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LINCE-IBÉRICO… UM TRIBUTO EM NOME DE UMA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA




DESTINOS COMO O DE OPALA E MARVEL, 
NO VALE DO GUADIANA E EM TERRAS ESPANHOLAS!...

Num artigo que publiquei em 2017, tentei seguir desde o inicio a história de sobrevivência de um dos mais belos e resilientes felinos que a fauna selvagem possui em toda a sua colecção universal. Procurei registar a memória individual do maior número de espécimes, que foram directa ou indirectamente, envolvidos no Programa Ibérico de Reprodução e Reintrodução desta espécie no seu habitat natural. Um projecto que acompanhei desde o principio, e tento acompanhar o mais próximo que consigo. Um dever que assumi para mim próprio, desde que, tive consciência do risco que esta espécie corria em 1978/1979, quando participei na primeira campanha que alertava para a sua conservação. Apesar da minha posição critica, em relação a várias medidas que considero deficientes e desarticuladas, e que se ligam, à finalidade deste programa; julgo que na sua globalidade é um projecto extraordinário no empenho dado por todos aqueles que lutam para salvar esta espécie que se encontrava até há dois ou três anos atrás, muito perto da extinção. Só lamento, que ainda não tenha sido possível, as autoridades e as organizações envolvidas, implementarem uma estratégia com uma estrutura de planos objectivos e planos alternativos, para evitar a morte de mais de 70 exemplares, causadas na maioria das vezes pela crueldade humana ou pela irresponsabilidade do homem… estamos a falar de mais de 10% de toda a população desta espécie, o que perante o cenário de tantas dificuldades em manter este felino longe das ameaças a que está sujeito, é um valor demasiado preocupante… tanto na tristeza que provoca a todos os que lutam para salvar o Lince-ibérico, como do ponto de vista técnico e cientifico, é igualmente, uma perda de diversidade genética, que evitada poderia exponenciar a qualidade de resistência dos espécimes e aumentar a capacidade de sobrevivência da espécie, isto para não falar de animais perdem a vida desta maneira tão desumana.


Este trabalho que se segue, prossegue na mesma senda, do que o anterior. Não é bem um estudo, tanto neste como no anterior proponho-me mais a um artigo de investigação, baseado nos próprios envolvidos. É a continuidade da minha história sobre o Lince-Ibérico. O meu tributo a todos os exemplares que pude homenagear. São os relatos, dados e elementos estatísticos, entre as histórias dos indivíduos envolvidos no programa de recuperação da espécie. Agora, num pequeno balanço do final de 2017, até à presente data. Sem grandes preciosismos cronológicos, sem rigorosos critérios analíticos, sem pretensões mais cientificas; apenas uma preocupação com as referências possíveis, e um olhar sensível sobre cada animal que me foi possível identificar, deixando assim uma consagração merecida a cada um destes seres, que considero, magníficos e são para mim, o grande ex-libris da nossa fauna.

O CNRLI, em Silves, na sua prespectiva geográfica (antes do incêndio).
O ano de 2018, foi especialmente, trágico. O que só vêm confirmar, tudo aquilo que critico e defendo, quase desde o principio do programa. Continuo a acreditar, que com um empenho sério e que não seja hipócrita, cínico ou oportunista, existem medidas e estratégias que poderiam, talvez, evitar ano passado, a morte de pelo menos… 27 linces atropelados (que em conjunto com os 31 linces vitimas de atropelamento em 2017, o ano com o pior registo, perfazem 58 exemplares nos últimos dois anos do programa de recuperação da espécie). Tal como, o assumir de uma corajosa alteração às leis que criminalizassem o abate seja por que forma for, de espécies em risco, e que levassem a uma punição exemplar, mostrando assim, de que lado está a grandeza humana e a consciência humanista para com as espécies selvagens. Infelizmente, por mais promessas que os governos de Espanha e Portugal deem sobre a implementação de medidas para proteger a espécie ou mesmo quando são desencadeadas acções preventivas nas estradas ibéricas (principalmente, nos chamados pontos negros fatais), os resultados não se vêm, e os números continuam a aumentar à medida que a espécie se vai desenvolvendo no seu meio ambiente. O que mostra, quer se queira quer não, que esta estratégia está errada, ou no mínimo, desadequada. Não vejo outra possibilidade, se não trabalhar um plano global de corredores naturais e de medidas dissuasoras da aproximação de lince (ou de outra espécie selvagem) das estradas ou das infraestruturas urbanas, assim como, a elaboração de uma estratégia de tocas e excelentes condições de subsistência para o coelho-bravo ou outras presas do lince, e que possam equilibrar ecossistemas o mais afastado possível da presença ou circulação humana. Eu sei que algumas destas medidas já foram tomadas e outras estão acordadas com ambos os governos (graças às organizações envolvidas e fundamentalmente, à WWF), mas de forma insuficiente e sem alternativas compensatórias e mais eficazes. É preciso ter em conta, que o problema de quase todas as mortes ocorridas são consequências do impacto e da atitude humana, e não provocadas pela ameaça ou invasão da espécie em centros urbanos, o drama acontece nas imediações do seu habitat. Espero que as promessas do Governo Espanhol e Português, se cumpram este ano de 2019, conforme foi assumido, e que os imperativos corredores naturais e artificiais ou as passagens aéreas e subterrâneas se multipliquem ao longo das autoestradas ibéricas, sobretudo, em número suficiente nos chamados pontos negros (visto que são profusamente conhecidos de todos os responsáveis) e nas mediações de todas estas zonas envolventes. É preciso dizer as coisas tal como são; o governo Espanhol e os governos autónomos têm a maior responsabilidade, pois mais de 20% dos incidentes nas rodovias em 2018, deram-se todos nos pontos negros da Andaluzia.
 
Este artigo pretende, acima de tudo, lembrar tanto quanto me for possível, todos os exemplares que lutam pela sobrevivência de uma espécie ainda sob fortes condições de risco de extinção. Com o Projecto Life Iberlince para a Conservação do Lince-Ibérico terminado no final de dezembro de 2018, e com uma nova candidatura proposta ao Projecto Life, procuro deixar neste trabalho a visão e a opinião de alguém, que totalmente desprendido de ligações directas ou indirectas ao programa, no entanto, se dedica a esta causa e a esta espécie, há exactamente… 40 anos.

Aspecto do recinto do Lince-ibérico, no Zoo de Lisboa
Infelizmente, os números ainda são mais assustadores, mesmo trágicos, na Andaluzia, em Espanha, onde se encontra o maior núcleo populacional do Lince-Ibérico. A 3 de outubro do ano passado, soube de mais um exemplar atropelado, uma jovem cria, na autoestrada A-4 (um dos pontos negros), ainda no município de Marmolejo. Não muito antes, a 16 de agosto, na conhecida estrada “la carratera de La Lancha”, a JH5002, uma jovem fêmea nascida em 2018, perdeu ali a vida. Pelos números que obtive, só o ano passado nesta província, foram 8 os linces com este destino fatal; cerca de 15 no total, em toda a Andaluzia. Gostava de puder divulgar os nomes se soubesse, se é que tinham, mas não consegui esses elementos. Em novembro de 2018, deu-se algo completamente, inaceitável, e que não consigo entender como nenhuma medida foi tomada por parte das autoridades ou do governo local, depois deste acontecimento… no dia 24, uma fêmea de um ano e meio, foi atropelada na A-481 em Huelva; no dia anterior, a 23, um outro lince foi encontrado morto, perto da estrada do AVE, junto de Villafranca de Córdoba; a 22, uma outra fêmea sem identificação, tinha morrido atropelada ao km 301, na A-4, em Guarromán, Jaén.

Contudo, quero deixar expresso, que de pouco serve neste momento, a justificação do director do projecto Life Iberlince… conhecer os dados estatísticos ao longo de anos sobre a tendência de atropelamentos nesta região, não chega; e também o crescimento populacional em 17 anos de 600% (de cerca de 90 para aproximadamente 650) ou o aumento da área controlada de 125 km2 para perto de 3000, vai resolver a questão; nem mesmo os protocolos estabelecidos no protecção da espécie, como as cercas e as passagens artificiais sobre as rodovias e alterações ao habitat em zonas de risco, parecem ser suficientes para evitar os números de 2018. Não esquecer que esta região da Andaluzia, possui a maior população do Lince-ibérico, com um sucesso extraordinário de reprodução na natureza (de acordo com os dados que tenho, e na altura com cerca de 50% dos censos de 2018 concluídos, davam um número impressionante de 34 ninhadas nascidas: 8 com 18 crias na região de Doñana-Aljarafe, 6 com 19 crias em Guarrizos/Jaén, 8 com 14 crias em Andújar e Marmolejo, 5 de 10 crias na Cardeña e Montoro, 7 com cerca de 11 crias na região de Guadalmellato), e dados que nos trazem um elemento bastante importante neste censo, que é o crescimento de fêmeas territoriais nesta região; de 27 em 2002, para umas prováveis, 109 em 2018. É preciso ter em conta, agora, os factores de imponderabilidade; o aumento populacional concentrado nas mesmas áreas pode tornar-se difícil de gerir, não só em termos de reintroduções, como a nível reprodutivo, assim como de sustentabilidade diária da população de linces ou da população da sua principal presa: o coelho-bravo. A duplicação dos números nos últimos quatro anos (em 2014 estimavam-se 300 exemplares, hoje já sabemos que rondam entre os 600 e os 700), leva, na minha opinião a rever, urgentemente, o plano das áreas de distribuição, e a ter-se de considerar esta ampliação, para outras áreas protegidas, de preferência, englobadas em serras e regiões que foram o seu território original na Península; mesmo, sabendo que isto, teria implicações nos financiamentos disponíveis para este programa, como implicaria uma restruturação das politicas ambientais aprovadas para beneficiar outras actividades humanas nestas reservas (incluindo o de um lobby forte como: a caça cinegética). Creio que só a intervenção de um plano politico nacional e uma consciencialização da sociedade na sua conduta nestes pontos críticos pode mitigar de forma significativa, a perda de tantos exemplares de uma espécie ameaçada. O director do programa Iberlince, fala como objectivo prioritário, para além, do aumento das populações, na necessidade da conetividade territorial como sendo essencial para uma melhor partilha genética entre diferentes populações ou núcleos populacionais, e com o crescimento da população de linces é preciso encontrar maneira de facilitar a movimentação dos indivíduos; declarações que me parecem demasiado óbvias há muitos anos, pois falo desta probabilidade e desta consequência, pelo menos há meia década, e defendo medidas preventivas e dissuasoras junto às rodovias ou passagens aéreas e subterrâneas há mais de uma década; isto, porque só assim podemos proteger a espécie e ajudar a conduzi-las para corredores naturais estruturados, alargando a capacidade dos seus territórios.

