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Caminhando devagar para lá do tempo…

Caminhando devagar para lá do tempo…



JONATHAN
Jonathan é provavelmente o animal conhecido mais velho do planeta. Jonathan vive na ilha de Saint Helena, no chamado Território Britânico Ultramarino, a sul do Oceano Atlântico. O mais surpreendente é que Jonathan deve ter (numa idade calculada de acordo com os registos)… 185 anos. Mais do que estranho ou surpreendente, é fascinante!

Só que, Jonathan é uma tartaruga. Uma Tartaruga Gigante das Seychelles (Aldabrachelys gigantea/1812) ou Tartaruga-Gigante-de-Aldabra, que vive pacatamente nos jardins do “Plantation House”; a residência oficial do governador de Santa Helena. Capturada em 1882, era já uma tartaruga com uma maturidade adulta (talvez com cerca de 50 anos), o que leva a crer que a idade com que se encontra registada sejam então os 185 anos referidos.

com 182 anos
Jonathan, será hoje certamente, a tartaruga mais idosa do mundo. A sua idade só foi ultrapassada (em principio), por outras duas tartarugas: “Tu’i Malila (Tartaruga irradiada - Astrochelys radiata/1802) originária de Madagáscar e que terá vivido 189 anos; e “Adwaita” também ela uma Tartaruga-Gigante-de-Aldabra (Aldabrachelys gigantea/1812) que se diz que teria cerca de 255 (este caso nunca foi confirmado). A segunda é Esmeralda, um macho, habitante da ilha Bird no arquipélago das Seychelles e que se calcula ter 177 anos.

A espécie de que Jonathan faz parte, como a maioria das espécies de tartarugas gigantes, encontra-se (para a maioria dos conservacionistas) numa situação preocupante de sobrevivência. O seu estatuto é considerado “VU-Vulnerável”. Mas a minha grande inquietação à cerca deste espécime extraordinário é a sua transmissão genética, ou seja, até que ponto a sua permanência nuns jardins urbanos possibilitam que deixe descendência transmitindo estes genes tão especiais.

Jonathan em "Plantation House", em 2014
Porém, Jonathan… Esta idosa tartaruga não vive sozinha. Penso que vive com outras três (ou quatro?) tartarugas fêmeas e um macho (David, Emma, Frederika e Myrtle), documentadas como uma espécie “ligeiramente diferente”… (Dipsochelys dussumieri/1831), mas que não é senão a mesma espécie de Jonathan. Esta espécie passou já por várias reclassificações controversas, acabando por voltar a classificação inicial de Aldabrachelys gigantea. Se este convívio permitiu até hoje que Jonathan reproduzisse, não consegui essa informação até ao momento; sabendo nós que estas espécies têm alguma dificuldade em se reproduzir na própria natureza, e em cativeiro esse acto ainda é mais raro. Contudo, com base nas palavras do veterinário da ilha, o Dr. Joe Hollins, Jonathan ainda mantem uma libido bastante activa, pois mostra muito interesse na fêmea mais jovem… o que é uma prova de saúde e de um espirito jovem. Mas existe outro dado interessante: após uma profunda pesquisa, ele acredita que Jonathan seja mais novo do que é indicado; talvez entre os 160 e os 180 anos. De acordo, com um dos guias turísticos, Jonathan está quase cego devido às cataratas, tendo perdido igualmente o olfacto, porém parece manter uma audição boa.



Nome científico: Aldabrachelys gigantea =Dipsochelys gigantea = Geochelone gigantea

As tartarugas gigantes foram caçadas no século XVII e XVIII, de forma dramática pelos marinheiros e colonizadores, que as levavam como viveres nas suas viagens. Muitas foram também as espécies extintas neste período. Conta-se que Jonathan talvez tenha sobrevivido graças a eventual adopção por parte de Hudson Janish, o governador da ilha de Santa Helena à data. Depois dele, a ilha teve vários governantes, esta tartaruga já viu passar ao longo da sua vida: 28 governadores, 8 monarcas britânicos e 51 primeiros-ministros ingleses… o que é notável para a vida de um animal. Infelizmente, acredita-se que seja o último espécime da sua linhagem original.

