GENETIC MAP = 98,5%
BONOBOS (Pan paniscus /1929)
BONOBOS (Pan paniscus /1929)
É incrível como esta espécie tão determinante para percebermos um dos lados mais significativos da evolução do Homem, só tenha sido identificada a sua existência há 85 anos atrás. Dado o seu peso comparativo com o Homem na taxonomia (parte da ciência que descreve, identifica e classifica por grupos de acordo com as características fisiológicas, anatómicas, ou também evolutivas e ecológicas de cada animal ou grupo animal); é de reconhecer que a quantidade de estudos feitos não são os suficientes para se poder ter ido ainda mais longe.
O Bonobo apesar de ser um chimpazé, é um género diferente do conhecido Chimpanzé-comum. Pelas suas semelhanças este primata era conhecido e referido até alguns anos atrás como o Chimpazé-pigmeu, anão ou grácil. Creio e concordo que a distinção do nome para Bonobo (termo dado só em 1954) nos permite olhar esta espécie pelas suas próprias caracteristicas sem o tal condicionalismo de semelhanças com os seus parentes mais próximos.
Antes de mais, são fulcrais umas primeiras notas desde já, para nos situarmos melhor com este curioso animal! Esta espécie está classificada no IUCN, como uma espécie ameaçada de extinção desde 1996. Endémico da República Democrática do Congo, estende a sua distribuição geográfica unicamente em torno da bacia ou das áreas circundantes a sul do Rio Congo, em florestas densas até a zonas florestais mais alagadas. Razão por que lhe foi dado dentro da comunidade de estudiosos da vida animal: o "símio da margem esquerda do Congo". Um local ainda pouco pesquizado. Provavelmente, falamos de uma população entre 20.000 a 50.000 indivíduos, pelos dados a que tive acesso, e não sei se actualizados. Cerca de 300 vivem em cativeiro.
Voltando à classificação da espécie, gostaria de começar por a situar antes de mais, na estrutura definida para a taxonomia dos primatas, e por aqui podermos ter uma noção de como esta ordem está identificada, então vejamos: o reino é o animal (animalia). A classe: mamíferos (mammalia). A ordem: primatas (primates). A superfamilia: grandes símios antropóides (hominoidea). Depois temos duas famílias distintas, familia: hominídeos (hominidae), familia: hominídeos (hylobatidae, onde estão identificadas as espécies: gibões e siamangos). Mas é o prmeiro caso que vamos seguir. Aqui encontramos outras duas subfamílias, subfamilia: ponginae que incluem o género: pongo onde se inclui a espécie: orangotangos, a outra subfamília: homininae incluem três géneros: género (gorilla) onde encontramos a espécie: gorilas, segue-se o género: pan com duas espécies: bonobos (pan paniscus) e chimpazés comuns (pan troglodytes), por fim temos o último género: homo onde está classificada a espécie do ser humano (homo sapiens e todas as outras espécies antepassadas extintas).
Os bonobos são hoje uma das grandes curiosidades do ponto de vista científico na zoologia. Esta razão que nos leva a olhar esta espécie com especial atenção é motivada pela surpreendente comparação de comportamentos entre ambas as espécies. Tal como a analogia feita entre estes três géneros: gorilas, bonobos e chimpanzés... e o homem. Contudo, aqui pretendo apenas focar-me na relação etológica do género pan. Deixando que o paralelo com o homem sirva somente de referência subjectivamente analógica.
Os primeiros factos de realçar entre as espécies e que nos fazem fundamentar claramente as especificidades entre Bonobos e Chimpanzés comuns são em termos identificativos: a morfologia e os dados genéticos. Neste caso, ambos os seus genomas variam em 0,4%. Naquilo que poderemos considerar como espécies primas, e acrescenta-se que igualmente ambas as espécies partilham em relação aos humanos o mesmo valor percentual, ou seja, mais ou menos 98,5% do seu mapa génetico (concretamente uma variante entre 1 a 2 % do genoma humano). É importante esta descoberta também agora feita sobre o Bonobo, pois era dos grandes primatas, aquele que ainda não havia sido sequenciado esse mapa genético. Sabemos que o chimpazé já tinha sido feito em 2005, seis anos mais tarde em 2011 foi o caso do orangotango, no ano seguinte e em concreto... o ano passado, em 2012, foi o do gorila.
Outra questão que me faz reflectir sobre esta relação, prende-se com o período da descoberta de ambas as espécies. Calcula-se por diversos estudos que dista entre a descoberta do chimpanzé comum e a do bonobo, algo aproximado entre 700.000/900.000 anos e o que um ou outro antropologista afirma talvez em 1.8 milhões de anos. Seja qual for a data desta separação, ela existiu. Como existiu com uma espécie de proto-símio que separou o género Homo e Pan, e que deverá ter ocorrido há 6 a 8 milhões de anos... tendo todos este géneros como antepassado comum um género de australopithecus com cerca de 18 milhões de anos. Olhando para esta prespectiva evolucionista, poderia constatar de uma forma subjectiva; que a evolução através da morfologia e da genética é provavelmente transversal em consonâncias a toda a ordem de primatas e mesmo dos géneros de símios já extintos. É que numa lógica de complementariedades é um trabalho laborioso conseguir refutar um determinado denominador comum coexistente, e diria consistente, de toda a ordem dos primatas, na espécie Homo.