Parece interessante, a proposta feita pela região de Múrcia, em Espanha, em estender para noroeste, para as serras dos municípios de Moratalla, Caravaca de la Cruz, Calasparra, e Jumilla, devido à potencialidade destas áreas, ainda por cima, com uma elevada concentração de populações de coelhos-bravos; claro que, é preciso garantir um plano eficaz, com as precauções necessárias para não criar outras zonas de risco (como atropelamentos ou sujeitar estas novas populações à caça furtiva). Talvez, quem sabe, estabelecer uma ponte de corredores naturais e seguros, entre um hipotético triangulo, da Andaluzia, a Múrcia e Castilla-La Mancha, e desta a Estremadura, envolvendo os diversos núcleos populacionais nestas regiões sediados. Incluindo, a forte hipótese, do próprio núcleo do PNVG, beneficiar desta correlação distributiva entre populações, aproximando mais o grupo português de outras possibilidades da variabilidade genética; tanto Doñana como o Vale do Guadiana possuem populações mais isoladas, sendo que naquela região espanhola a diversidade genética é muito reduzida. Até porque, ao que parece, não há interesse politico, no repovoamento da Serra da Malcata; os argumentos dos investimentos necessários para a reintrodução do lince nesta região estão condicionados pelos interesses económicos, sociais e políticos, onde mais uma vez, o lobby da caça está incluído (com base nos “estudos”, as presas como o coelho, não são suficientes para todos), talvez por isso, a projecção para daqui a uma década a presença de novo do Lince-ibérico numa serra mítica para este felino, faça sentido para quem tem interesses imediatos no uso dos recursos naturais e nas práticas cinegéticas hoje disponíveis, impedindo assim, o desenvolvimento da área original do lince em Portugal. Seguindo desta forma, em sentido contrário ao esforço que o nosso país vizinho, a Espanha, está a fazer para aumentar as áreas de distribuição de um dos felinos mais ameaçados do planeta. É verdade que, torna-se cada vez mais fundamental, que os critérios de selecção para criar núcleos populacionais do lince na península, devam obedecer, a uma série de factores determinantes para a subsistência e segurança da espécie, quando esta já esteve quase extinta: a saudável população de presas como o coelho é absolutamente imperativo (com um controle profundo e transversal da Mixomatose e da RHD/Doença Hemorrágica Viral do coelho), a geomorfologia dos terrenos que se identifique com o habitat mais típico para este felino é crucial, o chamado mosaico mediterrânico para a actividade do lince é suportado em grande medida pelo mato e arbustos ou um terreno acidentado de baixa densidade de árvores e ainda por terreno rochoso, a proximidade razoável de outros núcleos populacionais deve ser um dos critérios mais importantes para manter uma população geneticamente saudável, assim como, a distância cada vez mais decisiva, dos centros e estruturas urbanas ou de rodovias que potencializem os riscos de mortalidade, ou ainda locais onde a acção antrópica do homem pode ser  elevada, seja por irresponsabilidade seja por intenção criminal como venenos e armadilhas ou caça furtiva. 


Adelfa
Cromo
Furia
Jomafo
Lagunilla transportando uma cria na boca
Até hoje, são 6 os linces atropelados, desde o inicio do programa de reintroduções, no território nacional (ou seja, desde 2015-2019). Dois deles, libertados, no Parque Natural do Vale do Guadiana.  A quarta vitima era uma fêmea; Niassa, foi encontrada morta na A22, entre Tavira e Olhão, a 14 de abril de 2018. Uma vez mais, pelos indícios que apresentava, um outro lince é vitima de atropelamento. Esta fêmea estava desaparecida há cerca de uma semana. Niassa, tinha sido reintroduzida em 2017, na região do Vale do Guadiana, onde se situa o único núcleo da população de linces em território português. Tinha dois anos, e tinha nascido, em 2016, no CNRLI, em Silves. Pelos dados, recolhidos no local onde foi encontrada sem vida, junto à estrada, Niassa, não apresentava sinais de maior debilidade física, parece indicava um peso de cerca de 11 kg e apresentava um bom porte físico para esta espécie. A informação que possuo, aponta para que tenha deixado a área de estabilização, e o instinto a tenha levado a encetar um processo errante de dispersão (muitas vezes consequência, da procura de um território que reunisse melhores condições alimentares e de refugio ou eventuais sinais de outros exemplares por perto), sendo este um dos factores mais preocupantes na monitorização dos indivíduos reintroduzidos no seu habitat, gerando um comportamento que os leva a percorrerem distâncias razoáveis e afastarem-se dos locais de maior segurança, aumentando o risco de exposição à presença e actividade humana.

        
A solta de Olmo e Okami, a 15 de fevereiro de 2017
A quinta vitima foi Olmo, era um jovem macho nascido em 2018, na mesma temporada, que Opala (de quem falaremos de seguida). A estrada EN 122, entre Beja e Mértola, tem se mostrada excessivamente fatídica para a vida selvagem; Olmo foi mais uma das suas vitimas, atropelado a 2 de maio de 2018, foi ainda conduzido a uma clinica veterinária especialista em cirurgias complicadas, o Centro de Cirurgia Veterinário de Loures, mas infelizmente, não resistiu e acabou por sucumbir no decorrer da operação. Este jovem lince fora libertado na região de Mértola a 15 de fevereiro do mesmo ano, cerca de dois meses e meio antes deste desfecho trágico, havia sido solto juntamente com Okami (uma das 3 crias nascidas do emparelhamento entre Hechicera e Hocico) num local conhecido como zona de Sapos. Olmo, tal como Okami, havia nascido no Centro de Cría de Lince Ibérico de Zarza de Granadilla, em Cáceres, no dia 9 de março de 2017, filho da fêmea Juno e do macho Jabugo, de uma ninhada de quatro crias (três machos e uma fêmea: Olmo, Oso, Opio e Osadía). Uma morte mais, agora duas semanas depois, de Niassa ter igualmente perdido a vida para as estradas de Portugal.


Hongo
Niassa, e Olmo, em 2018, junta-se a Neco em 2017, a Kentaro em 2016 e a Hongo em 2015. O ano de 2019, trás Mistral a esta triste lista portuguesa. Apesar de puder parecer aos olhos de muitos, excessiva esta analogia, não posso de deixar de relacionar a forte culpabilidade criminosa do Homem e a morte destes magníficos Linces. De alguma forma, o meu tributo a estes exemplares, será feito. Procurarei, algures numa oportunidade, que os seus nomes sejam lembrados numa merecida evocação.


Mistral

Mistral, após a solta

Mistral, como quase todos, após a libertação...
rapidamente, desaparecem!
Mistral foi atropelado a 2 de janeiro deste ano, mais uma morte de um lince na EN122. Lembrando as 27 mortes por atropelamento de 2018, e dando um mau começo a 2019. Ou seja, comprovando que, as medidas implementadas não estão a resultar; os ruídos produzidos pelos técnicos para assustar qualquer aproximação, os sinais de transito alertar para o perigo da existência de linces no local, desta forma não parecem ser dissuasores nem dos linces nem do cuidado que os humanos deveriam ter. Mistral era um macho nascido no Centro de reprodução de Zarza de Granadilla em 2015, e fora reintroduzido no PNVG, em Mértola em maio de 2016. Fazia parte de uma ninhada de duas fêmeas e dois machos (Medea, Minerva e Milvus, são irmãos de Mistral), do casal Hubara e Juncabalejo. Ao que parece fixara o seu território nesta região, mais propriamente, na Herdade da Cela, com a fêmea Moreira, sendo, talvez, o progenitor das duas ninhadas que esta fêmea teve nas temporadas 2017/2018. Com ele, são já três os linces atropelados em 2019, as outras duas mortes ocorreram em Espanha, isto até ao final do primeiro trimestre do ano. 

Malva, provavelmente, com Oriana

A 29 de Agosto, o programa recebeu mais um duro golpe. De uma forma que tenho dificuldade em perceber, principalmente, sobre o papel das equipas que andam no terreno. Malva, uma fêmea de três anos, e a sua filha Oriana de um ano, foram encontradas afogadas numa charca de um regadio de olival, no qual caíram e não conseguiram sair. Malva (de quem eu já falara no artigo anterior) fora libertada no Vale do Guadiana a 19 de fevereiro de 2016, e com o macho Mundo, deu à luz duas ninhadas (4+4) nestas duas últimas temporadas reprodutoras (2017/2018). Mundo, como referi no artigo anterior, é oriundo do Parque de Doñana, em Espanha, e percorreu algumas centenas de quilómetros até se fixar em Serpa, perto de Malva. Oriana fazia parte da primeira ninhada. Perde-se assim, desta maneira (mesmo que as entidades tenham considerado um infeliz incidente), um exemplar magnifico que demonstrou uma capacidade de adaptabilidade extraordinária e uma mãe cuidadora excelente. Esperemos, (pelo menos de acordo com os técnicos no terreno que acompanham a situação) que as crias da última ninhada estejam autossuficientes o bastante para sobreviverem sem a mãe. Mais uma vez, reafirmo, que é preciso fazer mais e melhor, as equipas e o programa precisam de maior multidisciplinariedade, assim como o envolvimento da estratégia de especialistas das mais diferentes áreas que se possam entrosar neste programa; mesmo depois da tragédia, rever e corrigir é sempre importante, como pretende o ICNF… ao que parece os meios implementados (como rampas) não previram em tamanho por parte do proprietário um repentino abaixamento das águas na dita charca, fazendo com que a rampa se tornasse inacessível a qualquer fuga. As equipas, o programa em si, as autoridades ou proprietários de terrenos, precisam de estar mais atentos e totalmente sintonizados na interpretação do meio ambiental existente, tal como, nas variações etológicas das espécies e dos cenários das probabilidades de riscos. Nenhum projecto pode ter só uma tipologia ou estrutura, os planos de contingência têm de ser múltiplos e sujeitos a uma constante e permanente adaptabilidade ou ajustamento.


