pêlo fica farto e denso, para uma
melhor adaptação aos seus habitats nas estações rigorosas. Há uma outra
característica que parece marcar a espécie no que respeita a coloração; as
populações do sul têm um pêlo mais claro que as do norte que apresentam uma cor
mais escura. As orelhas são grandes, peludas, terminando nos típicos tufos
finos de pelo preto e pontiagudo comum a estes felinos. O crânio é normalmente
redondo e os olhos amarelos com pupilas pretas. A cor do nariz é meio
avermelhado meio rosado. A cauda comum destas espécies é curta e grossa, mas no
Lince-vermelho mais curta do que nas restantes espécies, com um formato
arredondado parecendo ter sido cortada na extremidade e as manchas negras mais
concentradas. Na zona ventral a cor é habitualmente branca, tal como na zona
interior da cauda, o queixo também exibe uma tonalidade branca. O dorso pode
apresentar uma coloração de um castanho mais amarelado com uma lista continua
ou recortada escura na zona mais traseira. Os membros são altos para a
proporcionalidade do seu tamanho. As patas são grandes e adaptadas a uma
corrida rápida e irregular. Para além dos conhecidos tufos nas orelhas, como
todos os linces, o Bobcat tem uns rufos de pêlos que descem das orelhas e se
destacam do rosto bastante evidentes e compridos. Há estudos que indicam ou
presumem que a evolução e a origem de diferentes espécies pode ter-se
desenvolvido a partir do Lince-euroasiático, e que tenha atravessado os
continentes através do “Estreito de
Bering”, entre a Rússia e a região do Alasca na América do norte; até
porque aos anos 50 do século XX, o Lince-vermelho e o Lince-do-Canadá
partilhavam territórios comuns a norte, incluindo no Canadá.´

O Lince-vermelho é um predador carnívoro normalmente bem sucedido, apesar
de conseguir estar sem comer por períodos longos. A sua capacidade de caça
deve-se sobretudo, à astucia de surpreender as suas presas em emboscadas e ao poder
do seu salto, que pode alcançar os 3 metros. É capaz de se mover num absoluto
silêncio e com uma rapidez impressionante no momento do impulso. A sua biologia
ajuda muito; com um peso leve, ágil, e com uma excelente resistência nos biomas
mais diversos, permite-lhe ter uma dieta muito variada. Esta actividade ocorre
desde as primeiras horas do crepúsculo até o sol atingir o seu zénite, mas
também se pode dar já perto do pôr-do-sol. No outono e inverno a procura de
presas tende a dar-se mais durante o dia, nos locais onde as condições
climáticas são mais difíceis. As presas vão dos pequenos mamíferos aos cervídeos.
Ratos, castores, esquilos arborícolas ou terrestres, jovens javalis e pecaris até
pequenas aves ao famoso peru selvagem americano, dos ninhos de aves que
nidificam no solo ou opossuns aos veados, fazem parte da sua grande diversidade
de caça. Nas esporádicas vezes que caça presas de maior porte, como os veados,
não consegue consumir tudo e por isso esconde o que resta para voltar de novo quando
a fome apertar. Este lince é também acusado de caçar gado (cabras e ovelhas) e
atacar aviários, como matar pequenos cães ou gatos domésticos; porém, estes
dados mesmo contendo uma forte possibilidade factual nem sempre podem ser todos
atribuídos ao lince, os números desta predação não são precisos quanto ao tipo
de predador e podem ter outras origens em outros caçadores de topo e que são
bastantes nestas regiões… Estudos de 87, indicavam que o Bobcat não é um
predador de gado ou de outros animais ligados à agro-pecuária e que acima de
tudo, é um felino que claramente se furta do contacto humano. É sabido que a grande
preferência do Lince recaí sobre os coelhos e lebres e que lhe dão as melhores
condições para ser o mais bem sucedido dos felinos americanos. O que leva a que
esta espécie não se encontre em risco ou mesmo com um estatuto vulnerável nem
sequer perto da ameaça. A IUCN classifica-a com um estatuto “Pouco
Preocupante”.

Por estas razões (protegido desde 2000), existe uma recomendação por parte
da AZA (Association of Zoos and Aquariuns),
pelo seu organismo Felid TAG (Taxon
Advisory Groups), que os Parques zoológicos deveriam substituir todos os
Lince-vermelhos em exibição por Linces-do-Canadá. E o mesmo se aplicando a
outras espécies de felinos ameaçados por estas causas desumanas. Em 2009, num
censo internacional, calculava-se que existiriam cerca de 750.000 a 1 milhão de
Bobcats em todo o mundo, em que perto de 250 exemplares estariam em cativeiro,
dos quais desses, 190 pertenceriam a Zoos nos Estados Unidos da América.