Isto leva-nos finalmente, ao que me trás aqui: a caracterização do Bonobo...
Uma eventual explicação... para a separação genética dos chimpanzés dos bonobos, poderá ter surgido aquando da formação do Rio Congo, separando as duas espécies, como também dos gorilas que co-habitavam a mesma zona, evitando até hoje que se misturem geográfica e socialmente. Tendo em conta que este acontecimento poderá se ter dado há cerca 1,5 milhões de anos; não é difícil de determinar também uma natural evolução etológica com singulariedades diferenciadas da espécie chimpanzé.
Sabemos que os Bonobos são um pouco mais baixos (mas atenção porque isto não acontece em relação a todos os chimpanzés em geral). Mais esguios com os membros superiores mais curtos e membros inferiores mais longos. Os dados registados, confirmam que eles mantêm os mesmo traços juvenis na fase adulta, por isso a chamada calvície surge já numa fase muito adiantada da vida.
O peso nos machos é de 39/45 kg e das fêmeas cerca de 30/33 kg (enquanto os chimpazés num padrão médio, os machos poderão ter entre 50/60-90 kg e as fêmeas 35/42 kg). No caso dos Bonobos a altura varia de 126 (nas fêmeas) a 131 (nos machos) cms, enquanto o chimpazé poderá atingir 120 a 140 (entre fêmeas e machos) cms. Nas especificidades anatómicas; o Bonobo tem o rosto, ouvidos, palmas das mãos e solas dos pés negros. A cabeça arredondada, e os pêlos na cabeça são longos e finos. As saliências superiores orbitais e a estrutura óssea é menos pronunciada. Focinho menos proeminente tal como as orelhas, os maxilares e os molares. Os lábios menos cheios, mais claros e por vezes de um tom avermelhado. Menos dimorfismo sexual, ou seja, características demarcadamente diferentes entre os sexos. Outra das suas características físicas que diferem dos chimpanzés comuns tem a ver com o corpo e a postura para deslocação bípede (apesar de serem seres quadrúpede) estar mais adaptada, posição hirta e vertical em relação ao crânio. Pés mais longos, tal como os ossos das coxas, e como o peso e uma massa muscular superior nas pernas. As mamas das fêmeas são um pouco mais proeminentes que as das suas primas Chimpanzés. Outra diferença, e esta curiosa, está ligada a dois factores biológicos; a primeira partilharem com os humanos uma quase idêntica distribuição de neurónios VENS (chamadas células fusiformes, que regulam as interacções sociais, atenções sociais e percepção dos estados emocionais dos indivíduos... levando à empatia), e a outra são os grupos sanguíneos: em menos número entre eles que os dos chimpanzés comuns.
Os Bonobos são omníveros; comem plantas como processo digestivo , as frutas que fazem parte de mais de 50% da sua alimentação, esporadicamente caçam mamíferos, e não parecem ter grande necessidade de beberem água dado que a quantidade ingerida de suco das frutas lhes resolve os problemas orgânicos. O seu isolamento das restantes espécies de grandes primatas permite-lhes dispor de maior e de uma mais diversificada escolha de comida, gozam na realidade de uma facilidade enorme de opções de alimentação... que justifica em boa parte os seus comportamentos de uma forma geral. A ingestão de barro ou argila ajuda-os a minimizar alguns dos excessos das suas escolhas por vezes demasiado agressivas em termos digestivos. Para surpresa nossa não são grandes apreciadores de bananas ou papaias, normalmente associadas às suas principais preferencias.
O Bonobo tem uma longevidade de vida que deverá rondar os 50 anos. Com um tempo de gestação das fêmeas de cerca de 8 meses (231 a 244 dias), porém em cativeiro há um relato de 255 dias, perto dos noves meses e do tempo de gestação da espécie humana.
Outro estudo que me chamou atenção foi a sua capacidade de comunicação. Registados talvez 14 sons vocalizados. Uma percepção incrível em cativeiro para aprendizagem... no "Great Ape Trust" no Iowa, estudos feitos com um macho, permitiram registar cerca de 500 palavras em inglês usadas na sua linguagem no centro, como o seu entendimento de outras 3.000 palavras.
Reflectindo agora sobre a etologia destes animais, seja a nível comportamental como sociológico; é aqui que as grandes questões sobre a espécie se põem...
Infelizmente, os estudos e os elementos existentes não nos permitem estabelecer comparações suficientes e fundamentadas, os dados existentes são ainda escassos.