Calabacín, um Lince extraordinário...
11 de outubro de 2018, marca também com tristeza, um ano que considero o menos conseguido e afortunado deste projecto, apesar do número de ninhadas e crias nascidas em liberdade. A morte repentina de Calabacín, acredito que tenha sido um triste golpe para todos os que estão envolvidos no programa de reprodução da espécie; principalmente, para as equipas do CNRLI de Silves, onde este exemplar passou os últimos anos. Calabacín foi capturado na natureza, e foi um dos primeiros linces a integrar o programa português em 2010. Emparelhado com Era, fazia parte dos quatro casais que iniciaram o ciclo de reprodução em Silves. Foi pai de 6 crias. A sua chegada ao CNRLI, veio na sequência de algumas debilidades oculares que condicionavam a sua subsistência em liberdade; uma lesão ocular tirou-lhe a visão total de um dos olhos e deixando o outro igualmente afectado. Porém, esta limitação não o impediu de contribuir para a preservação da espécie. Durante o incêndio da Serra de Monchique no mês de agosto, e que que atingiu Silves e o CNRLI, obrigando à evacuação de todos os linces, Calabacín, foi um dos machos transferidos para o Centro de Reprodução de El Acebuche, no Parque de Doñana, na Andaluzia. Ali permaneceu até ao fim, os outros regressaram a Portugal; o motivo desconheço, mas os elementos que recolhi, indicavam que estava sem qualquer problema de saúde e que não havia motivo que condicionasse o seu regresso junto com os outros. Talvez, o facto de lhe ter sido diagnosticado anteriormente, ser portador de epilepsia, tenha influenciado alguma decisão para que a sua permanência naquele centro se tornasse efectiva (visto que esta é por norma, uma patologia condicionante da sua continuidade nos programas de reprodução, para evitar a transmissão de genes críticos). Infelizmente, a madrugada do dia 11, trouxe o inesperado, e por volta das 5, 6 da madrugada, um processo de convulsões contínuas levaram à sua morte. Foram quase 10 anos, em cativeiro, integrado num programa de reprodução e de melhor conhecimento biológico da espécie, e que provavelmente, como creio, contribuiu durante a sua existência com um valor cientifico inexcedível.

Um nome que gostava, que todos fixassem, que a maioria de nós recordasse, e que uma parte daqueles que lutam pela preservação desta espécie evocassem nas suas intervenções… Marvel! Quem é Marvel, ou quem era Marvel? Era um lince macho que fazia parte da população de Guadalmellato, em Córdoba. Foi encontrado morto a três dias do final do ano de 2018, a 28 de dezembro, dentro da zona onde fora libertado, numa área protegida. Tinha três anos, nascido em 2015. Causa da morte: abatido a tiro, caça furtiva ou não, não sei, mas é certo, que foi pelas mãos de um caçador, e a crueldade vem a seguir… a necropsia revelou que a morte deste animal foi causada por 300 chumbos (volto a referir: 300 chumbos) alojados no corpo. De pouco serve, a condenação à posteriori ou a intenção de punição do culpado ou culpados por parte da federação de caça da Andaluzia; a realidade é que na maioria das vezes, a caça furtiva ou não, esteve e está por detrás da morte destas quase 2 dezenas de linces nos últimos dois anos: 8 em 2017, e provavelmente 8 em 2018. Como diz e bem a WWF, estes números são apenas os que conhecemos, devido à identificação dos colares GPS, porque não é possível ter dados relativos a todos os que não são monitorizados. Marvel, só foi possível descobrir, porque foi morto com um colar GPS. Entre as tantas medidas e preocupações ou fundamentos argumentados neste programa, é preciso de uma vez por todas, proibir definitivamente, a actividade cinegética em áreas protegidas ou reservas naturais, no mínimo. Senão, que sentido faz todo este investimento, quando o homem não quer saber.
 

Opala, a beleza inquieta de um dos mais belos felinos do mundo
Vou-vos contar aqui uma história que deve ficar registada neste artigo…
A história possível de Opala, uma fêmea de Lince-Ibérico.
Infelizmente, o caso de Opala, é também ela, uma história triste, pois pouco tempo teve para viver aquilo que merecia e tinha direito. Opala foi encontrada sem vida a 9 de janeiro já deste ano de 2019, no Parque Nacional do Vale do Guadiana. Desconhecendo-se ainda as causas da sua morte, porém, que já deveria ter ocorrido há algum tempo, devido ao estado de decomposição do cadáver estar bastante avançado, só tendo sido possível a sua descoberta através do sinal de rádio do colar transmissor, a sua morte deverá ter-se dado ainda no inicio de dezembro de 2018. Opala era uma jovem fêmea, nascida no Centro de La Olivilla, em Jaén, na Andaluzia, a 13 de março, na temporada de 2017; e tinha sido reintroduzida a 14 de março de 2018, no Vale do Guadiana. Viveu cerca de 9 meses em liberdade, estava desaparecida há vária meses, a última vez que tinha sido sinalizada ocorrera no final do verão, durante o mês de setembro. Opala era o 33º exemplar libertado em território nacional. Filha de Cynara e Fausto, numa ninhada de 4 crias, uma delas não sobreviveu ao período critico perinatal. Aparentemente, os seus irmãos tiveram melhor sorte no caminho que seguiram; Órbita foi solta em Matachel (Badajoz), e Otero largado em Montes de Toledo (Toledo). O que me fez eleger, este lince como subtítulo deste artigo, para além da sua história, foi o seu olhar tocante nesta foto dentro da caixa transportadora… a tensão, e a ansiedade que mostra, o receio instintivo de um animal fechado que desconhece o seu destino.
A libertação de Opala em março de 2018

3 imagens de Cynara, nas duas primeiras com um mês,
na última ainda na incubadora depois de rejeitada. 


Esperanza, com Crocho
E quem é Cynara? Cynara, a mãe de Opala, é filha de Esperanza, uma fêmea da população selvagem de Doñana, nascida em 2001, que emparelhou com um macho, Jub, de um outro núcleo populacional da Andaluzia, Sierra Morena. Facto este, que de acordo com os registos, não acontecia há muito tempo, e que para populações de espécies em risco, foi um importante acontecimento, permitindo assim, um cruzamento genético enriquecedor, não só por um aumento na diversidade de genes destas populações como uma diminuição dos sequenciamentos genéticos já, eventualmente, influenciados por forte consanguinidade, devido ao ainda baixo número efectivo de exemplares existentes na natureza nesta altura.


Crocho, com um coelho.
Esperanza, também fica na história do lince-ibérico, como a primeira cria a ser capturada, neste caso dir-se-ia antes, resgatada na natureza; resgatada, porque se encontrava em perigo de vida, devido à sua condição física bastante debilitada. Transportada para a antiga Estação Biológica de Doñana, hoje a reserva do Parque Nacional de Doñana (desde 1969), foi criada pelo homem à mão. Apesar deste enorme risco, que eleva a enorme probabilidade de os instintos naturais se perderem, Esperanza (que viveu 13 anos, falecendo no inicio de maio de 2014, no Zoo de Jerez, onde vivia desde 2010; uma idade considerável para esta espécie) conseguiu ser mãe, só que como também era previsível ou não, por alguma razão acabou por rejeitar, Cynara; quando digo que não, tem a ver com o facto de não ter abandonado Crocho, o irmão de Cynara (mas este veio a morrer com cerca de dois meses). Esperanza, criada a biberão pelos técnicos do Zoobotânico de Jerez de la Frontera, e que foi uma das fundadoras do programa do Centro de Cría de El Acebuche em 2002, já com uma idade avançada, foi de novo transferida para o Zoo-Botânico de Jerez de la Frontera, e com mais uma missão em prol da espécie: a de promover o lince, num recinto próprio para exibição da espécie, fê-lo com o macho Garfio (também capturado na natureza, na Serra Morena em 2003, com quem estabeleceu a sua primeira parelha e cópula dentro deste programa), até ao fim da sua vida, em 2013; era um lince muito meigo, dócil mesmo, com um excelente relacionamento humano. Tal como a sua mãe, também Cyanara, acabou por ser criada à mão, no Centro de Cría Lince de El Acebuche, e posteriormente, mudada para o Centro de La Olivilla. Contudo, ao contrário da sua mãe Esperanza, a fêmea Cynara, demonstrou ser uma excelente mãe, mesmo contra todas as probabilidades, esta fêmea superou-se, e aprendeu sozinha como lidar com aqueles que deveriam ser os seus instintos naturais, apesar das dificuldades, inclusive, ao fim de algum tempo a relacionar-se com outros linces, o que a levou a emparelhar em 2014, com Espliego, de quem teve duas crias machos, Lucero (solto em Montes de Toledo) e Lobato (que permaneceu em cativeiro, mas que não encontrei dados sobre qualquer emparelhamento que tenha realizado ou mesmo a sua localização hoje em dia). Em 2015, foi emparelhada com Fausto (pai de Opala), pela 1ª vez, de quem teve 3 crias sobreviventes dessa ninhada, dois machos e uma fêmea: Majadal (reintroduzido em Matachel, na província de Badajoz), Mel (libertado em Portugal, no vale do Guadiana) e Morgana (que ficou em Montes de Toledo). Já em 2016, foi a vez de Cynara emparelhar com Júpiter, de quem teve duas fêmeas e um macho: Norteño (que permaneceu em cativeiro, mas que também não o encontrei no programa de reprodução), Neve (que foi para Guarrizas, em Jaén na Andaluzia), e Nereida (libertada em Montes de Toledo). De novo em 2017, com Fausto, deu-se o nascimento de Opala e dos irmãos (de quem já falei). Ou seja, Cyanara, uma fêmea, criada pelo homem, acabou por dar ao programa de recuperação da espécie: 11 crias. Os últimos dados que tenho, são relativamente, ao emparelhamento com Endrino, de quem teve uma ninhada de 4 crias (3 sobreviventes e 1 morte perinatal). Já agora, e apenas como nota, ficam aqui também os nomes da bisavó de Opala, Iguazú (de Doñana) com um macho selvagem desconhecido, e da trisavó Glória, também do Parque Natural de Doñana, mais precisamente, de um local muito relevante em biodiversidade, Coto del Rey, zona onde o lince e a águia-imperial evoluíam e eram emblemas naturais, esta fêmea foi a grande matriarca, de muitas gerações deste felino nesta região. Esta é a história familiar que me foi possível sobre mais um lince que me encantou.


