Palanca-Negra-Gigante em Angola reduzida a 200 animais
Eis uma outra notícia e mais
um caso, que levanta sérias preocupações a qualquer ambientalista e
conservacionista. Diversas notícias vieram a publico em 2016 e entre 2018/2019,
sobre uma espécie que nos é próxima, por razões históricas, e que se encontra
muito perto da extinção. Depois de um censo realizado pelas autoridades
angolanas e coordenado pelo Dr. Pedro Vaz Pinto, director luso-angolano da
Fundação Kissama, e responsável pelo Projecto de Conservação da Palanca-Negra-Gigante
(Hippotragus niger variani/1916), ocorrido
provavelmente, entre 2017/2018, sabe-se que hoje deverão existir cerca, somente, 200
exemplares, da Palanca-negra-gigante, uma subespécie deste magnifico antílope, que
é endémico da região da Republica de Angola. São duas as populações que se
dividem entre o mais pequeno parque nacional de Angola, o Parque Nacional de Cangandala
(com uma população de 60 animais, muito vigiada, e dividida em duas manadas) e
a Reserva Integral do Luando (com 140 exemplares, agrupados em cinco manadas,
mas expostos à caça, queimadas, armadilhas e todo o tipo de riscos), ambas na
província de Malange.
Com o estatuto de
conservação, CR - Em Perigo Critico, de extinção, este imponente animal,
considerado para muitos como o mais belo antílope do reino animal, é também, um
dos grandes símbolos de Angola (incluindo, o emblema da selecção nacional
angolana). Em 2016, estimava-se que não existissem mais de 160 exemplares.
Hoje, em 2019, estes 200 exemplares existentes, representam pouco mais de 10%
do crescimento anual da espécie, o que é muito perigoso e preocupante em termos
de recuperação de uma espécie com tão poucos indivíduos. Qualquer acidente ou
ocorrência com estes exemplares, pode ditar o seu desaparecimento, por
completo. Aliás, um facto de que se chegou a suspeitar que tivesse ocorrido,
durante o período da guerra civil neste país, quando este animal nunca mais
fora avistado. Há perto de 50 anos, deambulavam ainda por este país um número sadio
de 2.000 exemplares; o que mostra o que pode acontecer a uma espécie em menos
de metade de um século e um exemplo idêntico a tantos outros que se dispersam
pelo planeta.
Existem reconhecidas,
quatro subespécies da Palanca Negra. Para além da Palanca-negra-de-Angola, a
espécie conta com a Palanca-negra-do-sudoeste ou Palanca-negra-comum, a
Palanca-negra-da-Tanzânia-ocidental (esta subespécie também ocorrer no centro
de Angola), e a Palanca-negra-oriental.
As noticias online entre
11 e 12 de Abril, informavam que o Governo e as autoridades ambientais
angolanas, têm nesta altura, a decorrer uma estratégia sob um plano de
conservação da vida selvagem em Angola e em articulação com as medidas de
protecção a esta espécie, principalmente, contra a caça furtiva, a maior ameaça
a este animal; seja ela por armas de fogo, armadilhas de laço ou ainda
armadilhas de mola e ferro, qualquer uma com consequências trágicas para esta
subespécie (de acordo, com Pedro Vaz Pinto, muitos destes animais quando foram
marcados, identificados ou fotografados, apresentavam sinais de golpes e
feridas causadas por tentativas de captura furtiva). O programa envolve,
igualmente, a gestão e a fiscalização ou o controlo da saúde e viabilidade
destas populações, como também, das reintroduções de espécimes nas duas
populações existentes, permitindo assim alguma diversidade genética. Contudo, o
Estado debate-se com um difícil problema no programa de conservação de espécies
em território angolano, a grande carência de guardas florestais e equipas de
fiscais, delimita a acção de monitorização dos oito parques nacionais e das
quatro reservas naturais espalhadas ao longo do país. O objectivo é conseguir
um crescimento populacional de 70%, no plano estratégico para os próximos cinco
anos. O ecoturismo e a divulgação desta espécie serão outras das medidas a
implementar e que poderão rentabilizar novos recursos no desenvolvimento da
conservação da vida selvagem nesta região; mas, os cerca de 1600 guardas
fiscais são um valor que limita bastante a estratégia deste plano, e que no seguimento
de uma fonte governamental, seriam necessários que estes números chegassem aos
8000 para puder articular com mais sucesso a organização deste projecto. Mas,
esta preocupação, ainda se arrasta, à reordenação destas zonas protegidas para
conservação, porque estas regiões são partilhadas por núcleos populacionais
humanos inseridos nas áreas de preservação e onde ocorrem actividades pouco compatíveis
com uma estratégia funcional de conservação, o que implica desde logo uma
revisão destas condições estruturais, mesmo com a intenção do alargamento dos
limites estabelecidos para estas reservas.