Jonathan em 1882, e o seu rosto nos dias de hoje
Jonathan é hoje uma tartaruga tratada com todos os cuidados. A sua dieta é muito bem seleccionada, e apesar de ter perdido o olfacto come ainda com uma grande voracidade; bananas, cenouras e repolhos são alguns dos alimentos de que gosta particularmente. Este apetite levou a que certa vez quase comesse parte de um dos dedos, por isso hoje come com umas luvas adaptadas. Para que não se demasiado incomodado, os visitantes só podem fotografá-lo a uma distância mínima exacta de 2 metros.
Dr. Joe Hollins, veterinário do British outpost de Santa Helena
com Jonathan, 2016

A história desta espécie é ainda hoje, foco de uma grande indefinição ou mesmo imprecisão. Não digo que não tenha sido possível que há 150 mil anos (mais milhar menos milhar), estas tartarugas atravessassem o continente africano na direcção da ilha de Madagáscar, e posteriormente, na direcção do arquipélago das Seychelles e depois até ao Atol de Aldabra. São excelentes nadadoras e com uma resistência impressionante, flutuando com a carapaça meia fora de água e o seu comprido pescoço bem esticado. A questão é a sua origem; será que seriam endémicas de África ou já seriam oriundas de outro continente? As ilhas Galápagos possuem igualmente tartarugas gigantes. Apesar de fazerem ambas parte da mesma família, são de géneros diferentes… As das Seychelles estão classificadas como Aldabrachelys, enquanto as das Galápagos são Chelonoidis. Hoje estimam-se nas três ilhas que compõem o Atol de Aldabra cerca de 100 exemplares, num espaço com 34 km e uma largura de 14,5 km com uma lagoa interior de 155 km2. As restantes estão dispersas por outras ilhas do arquipélago em pequenas populações e que devem rondar os 40/50 indivíduos. 

Dr. Joe Hollins dando o primeiro banho a Jonathan, em 2016
Pertencentes a este género, esta é a única espécie na natureza, as restantes estão extintas. Das quatro subespécies (a.g.gigantea/1812, a.g.arnoldi/1982, a.g.hololissa/1877, a.g.saudinii/1835); a primeira subsiste bem na natureza protegida pelas leis e programas de conservação e longe da influência humana, duas delas extintas na natureza são preservadas em cativeiro, e uma última já se encontra extinta. É a segunda maior tartaruga terrestre, depois da tartaruga das galápagos. Os machos atingem em média cerca de 120/140 cm para 150/160 kg, enquanto as fêmeas bem mais pequenas rondam os 90 cm para 70/80 kg. A cauda dos machos é mais comprida do que as das fêmeas. As suas patas são robustas cobertas por escamas. Alimentação é fundamentalmente vegetariana; podendo compor-se de mais de uma vintena de tipos de ervas e relva diferentes, de arbustos rasteiros, folhas pequenas rasas ao solo, plantas dos mangais ou hastes rugosas  e frutífera, obtendo alguma proteína enquanto mais jovem da carne do cadáver de animais. Ovíparo, põe entre 4 a 12/14 ovos (em cativeiro, as posturas podem ser de 9 a 25 ovos) em locais secos e rasos, que incubam durante 110 dias nos tempos de maior calor, arrastando-se até 250 dias nos períodos mais frios, eclodindo os ovos por volta de Outubro a Dezembro. Não é raro acontecer uma segunda postura ainda na mesma estação de nidificação. Para além, de uma percentagem de insucessos nas cópulas, só metade dos ovos são fertilizados.   
Jonathan em Santa Helena, 1900
É curioso quando um animal é a grande atracção turística (e não só)… de uma sociedade “humana”. A cidade vai-se preparando para o dia em que Jonathan parta para a sua “morada eterna”, planeando erguer-lhe uma estátua de bronze e conservar em exposição a sua carapaça em Santa Helena. Contudo, ele ainda pode surpreender… quem sabe, com mais uns vinte ou trinta anos. Normalmente, e sem grandes percalços de saúde, com as condições favoráveis, podem levar a que esta espécie ultrapasse os duzentos anos…

Que seja muito mais longa a vida de JONATHAN.

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