Esperanza, uma das fêmeas mais mais importantes em todo este processo de recuperação da espécie
Esperanza, morreu em 2014, com 13 anos, no Zoobotânico de Jerez, em Cádiz
Uma notícia que li, é suficientemente, curiosa, para ser tida como mais um elemento etológico e biológico sobre alguns dos comportamentos desta espécie…

Aqui vemos Betis, com a ninhada onde se encontra Granza
Na Serra de Andújar (parte da cordilheira da Sierra Morena), em Jaén, na Andaluzia, encontrou-se um caso do que é uma relação matriarcal de territórios; isto é, quando fêmeas com uma relação familiar partilham territórios contíguos, em que essas fronteiras terrenas se interligam, ou mesmo chegam a partilhar o mesmo território. Em meados de 2014, descobriu-se que Sierpe (nascida antes de 1999), Betis (de 2005) e Granza (de 2010), partilhavam três territórios ligados. O mais curioso, é que estas fêmeas tinham uma relação descendência directa: eram mãe, filha e neta. Nesta altura, já Sierpe, tinha cerca de 14/15 anos, o que é uma idade relevante para uma fêmea territorial; talvez, dois anos depois a velha fêmea deixou o seu território, já com a pródiga idade de 16 anos. Esta curiosidade continua, pois, Granza, a neta, tinha dado à luz uma ninhada de 3 crias em 2016, e hoje, em 2018, Magarza, a fêmea mais velha dessa ninhada, acaba de ocupar aquele que era o território da sua bisavó. Quem sabe, o que ainda podem reservar estas fêmeas, e a sucessão nestes territórios, Magarza, a mais nova destas fêmeas reprodutoras está agora, em 2019, com 4 anos, e possivelmente, nesta altura de temporada de reprodução, responsável pela sua própria ninhada, que haver uma fêmea bem pode vir a ocupar um destes territórios pela 5ª geração.

Vejamos alguns dados estatísticos, estudos e pormenores deste programa…
Se olharmos os estudos mais antigos, o Lince-ibérico começou a regredir nas suas populações na península, já há mais de 50 anos, e de década para década, a espécie foi decrescendo até ao ponto de um preocupante risco de extinção. Nos anos 30 e 40 do século XX, eram comercializadas mais de 500 peles de lince por ano. Só entre 1954 e 1961, são abatidos cerca de 152 linces. No inicio dos anos 60 e mesmo antes, a sua população estendia-se, apesar de fragmentada, por cerca de 11.000 km2, num efectivo que deveria rondar aproximadamente, 1200 indivíduos. Com diversos núcleos espalhados pelo centro da península, cerca de 48 núcleos pequenos agrupados em 9 populações isoladas. Estes grupos situavam-se entre a Sierra de Gata, Sierra de San Pedro, Montes de Toledo, a noroeste de Badajoz, Serra Morena e Doñana, eventualmente, na região dos Pirinéus… e a Serra da Malcata e o Algarve (na região norte, tanto a barlavento como a sotavento, passando pelo actual PN. do Vale do Guadiana). Ao longo das décadas de 60 e 70, em consequência, principalmente, da caça furtiva, os números vêm a decrescer ano após ano. Os alertas, sobre a sua a queda da sua distribuição e a redução permanente dos núcleos conhecidos, são do domínio das autoridades, dos responsáveis e dos técnicos e cientistas. Em 1966, são tomadas as primeiras medidas de conservação, ao considerar a espécie como protegida. Entre 1979/80, os núcleos conhecidos são agora apenas 6, incluindo ainda nessa altura com a Malcata e o Algarve. Porém, mesmo já com esta constatação, numa década, de 1978 a 1988, são registadas 356 mortes de linces, em Espanha. É por isso, com esta falta de consciência, que chegámos ao triste número de 94 exemplares na Península Ibérica, em 2002/2003, uma população que teria apenas cerca de 25 fêmeas reprodutoras. Em 1992, é capturado na Malcata, o último exemplar conhecido em Portugal. Só se volta a ouvir falar da presença do Lince em território nacional, com a passagem errante de Caribú, em 2009 (antes disso, fala-se apenas em vestígios isolados ou avistamentos não comprovados); ano este, que coincide com a chegada do primeiro lince ao novo Centro de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves. Quer dizer, no principio do século XXI, já não existiam linces em Portugal há uma década, assim como, núcleos populacionais no território espanhol, com a excepção da Andaluzia, onde as pequenas populações estavam circunscritas a Doñana e a Andújar na província de Jaén.
A medida drástica, mas bem pensada, foi capturar alguns desses animais, e mantê-los em cativeiro, para a eventualidade da degradação populacional na natureza chegasse ao ponto da extinção. Felizmente, que este plano evoluiu em pouco tempo, para o projecto e programa da recuperação e reprodução ex-situ do lince, com a finalidade a médio prazo da sua reintrodução na natureza.


Mel observa uma viatura de vigilantes
Mel
Hoje, mais de 100 linces já nasceram no CNRLI. Deste sobreviveram 74, morreram 26 durante os 2 primeiros meses críticos. 63 exemplares foram reintroduzidos na natureza, dos quais 11 na região do PN do vale do Guadiana. Em quatro anos e até ao final de 2018, eram 33 os indivíduos introduzidos no território português. Nasceram em liberdade, desde o inicio do processo de reintrodução em dezembro de 2014 em Portugal, 5 crias em 2016, 11 em 2017, e pelo menos, 13 crias conhecidas em 2018, mas faltavam ainda verificar 4 ou 5 fêmeas reprodutoras. Até ao momento, com os dados que há, contam-se 29 linces nascidos na natureza, mas podem ser mais… desconheço, todavia, os dados relativos à sobrevivência, no fundo, quantos destes exemplares chegam a adultos e onde fixam os seus territórios. A única informação que tenho até ao momento, é que uma destas crias não sobreviveu, mas nada sei sobre o caso ou sobre a que ninhada pertencia.

Neves
Uma coisa parece ser certa, e pelas minhas contas um pouco abstractas, a população de Lince-ibéricos em território nacional, deveria ser (e tentando ser exacto) pelo menos de: 59 linces (29 nascidos na natureza, como uma delas não sobreviveu, são agora 28; 25 sobreviventes dos reintroduzidos se retirarmos menos os 8 que morreram durante estes quatro anos e três meses; aos quais se terá de acrescentar os dois linces errantes de Espanha que se encontram ainda no nosso território para um total de 27 até ao final de 2018, mais os 4 exemplares libertos já em 2019). Estes números podem ser ainda mais ajustados se for tido em conta, os 10 exemplares, que o ICNF refere como o dado correcto de mortalidade em Portugal; se tiverem a contar com a cria de Malva que morreu afogada e outro exemplar que desconheço, os dados finais serão de 57 linces-ibéricos em liberdade nos únicos concelhos portugueses onde habitam: Mértola e Serpa (talvez, seja necessário incluir, Castro Verde), no bonito, eleito e privilegiado distrito de Beja.

Numa prespectiva global, desde a sua hipotética extinção no nosso território…
Portugal, desde de 2010, já contou na natureza, com 29 crias de lince nascidas em liberdade, 37 linces reintroduzidos, mais 4 linces errantes que já morreram (eventualmente, pois de Kahn, nunca consegui essa informação; sobre Kentaro, Hongo e Caribú temos essa triste certeza) … quer dizer, que 70 linces já cruzaram terras lusitanas desde que desapareceram em 1992.

A temporada nos centros de reprodução de 2018, foi completada com estes números, nos dados oficiais: 39 crias sobreviventes, das 49 que nasceram em todos os centros, tanto em Espanha como no centro português. Destas, 8 nasceram em Silves; infelizmente, duas morreram (pelo que me informei, uma devido às consequências de um traumatismo provocado pelas lutas fratricidas entre as crias; e uma outra devido a uma infecção orgânica). Os outros 8 casos mortais, deram-se nos centros de reprodução espanhóis. Em Espanha, os resultados foram repartidos pelo: Centro de Zarza de Granadilla (Cáceres) com 11 crias, seguiu-se o Centro de La Olivilla (Jaén) com 10, e o Centro de El Acebuche (Huelva) com 14, no Zoo-Botânico de Jerez de la Frontera (Cádiz) onde as duas crias que ali nasceram em 2017, não conseguiram sobreviver, desta vez, conseguiram produzir 3 crias.
Como nota, relevante, e porque todos os elementos para perceber a complexidade destes programas e projectos de recuperação de espécies… a estas crias nascidas em cativeiro, há que juntar, uma, recuperada em abril de 2018 da natureza no parque de Doñana e integrada no Centro de El Acebuche.
No Centro de Cría de Zarza de Granadilla, estes dados tiveram de ser actualizados, mais tarde. Das 11 crias nascidas, uma (do casal: Fárfara e Juncabalejo, com 4 crias) acabou por morrer por asfixia com um osso atravessado na traqueia. Contudo, esta triste notícia foi compensada, com um segundo cio da fêmea Hubara e Gazpacho, que permitiu mais uma fêmea gestante que não tinha tido sucesso, e com este novo parto em meados de maio, nasceram mais 3 crias… que elevou para 13 crias sobreviventes; ao todo 49 crias na temporada, sendo 10 as que se perderam.

Estas informações poderiam ainda ser mais precisas, se tivesse outros elementos, por exemplo, sobre quantos são os machos e fêmeas sobreviventes desta temporada de crias, para percebermos um pouco melhor a possibilidade de melhoramento da sustentabilidade da espécie na natureza, incluindo, quantos, eventualmente, ficarão nos centros para enriquecer a diversidade genética dessas populações em cativeiro.

Na natureza, os elementos que recolhi, mostram uma importante evolução na adaptação de muitos dos linces reintroduzidos. Para termos uma ideia, principalmente, na região mais dinâmica do mundo do lince-ibérico, a Andaluzia, onde reside a maior população da espécie, em 2018, os dados provisórios à data, davam nascidos no seu meio ambiente, 72 crias, e isto com 60% dos censos populacionais por realizar. Contaram-se registadas, 32 ninhadas: em Doñana-Aljarate, com 8 ninhadas e total de 18 crias; em Guarrizas, Jaén, 6 ninhadas com 19 crias; Andújar e Marmolejo com 8 ninhadas e 14 crias; em Cardeña e Montoro revelou 5 ninhadas com 10 crias; e Guadalmellato com 7 ninhadas e 11 crias. Já nas montanhas da Serra Morena, foram identificadas e contadas, 26 ninhadas com um total de 54 crias. Na Andaluzia, o número de fêmeas territoriais, e com base ainda em dados de 2017, era de 109; quando em 2002, eram somente, 27 as fêmeas com potencial reprodutivo. A fêmea Granadilla (libertada na temporada de 2011), ficou com o registo da primeira ninhada detectada na Andaluzia, na região do Vale de Guarrizas em Jaén, com 3 crias. A questão pertinente, é mais saber qual a taxa e os números de linces que sobreviveram aos períodos críticos (dos dois meses iniciais) e patológicos, e a esta data como vingou este acréscimo populacional ou o reflexo que poderá ter tido em alguns casos de dispersão.