Tantos os Bonobos como os Chimpanzés formam pequenos grupos. Estes grupos mudam em número de indivíduos constantemente. Por norma, os bonobos formam três tipos de grupos sociais: os mais estáveis e dominantes são aqueles que se formam entre as progenitoras e os seus filhos, seguem-se os grupos formados apenas por fêmeas, e por fim pequenos grupos menos sociabilizados de machos e fêmeas. As sociedades destes primatas caracterizam-se pela predominância de grupos maiores de fêmeas, são elas que exercem o dominio social e matriarcal quase absoluto. O comportamento dominante mostrados pelos machos entre eles é bastante menos agressivo do que entre os chimpanzés, e o mesmo acontece com uma agressividades menor dos machos com as fêmeas. Ao contrário dos chimpanzés, em que o domínio é exercido por um macho alfa muito dominante estabelecendo o poder através de alianças com outros machos com base em comportamentos manifestamente intimidatórios e agressivos... acredita-se com base num ou outro estudo e considerando alguns factores lógicos que estas interacções possam estar mais relacionadas com as condições naturais e a biodiversidade existentes nos seus habitats do que propriamente com as diferenças entre ambas as espécies... os machos raramente permanecem ao pé uns dos outros, e raramente se catam entre si. Quando competem por uma posição no seio do grupo dependem muito da influência das mães na hierarquia do grupo. É outra das evidências da força matriarcal e priveligiada que as fêmeas detêm na sociedades dos Bonobos. Este reflexo dá-se igualmente no papel que estas têm na escolha dos companheiros. Como também durante os períodos de alimentação em que os machos se submetem a uma posição secundária quando as fêmeas se aproximam para se alimentar. Casos registados mostraram igualmente que mesmo um macho alfa não responde depois de uma investida autoritária de uma fêmea adulta, isto apesar de raramente se mostrar subserviente a fêmeas juvenis adopta um comportamento submísso sempre que um grupo de fêmeas se encontra nas proximidades. Talvez condicionados por esta interacção de sexos, os laços formados entre as fêmeas conseguem ser nais afectivos do que entre machos e fêmeas. Outro dado relevante é que, sempre que uma fêmea dá à luz uma cria a sua posição dentro do grupo torna-se mais forte e estável (diria, respeitada). Esta é uma das diferenças determinantes; a sociedade de Bonobos promove por excelência a estabilidade nos laços do sexo feminino mesmo que os laços com o sexo masculino se mantenham importantes... com os Chimpanzés passasse exactamente o contrário. As manifestações de submissão (grunhidos, balanceamentos, chamamentos) não são tão efectivas nos Bonobos como são visíveis nos Chimpanzés, que se exprimem nestas circunstâncias em maior número de situações.
Por fim, o factor X; aquele pelo qual os Bonobos são mais conhecidos nas suas relações sociais... o sexo, as manifestações de cariz sexual. Esta é maneira que esta espécie encontrou para manter ou solidificar as relações nos grupos. O sexo é uma prática comum, diária, e estimulada pelos seus membros. Tanto com a função social como reprodutiva; o uso deste comportamento pragmático nos grandes primatas é exclusivo dos Bonobos, que o praticam nas mais diversas formas e circunstâncias, surpreendentes aos olhos dos humanos que nunca olharam o mundo animal desta prespectiva. As cópulas e atitudes ou práticas sexuais variam próximas dos humanos. As razões são similares e justificativas como as dos humanos; seja para aliviar tensões, seja para finalizar contendas, seja para escolha dos parceiros, seja para obter ou partilhar alimentação, seja para manter a integridade do grupo ou seja para manter os laços familiares. Estas práticas são transversais aos sexos e às idades; elas foram identificadas entre machos e fêmeas adultos, machos e outros machos, frequentes entre fêmeas, mesmo como proximidade nas relações entre juvenis machos e fêmeas adultas. Em conclusão, esta é a única sociedade da vida animal estudada em que sexualidade predomina como actividade social comum e de preservação da espécie.
Uma frase usual para definir o Bonobo é: "Bonobos fazem amor, não guerra". Claro que não é bem assim, dada as condições como vivem são muito menos agressivos, mesmo com as comunidades de vizinhos da mesma espécie; diz-se que também se deve ao facto de ser uma boa escolha para receber novos indíduos nos grupos. Inteligentes... diria eu!
O Bonobo é independentemente de tudo o que disse, uma espécie cada vez mais vulnerável, aumentando continuamente o risco de extinção. Apesar da actual protecção do governo, as guerras cívis na RD do Congo, o antigo Zaire de Mobutu, a caça furtiva, a captura viva, a destruição do habitat, a progressão dos campo agrículas, uso contínuo da madeira com a desflorestação e ainda o uso inadmissível do seu corpo para fins de "medicina caseira"... estão acelerar o desaparecimento de mais uma espécie.
Em jeito das últimas palavras... quando pensamos sobre o comportamento das espécies próximas do nosso género, fica-me a pertinência de um pensamento: ... sendo tantas as evidências nas nossas semelhanças como é possível termos evoluido há tantos milhares de anos e termos apreendido tão pouco à cerca das coisas mais importantes da vida e fazermos tão pouco pela humanidade que representamos? ...
Ecce homo!
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