Sem ser o homem (que é a maior ameaça ao Lince e a causa de mortalidade
mais elevada), o único predador natural de um Lince adulto é o Puma ou
Leão-da-montanha, muito conhecido por “cougar”.
A expectativa de vida deste felino em liberdade é muito baixa, baseada em todos
os factos já aqui relatados, provavelmente situar-se-á em média abaixo de 5 anos
na natureza. Os jovens também acabam por ser presas das águias, grandes mochos,
raposas e coiotes ou do ataque de pecaris ou de ursos; isto para além da
mortalidade infantil de causas naturais ou o infanticídio que poderá ocorrer.
Mesmo assim, a globalidade da espécie nem das suas subespécies se encontram em
perigo, excepto a subespécie mexicana, “Lynx rufus escuinapae”. Claro que, o
desenvolvimento urbano como as auto-estradas ou os cabos eléctricos de
alto-voltagem derrubados, a expansão dos terrenos agrícolas e a continua
degradação do seu habitat fazem parte de uma lista que parece não acabar para afectar
esta espécie felina.
Em termos evolutivos ou paleontológicos, existem registos de fosseis que
sugerem ou comprovam mesmo que a sua origem remonta a África. Teoricamente, uma
evolução que advém de uma linhagem do género “Panthera” e do qual se deve ter separado há aproximadamente 2
milhões de anos (na época do Plioceno, última época do período Terciário da era
Cenozóica), isto pelo menos com base na análise morfológica dos cromossomas
detectados nos tecidos de uma pele, e que serviram como objectivo para
distinguir o género “Panthera” de
outros géneros felinos. Todavia, esta questão não é consensual no que diz
respeito à linhagem deste género nas suas diversas espécies e das suas
diversidades morfológicas. Registos antigos sobre o Lince-vermelho situam-no
entre 3,2 e 1,8 milhões de anos atrás, como um descendente ancestral da espécie
mais antiga e reconhecida como associada ao género do lince; o “Lynx issiodorensis”, que viveu na Europa
(antes da última grande era glacial) no Pleistoceno, época do período
Quaternário da era Cenozóica, mas com prováveis origens em África, como já
mencionei. Parece que a redução gradual de tamanho caracteriza o Lince-vermelho,
pois o “Lynx rufus calcaratus”, uma
subespécie antepassada do Bobcat da era Irvingtonian (Irvingtonian North
American Land Mammal Age: escala de tempo geológico da fauna norte americana),
era ligeiramente maior.
Por falar em subespécies, O Lince-vermelho tem reconhecidas 12 subespécies.
Contudo, uma vez mais, também estas são alvo de discussão e discórdia dentro da
comunidade cientifica, devido a pouca diferenciação que existe entre elas, não
só em termos biológicos como morfológicos.
Fica aqui, por fim, a classificação cientifica do Bobcat ou Lince-vermelho…
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Subclasse: Eutheria
Ordem: Carnivora
Subordem: Feliformia
Família: Felidae
Subfamilia: Felinae
Género: Lynx
Espécie: Lynx rufus /1777
Subespécies:
Lynx rufus rufus /1777 -(1)
Lynx rufus gigas /1897 -(2)
Lynx rufus floridamus /1817 -(3)
Lynx rufus superiorensis /1952 –(4)
Lynx rufus baileyi /1890 –(5)
Lynx rufus californicus /1897 –(6)
Lynx rufus escuinapae /1903 –(7)
Lynx rufus fasciatus /1817 –(8)
Lynx rufus oaxacensis /1963 –(9)
Lynx rufus pallescens /1899 –(10)
Lynx rufus peninsularis /1898 –(11)
Lynx rufus texensis /1895 –(12)
Lynx rufus mohavensis (esta subespécie não surge classificada oficialmente)
–(13)
(1)
Este
até ao centro oeste E.U.
(2) Norte
de New York até New Scotia e New Brunswick
(3) Sudeste E.U. e interior até Mississippi
Valley, até sudoeste de Missouri e sul de Illinois
(4) Região ocidental de Great lakes, acima de
Michigan, Wisconsin, sul de Ontario e grande parte do Minnesota
(5) Sudoeste E.U. e noroeste do México
(6) Califórnia, oeste de Sierra Nevada
(7) México central, com uma extensão a norte
ao longo da costa oeste até ao sul de Sonora
(8) Oregon, Washington no oeste de Cascade
Range, noroeste da Califórnia, Sudoeste de British Columbia
(9) Oaxaca
(10) Noroeste
E.U. e sul British Columbia, Alberta, Saskatchewan
(11) Baja
Califórnia
(12) Oeste
de Louisiana, texas, centro sul de Oklahoma, Sul interior de Tamaupilas, Nuevo
León,
(13) Deserto
de Mojave na Califórnia
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