Infelizmente, alguns dos exemplares nascidos no centro de Silves, por razões genéticas ou patologias condicionantes, não podem integrar o programa de reprodução ou de reintroduções; são indivíduos que ficam, por norma, com uma função de divulgação e promoção da espécie, alguns que já seguiram para jardins zoológicos ou aguardam esse destino, ou permanecem em locais como cercados especiais dos centros de reprodução com a finalidade de puderem ser observados e visitados em acções educativas e de sensibilização. Outra lacuna, neste trabalho, é a falta de informação sobre os novos casos detectados entre as ninhadas de 2017 e os actuais nascimentos já em 2019, de manifestações de epilepsia, e de quantos destes exemplares, poderão vir a ser retirados do programa de reprodução.
A taxa de sucesso, no que diz respeito a reintroduções, os responsáveis têm estado apontar nos 72%, quando no inicio previam uma taxa de mortalidade dos linces reintroduzidos na ordem dos 50%. Hoje, para ser mais exacto, é de 75,6%. Isto com base, nos 33 animais libertados, (o valor percentual será diferente, porque, actualmente, em 2019, já são 37) porque perderam-se até março de 2019, e apenas pelos dados que possuo…

1 envenenado – Kayakweru /fêmea (2015); 1 doença felina/infecção bacteriana – Myrtilis /fêmea (2016); 1 desaparecido (talvez morto/coleira GPS cortada) – Nara /fêmea (2017); 1 afogamento/acidente – Malva /fêmea (2018); 3 atropelamento – Neco /macho (2017) / Olmo /macho (2018) / Mistral /macho (2019); 1 causa ainda desconhecida – Opala /fêmea (2018), que na minha contabilidade é = 8 (5 fêmeas e 3 machos); todavia, são referidos 10, nas informações que pesquisei e nos estudos que recolhi. Penso que não estejam a contar, com Oriana, a filha de Malva, que morreu igualmente afogada na mesma altura que a mãe, ou ainda outro caso que desconheço (porque estes, não os tenho como introduzidos no seu ambiente).
Contudo, estes números não são absolutos, pois, por aquilo que depreendi, desconhecem-se o paradeiro ou não existem informação sobre, pelo menos, uma dezena de exemplares.


Mundo

Para além, destes dados, provavelmente, deveremos acrescentar, Mundo e Nairobi (em 2017, percorreu mais de 150 km entre Doñana e o PNVG) a estas contas (ambos vindos de Doñana, e nascidos na natureza, se fixaram no Vale do Guadiana, para além de uma pertinente curiosidade de apresentarem uma relação familiar, pois apesar de temporadas de reprodução diferentes, são meios-irmãos).


Algumas imagens de Lítio, antes da sua captura
Bom, o caso de Lítio, nascido, em 2014, no Centro de El Acebuche, poderia contar, mas acaba agora por não contar; este macho que tinha sido libertado em maio de 2015 em território português, viajou de PNVG para o PN de Doñana, andou desaparecido durante 19 meses (o colar GPS deixara de funcionar à mais de meio ano), foi capturado a 6 de junho de 2018, em Santa Coloma de Cervelló, Barcelona (percorrendo, provavelmente, perto de mil quilómetros) e devolvido ao Vale do Guadiana. Esta é a quarta vez que é colocado na região de PNVG (a segunda, foi capturado em Gibraleón, perto de Helva em 2016; a terceira, foi localizado perto de Portimão, no Algarve, em 2017; de ambas as vezes a coleira deixou de emitir sinais), contudo, tendo esta tendência errante e sem território definido, é provável, que a sua aventura não fique por aqui. Mas, para mim, o que me importa é que termine bem, descobrindo onde quer que seja, um território que se possa fixar em definitivo. Um dado é bastante relevante, sempre que foi capturado, parece que apresentava uma boa condição física, o que leva a crer que é um animal perfeitamente adaptado à natureza, sem dificuldades em cuidar de si.

Lítio
Mas, o continua a ser o grave de tudo isto, é a mortalidade! Na maioria das situações causada por acção humana (aquilo que é conhecido como causas antrópicas). Para que fique presente na nossa mente, e isto porque os números são preocupantes, mesmo trágicos, principalmente, para uma espécie em perigo de extinção… só em 2017, um dos anos mais dramáticos, foram registadas 58 mortes de linces; 2018 trazem 31 mortes, apesar de números menores, não nos podemos esquecer, que, 27 destes casos foram em consequência de atropelamentos; no ano que corre, 2019, e nos primeiros três meses, conta já com 3 mortes, duas por atropelamento e uma ainda com causas desconhecidas: falamos de Mistral e um jovem lince macho de um ano e meio (nas proximidades de Huelva) em Espanha, e Opala. Contudo, outra notícia a 29 de março, dá conta de uma fêmea encontrada morta, a boiar numa local alagado, em Gerena perto de Sevilha, num sitio conhecido como Arroyo de las Torres, próxima da estrada SE-535; as causas são ainda desconhecidas, mas não sei se será o mesmo caso que identifiquei do jovem macho, associado a Huelva. No final de tudo isto, e contas feitas, na fase terminal do programa, são cerca de 92 linces, admitindo que provavelmente, um ou outro, tenham sucumbido na sequência de patologias naturais.

Ouriço, depois da libertação
Apesar das notícias não serem as melhores, o Parque Natural do Vale do Guadiana, em 2018, contaria com mais 6 libertações para o reforço da população nacional (o que estava previsto): Oregão (a 23 de janeiro de 2018, o primeiro lince a ser liberto nesta temporada, e nascido no CNRLI), Olmo, e Opala (que infelizmente, morreram, e não puderam dar o seu contributo à espécie), Odelouca (filha de Fado e Era, uma fêmea há oito anos no programa do CNRLI, e que só em 2017 consegui a sua primeira ninhada de 2 crias, um macho e uma fêmea) e Ouriço (nascido no CNRLI, em Silves, é filho de Hermes e Fresa). Porém, nunca consegui confirmar, que houvesse uma sexta libertação, nem qualquer justificação ou explicação sobre a razão dessa reintrodução não ter acontecido, quando estava programada em 2017, ou se aconteceu, desconheço por completo a sua libertação.
Ouriço
No dia da libertação de Ouriço e Odelouca, suponho que seja Ouriço
Por vezes, estas soltas, também estão sujeitas a imprevistos, que têm (e estão) de estar contemplados no programa. Um facto do qual, eu não tinha conhecimento de uma situação idêntica, ocorreu em Espanha. A não adaptação, de um lince ao território onde é largado. Foi o caso de Opilion, vindo de El Acebuche, e descendente do macho Esparto e de Homer (com a infeliz “notoriedade” da fêmea que acabou por falecer durante a evacuação de Doñana no trágico incêndio de 2017); reintroduzido na região de Córdoba, em Villafranca de Córdoba, parece não se ter inserido muito bem (desconheço, porém, as razões dessa inadaptabilidade), o que implicou a sua recaptura e a transferência para Doñana-Alfaraje. Os motivos devem ter sido fortes, pois no seu meio natural, um animal não se adaptar, e sendo macho, a razão principal é a dificuldade de fixação do seu território com os riscos que isso levanta ou eventualmente, perigosos conflitos com outros machos.  

Todos estes elementos que tenho descrito neste artigo (tendo em conta, igualmente, o artigo anterior), permitem-nos, perceber um pouco melhor a situação do Lince-Ibérico na Península, e como a espécie está a evoluir, ou ainda o nível de sucesso do Programa, seja nos centros de reprodução seja na natureza.
Em Portugal, não sendo muito fácil e devido à limitação territorial do Vale do Guadiana, crê-se que o ideal seria ter, no mínimo, cerca de 20 a 30 fêmeas territoriais/reprodutoras; até meados de 2018, estes números sugeriam 10/11 fêmeas nestas circunstâncias, o que mostra que estamos longe desse objectivo, ainda a 1/3 do necessário. Se não alargarmos a sua área territorial e criarmos condições para utilizar habitats originais ou meio-ambientes próximos da tipologia mediterrânica, não sei como poderemos alcançar uma população estável no futuro, sem que aumentemos exponencialmente, os riscos de mortalidade, e estejamos a sujeitar estes animais (e os próprios centros de reprodução) a confrontarem-se com destinos trágicos.

Um programa que será dotado, a partir deste ano de mais de meio milhão de euros, para criar novos espaços (pelo 3) para albergar exemplares com problemas de várias ordens no CNRLI. Que tem como objectivo, o número positivo de 50 fêmeas reprodutoras estabilizadas nas suas áreas territoriais. Que pretende, encontrar soluções, para que as diversas populações, dentro e fora, possam comunicar entre elas. Preparar o projecto para que as áreas de distribuição sejam alargadas a outros pontos, incluindo antigos territórios originais do lince. Englobar pontes ou corredores naturais/ou não, entre os diversos núcleos populacionais de vida selvagem, para garantir maior sustentabilidade e maior diversidade genética/fluxos genéticos. E ainda, exigir que os meios tecnológicos disponíveis ou futuros sejam mais efectivos no que diz respeito ao acompanhamento e à monitorização dos indivíduos… é de uma exigência enorme, quase utópica, se não tiver um programa bem estruturado, projectos alternativos, estratégias de conservação de toda a biodiversidade (principalmente no que respeita ao coelho-bravo), leis e medidas eficazes, concertação de todas as entidades envolvidas sem que intervenham interesses privados, e acima de tudo, é necessário enquadrar tudo isto numa articulação de um planeamento global ibérico, que envolva todas estas condições descritas.


Fandango
A pergunta que um leigo (como eu) faz, é: existe um Centro Internacional Operacional com uma comissão/coordenação ibérica permanente, com um coordenador responsável máximo para a recuperação, conservação, preservação do Lince-ibérico e do seu habitat? Não sei, desconheço. Sei apenas que existem várias entidades envolvidas, e que a Life+Iberlince tem um director e é responsável pelo programa “Recuperação da distribuição histórica do Lince ibérico”.