Ainda, não há muito tempo
atrás, em Dezembro de 2018, um grupo de 3 caçadores estrangeiros,
aparentemente, abateram uma Palanca-negra na região de Malange. Apesar dos
desmentidos, das autoridades oficiais, reportando que não se tratava de
qualquer exemplar da subespécie em risco, mas sim uma fêmea considerada da espécie
comum e morta noutra região, a verdade é que, sabemos que esta triste realidade
contínua a acontecer, de uma forma ou de outra, com ou sem confirmação das
autoridades oficiais. Não é difícil, encontrar online, sites que promovem este
tipo de eventos, muito bem pagos e envolvendo espécies ameaçadas, principalmente,
em África. No que respeita a estes caçadores, parece que ficaram com medidas de
coação de termo de identidade e residência, enquanto aguardam julgamento,
incorrendo numa provável coima de 53 mil euros (qualquer coisa como 21 milhões
de kwanzas), a qual poderão ainda juntar a condenação de uma prisão efectiva
que pode chegar aos 3 anos.
O Ministério do Ambiente,
através do seu secretário de Estado, propôs em última alternativa, a
mobilização, e assim, recorrer aos elementos efectivos das forças nacionais da
Policia angolana ou mesmo ao exército das Forças Armadas de Angola, para
colmatar a carência enorme de vigilância nestas reservas e parques protegidos.
No fundo uma medida, em tudo semelhante, a que é já utilizada em outros países
desta região, tanto no centro como no sul do continente africano.
Como elemento de destaque, entendo que esta e
todas as notícias sobre o mundo animal, não perdem nada, se pudermos dar-lhe
algum contexto descritivo da espécie ou das espécies em
causa...
a Palanca-negra, no que
respeita à sua taxonomia e descrição anatómica, é um antílope que pertence à
ordem dos Hippotragus, que é constituído
por três espécies: A Palanca-ruana, a Palanca-negra, e a extinta (por volta de
1800) Palanca-azul ou o Antílope-azul, de quem provavelmente deve ter derivado
do ponto de vista genético. Habita locais como savanas, florestas subtropicais
secas, zonas arborizadas, nas regiões no centro e sul ou mais orientais de
África (Quénia, África do Sul, Angola, Tanzânia, talvez o Uganda, Burundi, Sudão
e mesmo Moçambique). É possivelA Palanca-negra, enquanto espécie, não se
encontra com o estatuto de conservação preocupante, talvez, com uma população
global de 40, 50 mil exemplares, porém, é uma das espécies mais visadas pela
caça desportiva e principalmente a caça ilegal. Acima de tudo, por se trata, de
um animal majestoso na sua imponência, magnifico no seu porte robusto, e de uma
beleza rara e uma graciosidade extraordinária (por isso, como é “natural”, alvo
da cobiça bárbara e mórbida dos homens). Falamos de um animal com cerca de 200
cm a 220/250 cm de comprimento e perto de metro e meio de altura até às
omoplatas, uma cabeça volumosa e bem ornamentada com poderosos chifres curvados
para trás que podem atingir nos machos adultos um tamanho impressionante de 90/100
a 150/160 cm, nas fêmeas são um pouco menores e ficam-se por 80 a 100 cm. Aliás,
este dimorfismo na espécie, também está presente na coloração da sua pelagem,
que nos machos em geral, exibirão um preto brilhante quando adultos e as fêmeas
e enquanto juvenis a tonalidade varia entre o castanho e o castanho-escuro; a
parte inferior do corpo é branca, assim como parte do focinho (marcado por uma
faixa negra que o percorre até ás fossas nasais). Possui uma crina farta e
hirta ao longo do pescoço até ao dorso. Vive em manadas 10/15 a 30 indivíduos
(um harém de fêmeas com as crias de cada época, controladas por um macho
dominante). São animais com uma esperança de vida que ronda 16 a 18/19 anos na
natureza, como é normal em cativeiro esta longevidade pode ir além, e chegar a
atingir 21/22 anos em média.
Para quem desejar ver este animal... o Zoo de Lisboa, que já teve um grupo razoável no passado, hoje, está reduzido, pelo que me parece e pude observar, a um casal...
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