O que me leva a outra pergunta de um leigo (como eu): como é que a população e o público em geral, podem ser envolvidos (porque é uma obrigação colectiva) e sensibilizados para que: entenda, percecione e colabore para minimizar os riscos de doenças, evitar os atropelamentos, controlar potenciais envenenamentos, identificar os riscos por abate de armas de fogo, eliminar todo o tipo de armadilhas ou ter maior conhecimento biológico e etológico de uma espécie como o Lince? Se a informação não for amplamente divulgada e a sensibilização não for nacional… é como, D.Quixote, continuamos na senda dos moinhos de vento.

2018, trouxe uma notícia da qual eu já dera conta na primeira parte deste trabalho, e que pode ser crucial na divulgação e defesa desta espécie. El Acebuche, no Parque de Doñana, tem hoje um novo espaço público de observação do lince-ibérico no “seu meio ambiente”. Este recinto que estava desocupado, tem agora como finalidade e mensagem principal, promover aquilo que poderemos apelidar de um meio de educação ambiental por parte das entidades envolvidas, contudo, ao que parece, é mais um espaço para colocar indivíduos que por alguma razão, já não estão disponíveis para integrarem as parelhas de reprodução e desta forma, podem ter um local condigno para viverem o resto do seu tempo de vida, libertando igualmente, recintos funcionais para novos exemplares… e é natural, que outros espaços idênticos venham a surgir. Todavia, será (esperemos) um local privilegiado para conhecermos melhor a etologia ou a biologia deste felino, ao mesmo tempo, que através da informação adequada ajude a divulgar a história deste programa e de como pode ser obtido algum êxito num processo de conservação de espécies ameaçadas. Por agora, este espaço, este Observatório, já tem ocupantes; Eucalipto e Aura (de que já falámos) são o par escolhido. Seja como for, sou completamente, a favor da oportunidade que dão a estes exemplares, de puderem ter um local seguro, controlado, com os meios de subsistência, para puderem viver, depois do percurso que tiveram. Defendo mais; estes espaços deveriam existir em todos os centros, com todas as condições que têm direito, permitindo ao mesmo tempo que as pessoas pudessem observar este maravilhoso e magnifico felino num meio, mais ou menos, próximo do seu habitat.     

Katmandú
Jacarandá
Jacarandá com a sua primeira cria Nossa
Nossa, penso que filmada de noite... uma imagem magnífica!
Uma das informações que seria curioso obter, principalmente, para quem tiver que abordar, a história natural do lince-ibérico, em Portugal, entre tantas outras referências que já hoje existem, era o percurso de Katmandú e Jacarandá, o primeiro casal de linces reintroduzido no nosso território, depois da sua eventual extinção durante 22 anos (os avistamentos ocasionais, não contam, porque nunca se fixaram), isto em dezembro de 2014, e o mesmo se aplica a Nossa, a sua primeira cria sobrevivente, de um parto ocorrido no fim do primeiro trimestre de 2016, em S. João dos Caldeireiros, concelho de Mértola (apesar de não ter a certeza absoluta, estou convencido, que esta pode ser a primeira cria nascida em meio ambiente português). Os percursores da história são sempre importantes, porque muitas vezes, são eles que podem representar o trajecto de um destino épico.

Azahar



Emapelhamento de Azahar e Drago no CNRLI
Também Azahar (pelo que li, parece que em árabe quer dizer: “flor de laranjeira”), merece aqui, um destaque, pois como já referi no artigo anterior, esta fêmea foi quem inaugurou e uma das fundadoras da reprodução ex-situ do Lince-ibérico. Tendo chegado ao CNRLI, numa segunda, a 26 de outubro de 2009, calculo que, por volta das 16 horas. Um momento que é hoje já memorável, por tudo aquilo que se conseguiu, quase, numa década. Esta fêmea criada no Zoobotânico de Jerez de La Frontera, nasceu em 2004, (se estiver bem… terá hoje, no Zoo de Lisboa, 15 anos). Quando chegou a Silves, estavam previstos na inclusão no programa, nessa altura, albergar cerca de 16 exemplares, o que veio acontecer até ao inicio de dezembro de 2009. Drago, foi o macho escolhido para emparelhar com Azahar, para o arranque da primeira temporada de reprodução. Infelizmente, em 2010, as duas crias da sua primeira ninhada, acabaram por falecer (nascidas a 4 de abril, morreram pouco depois, subitamente, a primeira a 11 de abril, e a segunda a 24 do mesmo mês). Esta fêmea nunca teve muita sorte reprodutiva, com processos gestação e partos complicados, levou a problemas patológicos a nível do útero, que condenou a sua colaboração no programa de reprodução, por isso em 2014, em dezembro, junto com Gamma (também retirado do programa, bastante mais novo, hoje com cerca de 9 anos) passou a ingressar no Zoo de Lisboa, na “Tapada do Lince-Ibérico”. Todavia, a sua existência, deixa para a ciência, os primeiros embriões recolhidos de um lince-ibérico. Em 2009, haviam nascido em Espanha, no cativeiro, 28 crias, onde só 17 sobreviveram; já em 2008, as 16 crias nascidas nesse ano, apenas 7 foram criadas pelas progenitoras, 3 acabaram por morrer, e de acordo com as notícias que investiguei, 6 delas foram retiradas para evitar que sucumbissem também, sendo criadas à mão pelos técnicos dos respectivos centros na altura. Quando o projecto, para o território português, estava na fase inicial, e na sequência do protocolo “Plano de Acção para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal” e dos acordos que haviam sido estabelecidos com Espanha, no nosso país encontrava-se delineado como territórios possíveis da reintrodução do lince na natureza, em 2008, locais que ainda hoje poderiam ser alvo de estudos e referência (não que fossem todos, mas algum poderia encaixar nas necessidades de hoje do Lince-ibérico), como: Moura e Barrancos, Malcata, Nisa, São Mamede, Guadiana, Caldeirão, Monchique e Barrocal; o que mostrava nessa época, há 10 anos, a vontade e o esforço para voltar a ter este felino em terras nacionais.

Aura
O ano de 2018, tal como havia acontecido em 2017, trouxe uma notícia, um acontecimento que eu já antecipara e que há muito me preocupava. Depois do que assisti ao Parque Natural de Doñana, sabia que era uma questão de tempo. Sabia que Silves não estava imune, assim como qualquer região natural onde quer que esteja. O destrutivo incêndio da Serra de Monchique vinha provar isso mesmo; desde, praticamente, das primeiras horas, temia que a sua propagação se estendesse ao concelho de Silves. Tinha, a consciência, que depois da falha de um rápido plano de contingência e de uma pressuposta intervenção rápida das autoridades espanholas, como o que se passou em Doñana, não poderia acontecer no CNRLI. Esse saber ficou rapidamente demonstrado. Antes que as chamas, e a ferocidade devastadora que têm os incêndios nos tempos de hoje (nem vou nem quero entrar nas causas objectivas nem nas hipotecticas expectativas em torno dos incêndios em Portugal, e porque dos outros países não posso nem devo falar sem fundamentos ou com base em juízos especulativos, sobre o meu país há muito que as evidências estão aos olhos do povo, e só a cegueira e os interesses dos compadrios não permitem que quem deva intervir, intervenha), fez com que os responsáveis pelo programa de recuperação do lince-ibérico, rapidamente, pusessem em acção o plano de contingência que está articulado para estas entidades. O fim de semana começa com os preparativos e organização operacional das medidas que teriam de ser tomadas, e a 8 e 9 de agosto de 2018, dá-se a ordem de evacuação nas instalações do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves. Com o fogo aproximar-se, e com mais de 20.000 hectares ardidos em dois dias, para além da destruição de parte significativa da reserva natural, de um enorme ecossistema e da perda da biodiversidade e centenas de habitats, era imprevisível determinar com exactidão, a direcção do incêndio. Desde sexta-feira, dia 3, data do inicio do lavrar do incêndio, até domingo dia 5, era óbvio, pela informação em rodapé dos noticiários, que em Silves os meios e a operação tinha sido organizada atempadamente. A prontidão e a disponibilidade imediata dos nossos colegas espanhóis nos diversos centros do país vizinho, dizia que se encontravam preparados para acolher todos os exemplares do centro português; e assim foi feito, por mais de 70 pessoas envolvidas neste resgate. Linces, técnicos, veterinários, tratadores e restante pessoal especializado do Centro acompanharam, junto com diversos outros operacionais exteriores (vigilantes da natureza, especialistas em fogo, biólogos ou especialistas em vida selvagem, autoridades e técnicos do ICNF, incluindo militares do exército e um corpo de fuzileiros da marinha), toda a operação de translocação dos 29 linces residentes no centro (que incluíam para além dos indivíduos adultos, as jovens crias com 4 ou 5 meses), sem que fosse deixado um único exemplar para trás e abandonado a sua sorte… como aconteceu com uma parte dos exemplares no Centro de El Acebuche, em Doñana (dos animais existentes, foram retirados somente, 5 machos e 4 fêmeas adultas e 5 crias, deixando para trás 13 exemplares, a quem, em última instância e ainda de acordo com o protocolo, se abriu as portas dos recintos para que se desenrascassem perante o perigo, muito longe da responsabilidade que era preciso ter tido, fosse qual fosse, o argumento perante a trágica situação; foi em parte, esta situação que levou à morte de Homer, possivelmente, em consequência de todo aquele stress, assim como, ao desaparecimento temporário de Aura e Fran, capturados mais tarde; este último já com alguma debilidade fisica), durante o incêndio que deflagrou em Moguer, Huelva.

No Vale de Fuzeiros, na Herdade de Santinhas, em Silves, as medidas de protecção e de minimizar o impacto de um fenómeno desta natureza no terreno em volta do centro, tinham sido previstas para a contenção possível. O plano de contingência estava, no mínimo, articulado. A experiência e a evidência das catástrofes causadas pelos incêndios estão ainda bem presentes nas memórias de todos os portugueses, e a única forma de evitar acontecimentos trágicos é a prevenção e os planos de intervenção imediata. Inicialmente, foram transportados em camiões do exército e da marinha, para uma escola local e posteriormente, após o incêndio atingir as instalações, foram transferidos para os Centros de El Acebuche, Granadilla, e Olivilla, em Espanha. Em Doñana foram alojados 8, em Jáen, no centro de Olivilla ficaram 12, e em Zarza de Granadilla, os restantes 9; houve ainda o cuidado da distribuição cuidada dos respectivos casais, a daqueles que ainda cuidavam das suas ninhadas. É preciso dizer, com base nos relatos dos responsáveis deste programa, que tudo foi feito para que a operação e o acolhimento fossem o melhor possível perante a situação de urgência. Após a intervenção de recuperação do centro e das instalações danificadas e alguma requalificação da área envolvente, os linces começaram a regressar a 4 de dezembro, e aos poucos foram de novo reintegrados nos recintos adaptados. Apesar de já o ter referido anteriormente, fica aqui a ressalva: todos, excepto um, Calabacín, que se encontrava em El Acebuche, onde veio a falecer antes do regresso dos restantes “companheiros”.


Lluvia durante o exame
Uma das notícias em 2018, que vem a comprovar o excelente trabalho e o profissionalismo dos responsáveis e das equipas envolvidas na conservação da espécie, foi o processo de recaptura dos exemplares existentes actualmente, na região de reintrodução do lince em Portugal. Este objectivo foi delineado com o fim de monitorizar os exemplares e analisar a sua situação clínica. Mesmo tendo em conta, que a medida está contemplada no acordo ou protocolo para a reintrodução da espécie; é crucial este maneio para acompanhar devidamente, a situação de cada espécime. As amostras, as análises clínicas, o estado físico de cada animal, a colocação de colares emissores ou a reposição de pilhas naqueles que podem de um momento para o outro deixar de funcionar, até mesmo, provavelmente, a observação ginecológica das fêmeas e a recolha de ADN destes exemplares, são fundamentais para o progresso da recuperação da população de linces no nosso território. Pela informação que recolhi, os primeiros exemplares foram duas fêmeas; Lluvia (que tinha sido reintroduzida logo no primeiro ano de libertação, em 2015, e que fazia parte dos espécimes dos quais se havia perdido o rasto, creio que durante cerca de 18 meses, porém, já com duas gestações em liberdade e pelo que sei a última em 2018, com 4 crias) e uma outra jovem fêmea, Pipa, que é filha de Lluvia, nesta última ninhada. Após esta intervenção, que durou algumas horas, e com o sucesso que se esperava, os animais foram de novo libertados na sua região. Ao que parece, esta operação, estava estimada para decorrer num período de mês e meio; contudo, infelizmente, não sei qual foi o balanço final.
Pipa a ser observada
O ano costuma terminar com o emparelhamento dos casais para a nova temporada. Dos 28 casais selecionados, penso que 25 tiveram sucesso, um deles (entre Elipse e Norteño, no Centro de La Olivilla) parece que o emparelhamento não foi conseguido. Estes casais estão distribuídos pelos centros: El Acebuche, 5; Zarza de Granadilla, 5; La Olivilla, 7; Zoobotânico de Jerez, 1; Silves, 6. Em 2018, no Centro de Silves, ficaram prenhas Jabaluna com Hermes, Era com Fado, Juromenha com Enebro, Kaída com Fresco, Biznaga com Drago, Artemisa (faz parte das fêmeas emparelhadas, mas não tenho a certeza se ficou prenha) com Madagascar. Jabaluna, que nasceu em 2012, em El Acebuche, é filha do macho Damán e de Boj (uma das fêmeas referências deste programa desde 2005, falecida em 2017 devido a insuficiência renal), nesta ninhada, Jabaluna teve como irmãos Jabugo (pai de Olmo) e Juncabalejo; ambos estão no Centro de Reprodução em Zarza de Granadilla. Juromenha (é a tal conhecida fêmea, que em 2017, foi sujeita a uma inseminação artificial, algo que aconteceu pela primeira vez nesta espécie, mas que se revelou por um insucesso). Para esta temporada de 2018/2019, os técnicos que acompanham o programa consideraram a tentativa do mesmo processo, para Flora e Juncia (com os dadores: Fado e Jerte, respectivamente), contudo, a ser feito, é preciso aguardar até ao fim da temporada (talvez, neste caso, mais algum tempo, porque poderá não ocorrer dentro do período normal), e veremos se a ciência consegue intervir também aqui, nesta batalha contra a extinção. De qualquer forma, de acordo com a estimativas dos partos, até aos meados de abril, com 60 dias de gestação, já deveremos ter resultado de todas as ninhadas nascidas.

Boj a 27 de outubro de 2005

Mas também, este ano de 2019, já trouxe novidades à continuação da recuperação do Lince-ibérico. Para além dos emparelhamentos conseguidos, e dos partos que já ocorreram, a solta deste felino contínua.
Dois irmãos, Pirata e Piperita (filho e filha de Brisa e Júpiter), nascidos na Andaluzia, em Doñana, no Centro de El Acebuche, foram soltos no dia 18 de fevereiro, um sábado, na região de Mértola. A 21 de fevereiro, foi a vez de Paprika (nascida no CNRLI, em Silves, na última temporada, com cerca de 11 meses) e de Puntilla (vinda do Centro de Granadilla, com a mesma idade, filha de Kolia e Helio), libertas na Herdade da Bombeira (pela primeira vez neste local), perto de Mértola.
Em Castilla-La Mancha estão previstos a libertação de 14 linces. Três machos e quatro fêmeas, tanto na região dos Montes de Toledo, como na Serra Morena Oriental. O macho Planeta, vindo do Centro de La Olivilla em Jaén, e Pupila vindo do Zoobotânico de Jerez de la Frontera em Cádiz foram os primeiros. Desde 2016, já nasceram 76 crias na natureza, e ao longo do programa foram reintroduzidos, como estas duas, 72 linces, nestas regiões, dos quais, 17 são fêmeas reprodutoras. Mas, algo de muito positivo, na gestão que o governo autónomo de Castilla-La Mancha, tem feito na protecção e prevenção da espécie; as passagens subterrâneas criadas parece que têm sido um êxito, pois desde as suas construções, afirmam que com essas medidas não tiveram, até agora, nenhum incidente fatal.

Uma boa novidade, que é sempre fundamental, para deixar espectativas significativas para o futuro, é o sucesso dos emparelhamentos e das parelhas conseguidas. Para já, uma coisa parece certa, este ano foram conseguidas mais 3 do que em 2018; esta temporada os casais são 26 (6 em Silves, 8 em La Olivilla, 1 no Zoo de Jerez, 6 em El Acebuche, e 5 em Zarza de Granadilla). Enquanto em 2017, ficaram-se por 23; tendo em conta, que destas, uma delas não deu qualquer cópula (Janes e Junquilho / La Olivilla) e 3 não ficaram gestantes (Kaída e Enebro / Silves), (Brisa e Júpiter / El Acebuche, curiosamente, o mesmo casal o ano passado, 2018, teve uma ninhada de 3 crias), e (Gitanilla e Fran / El Acebuche).

Alguns dos partos já ocorridos, ficam também aqui relatados. E o primeiro deu-se com Madroña, (emparelhada com Juglans) em El Acebuche, Doñana, com o nascimento de 3 crias no dia 23 de fevereiro, tal conforme estava prevista para esta data. Narsil (com Júpiter), também teve um parto de 3 crias, no mesmo Centro, no dia 18 de março. Macadamia (com Damán) estava igualmente, previsto, para o mesmo dia. Já em Zarza de Granadilla, foi inaugurada a época, com Haima (junta com Juncabalejo) e o nascimento de 4 crias. Até ao dia 12 de abril, estavam previstos, 25 dos partos normais. A maior expectativa, está no resultado das inseminações de Flora e Juncia (nascida em 2012 e que chegou ao CNRLI, em 2016 vinda de la Olivilla, é filha de Coscoja e Candiles, tem como irmãos, Juglans em Silves, e Judia em Málaga, no Parque Temático de Selwo Aventura de Estepona).

Kaída, em Silves, é um dos casos a seguir, devido às suas experiências pouco sucedidas, só o ano passado com Fresco, conseguiu uma prole de 2 crias, onde apenas uma parece ter sobrevivido. De novo com o mesmo macho, pode ser que o desfecho desta natalidade seja diferente. É hoje, uma fêmea de seis anos, que nasceu em 2013, no Centro de Cría de La Olivilla, Jaén; filha de Ceniza e Fandango. Infelizmente, da ninhada de 3 crias onde nasceu, apenas ela sobreviveu, e ainda teve que ser retirada, acabando por ser adoptada entre a ninhada de 3 crias de Coscoja, sendo criada junto dos “futuros” irmãos Kot, Kochia e Koshka. Quando cresceu, foi libertada em maio de 2014, na Andaluzia, em Guarrizas. Mas, ao que parece, as coisas não correram bem, e para além de uma infecção numa pata, também foi infestada por parasitas internos, tendo sido capturada, e de novo levada para Olivilla. Perdeu neste processo algumas das capacidades fundamentais para reintrodução na natureza, por isso entendeu-se que com estas condições não era aconselhável a sua libertação num meio selvagem. Depois da sua recuperação, foi transferida em 2015, para o CNRLI, em Silves, passando a integrar o programa de reprodução, que de acordo com os técnicos, a sua biologia genética poderia trazer uma importante mais-valia à diversidade de genes nos centros de reprodução. Agora com Fresco (irmão de Fresa, que também lhe faz “companhia” em Silves), que é um macho experiente, já com quase 10 anos, pelo menos nascido em 2009, em El Acebuche, e filho da famosa Saliega e do macho Almoradux; foi pai de pelo menos 18 crias até 2018, e ao que parece, pelo menos, 12 delas talvez já tenham espalhado os seus genes em liberdade, e… para mim, muito especial, pois pelo que sei, foi pai de Kentaro e Kahn.

As três crias de Castañuela e Hidrógeno na temporada de 2018
Castañuela, com a mãe Saliega e a irmã Camarina
Outra história, que deve ser seguida, é sobre Castañuela e Hidrógeno, o único casal de linces que se encontra no Zoobotânico de Jerez de la Frontera, e que penso que estão juntos desde 2012, pelo menos para a primeira temporada de reprodução em 2013, mas que não teve sucesso neste primeiro emparelhamento. Em 2014, parece que a situação se voltou a repetir, provavelmente, o casal tinha alguma dificuldade ou imaturidade no relacionamento inicial. Em 2015, conseguiram uma ninhada de 2 crias, porém, apenas uma sobreviveu (Mosto, hoje em liberdade, nos Montes de Toledo). Já em 2016, tiveram uma ninhada de 3 crias, mas, mais uma vez uma delas não resistiu ao período critico (hoje, Nitrógeno, vive na natureza em Ciudad Real na comunidade autónoma de Castilla-La Mancha, e Neón no Valle de Matachel, na Extremadura). Infelizmente, em 2017, o infortúnio, teve um novo desfecho, e as 2 crias nascidas na ninhada desta temporada não sobreviveram ao critico período dos primeiros dois meses. Em 2018, o casal teve uma ninhada de 3 crias, duas fêmeas e um macho. Juntos há seis/sete anos, aguardemos o resultado desta nova temporada em 2019, e que mais uma vez tenham a sorte de puder contribuir para a população de linces na natureza. O facto que se vai tornando cada vez mais relevante, neste casal, é a idade de Castañuela, que deverá ter cerca de 13 a 14 anos. Outra curiosidade, associada a este casal, neste zoo que colabora há muitos anos com o programa de recuperação do lince-ibérico, é Saliega (capturada  em 2002, com um mês em Serra de Andújar na Serra Morena, tendo sido criada neste Zoo junto com Aura, que tinha vindo de Doñana, de Coto del Rey), a mãe de Castañuela, e que vive aqui (pelo menos vivia até 2017), relativamente perto da filha, num recinto onde pode ser observada pelo público, tendo sido a primeira fêmea a reproduzir-se em cativeiro há 14 anos atrás (mãe nessa altura, de Brezo, Brisa e Brezina; esta infelizmente, acabou por morrer no tradicional período de lutas por competição do domínio hierárquico que se estabelece entre irmãos, e que é por natureza muito perigoso para as crias, com consequências, por vezes, fatais; e só a intervenção da mãe ou dos técnicos neste caso, pode evitar estes trágicos desfechos)… só não sei dizer se ainda por lá passeia, mas bem gostava que assim fosse. Este Zoo como foi o primeiro a ter recintos de observação do lince abertos aos visitantes, fez com que alguns dos exemplares retirados do programa de reprodução ou transferidos de outros centros ou ainda aqueles envolvidos em emparelhamentos experimentais, tivessem aqui, um género de oportunidade, para promover a sua espécie; em 2005, havia ali nessa altura três linces, mas como é típico nas espécies felinas, as enfermidades podem surgir gradualmente ou manifestarem-se subitamente, com causas imprevisíveis e em geral, de consequências negativas; foi o que aconteceu com Alhucema, uma fêmea, que tinha sido capturada na natureza em novembro de 2004, que morreu de repente, no amanhecer do dia 11 de outubro, os resultados das análises e da necropsia vieram a indicar um problema metabólico hepático que nunca chegou a revelar qualquer evidência comportamental. Ainda como nota, Saliega, fez parte de um grupo extraordinário de exemplares que nos primeiros anos deram inicio ao programa de reprodução da espécie, junto com: Garfio, Jub, Arcex, Fran, Cromo; e de fêmeas como: Esperanza, Aura, Morena, Adelfa, Aliaga e Boj, que se tornaram os grandes emblemas desta batalha pela sobrevivência.


Saliega

Brezo, Brezina e Brisa... ainda os três juntos.
Saliega com Brezo e Briza, já depois de Brezina ter falecido

Sabemos que no Centro de Zarza de Granadilla, o êxito já se deu com os partos de Haima (com uma ninhada de 4 crias), Kolia (com 2 crias) e Narina (também com 2), aguarda-se o desenrolar da gravidez de Juno e Fábula. Como vem sendo normal, a informação e os dados que vamos recolhendo, estudando e cruzando, nem sempre são congruentes. É o caso de Jarilla, na mesma notícia dava esta fêmea como numa evolução gestante, e pouco depois, que não tinha sido envolvida em qualquer emparelhamento.

Os Montes de Toledo, com inicio da primavera, também foram contemplados, com a primeira ninhada ocorrida em liberdade. Parece que Malvasía, uma fêmea que tem sido uma óptima reprodutora, que já vai na terceira época de sucesso na natureza, teve 4 crias, no final de março. Em 2018, tinha tido duas crias.
Em 2018, na época passada, eram 12 as fêmeas reprodutoras nesta região. Para além, Malvasía, também Mirabel, Nereida e Ninfa, tiveram pelo menos, uma cria cada; talvez mais do que uma, à data não consegui confirmar se houve outros avistamentos de crias destas fêmeas; assim como das eventuais ninhadas por certificar de Lila e Nenúfar. No que diz respeito, às outras 6 fêmeas territoriais, não me foi possível saber informações.
O mesmo calcula-se que se tenha verificado na Serra Morena Ocidental, na província de Ciudad Real, onde das 5 fêmeas estabilizadas territorialmente, Minerva teve 4 crias, Mesta pelo segundo ano consecutivo com 3, tal como, Kiki foi mãe pela terceira vez e desta vez apenas uma cria, ficando sem saber se Naira e Kiowa, confirmaram períodos gestantes.    

O mais importante, para quem é solidário com esta causa, para todos os que se dedicam à conservação e preservação da natureza e acreditam na importância da protecção à vida selvagem, hoje, graças ao Programa de Recuperação do Lince-Ibérico e ao trabalho excepcional de todos aqueles que estão envolvidos nesta batalha, a Península Ibérica, deverá contar (com base nos dados que obtive, apesar de pouco específicos), com uma população aproximadamente, de 650 linces. Estes números apenas me deixaram uma dúvida: se os censos de 2017 davam 589 linces (448 destes encontravam-se na Andaluzia), com os censos de 2018 ainda por finalizar, mas aos quais se poderiam juntar nesta fase as 125 crias nascidas o ano passado (das quais 72 na natureza, só na Andaluzia), levam-me nestas contas ainda que cegas, a um número de 714 linces. Seja como for… o valor sextuplicou, no mínimo. É extraordinário, para aquele que era considerado o felino mais ameaçado do mundo, mesmo sabendo-se que o trabalho está longe de terminar. Graças a este trabalho bem-sucedido, o Lince-ibérico, na óptica da IUCN, não está mais na condição de CR – Em Perigo Critico, tendo o seu estatuto de risco sido reduzido em 2015 para EN – Em Perigo, mas parece-me claro que, tão cedo, não chegará ao nível de espécie VU – Vulnerável.


Libertação de Macela
Libertação de Moreira
Os portugueses devem estar agradecidos, a todos os que muito têm trabalhado para salvar a mais importante espécie da nossa fauna nacional, sem qualquer desconsideração por todos as outras, incluindo o Lobo-ibérico. Mas, na realidade, devemos imenso a quem procura lutar pela não extinção do Lince na nossa natureza, preservando um dos maiores patrimónios naturais lusitanos. Sem qualquer menosprezo por tantas pessoas que se encontram envolvidas neste projecto, gostaria de deixar aqui apenas duas referências que merecem (no meu modesto entender) ter o nome associado ao tempo que tenho dedicado a esta espécie que me é tão especial e como gratidão de todos os exemplares de linces que consegui referir ao longo destes dois artigos: o Dr. Miguel Ángel Simón, coordenador do Programa Ibérico de Conservação do Lince-Ibérico, e ao Dr. Rodrigo Serra, responsável pelo Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico/CNRLI, em Silves.

O Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), junto com todas entidades colectivas e particulares que têm dado o seu contributo, devem agradecer, acima e mais do que tudo, a: Azahar, Gamma, EspigaErica, DamánFoco, Biznaga, Fado, Flora, Fresco, Fruta, Drago, Fresa, Eón, Era, Fauno, Artemisa, Calabacín, Enebro, Juromenha, Jabugo, Jabaluna, Junquinha, Kaída, Jerte, Hermes, Madagascar, Juncia… entre outros, de certeza, e que por uma razão ou outra não me foi possível indicar, mas são todos eles os mais directos e os maiores responsáveis, por o Lince-Ibérico ter voltado a passear na magnifica e maravilhosa paisagem natural portuguesa, e nestes casos concretos, porque, estes animais para evitar a provável extinção deste felino na natureza, foram forçados abdicar da sua liberdade e a viver em centros de reprodução. Mas, também Kentaro, Kahn, Lítio, Niassa, Odelouca, Ouriço, Jacarandá, Katmandú, Nossa, Noudar, Luso, Lagunilla, Liberdade, Mel, Macela, Mesquita, Mistral, Malva, Mirandilla, Moreira, Lluvia, Loro, Kempo, Monfrague, Mundo, Nara, Hongo, Neco, Nairobi, Olmo, Opala, Okami, Oregão, Oriana, Nógado, Navarro, Neblina, Nuvem, Neves, Nerium, Pipa… também, entre outros, que por lapso ou desconhecimento não referenciei, mas que em terras lusitanas, em liberdade, ajudaram a uma importante sensibilização da espécie, permitindo assim que o Lince pudesse ser de novo divulgado, e voltasse a encontrar o seu pequeno espaço entre a nossa fauna selvagem e naquilo que é o… Património Vivo Natural Ibérico.

Nota final: Este trabalho pretende unicamente, ser uma homenagem a todos os linces que lutam por preservar a espécie, que ainda se encontra em perigo de extinção. Todas as fotos que aqui se encontram não consegui saber os seus autores... se por alguma razão discordarem da sua utilização ou se sentirem lesados no seu uso, agradeço que me informem, pois serão de imediato retiradas, respeito por demais o direito de autor; se o fiz foi sem qualquer intenção de prejudicar quem quer seja, apenas procurei enaltecer, de alguma forma, estes Maravilhosos Animais. 



 Temporada de 2018
    
Este quadro dá-nos uma ideia da trágica imagem do que são os atropelamentos do Lince
nas estradas ibéricas.
(aqui em 2017, penso que os números foram ultrapassados para 31,
e a juntar a estes dados, os números de 2018, que foram de 27)
Eu entendo, que não é fácil, o Estado ou as regiões locais, dispenderem de verbas para a construção de corredores naturais e arteficiais (como passagem áreas que custam cerca de 800 mil euros, ou subterrâneas, um pouco mais económicas), mas para se conseguir o êxito pretendido, é preciso uma conjugação de esforços entre todas as entidades, comunidades públicas/privadas e populações, para evitar que estes números envergonhem ainda mais o ser-humano ou continuem a matar indiscriminadamente, toda a fauna selvagem que precisa e tem necessidade de se movimentar para satisfazer as suas condições básicas de vida.


Num balanço final: ficam aqui três quadros muito recentes que ilustram bem, a situação actual dos dados mais relevantes deste projecto "Life Iberlince"...






2 comentários:

  1. Agradeço sinceramente, as palavras, Hugo Catarino! Fi-lo apenas pela paixão que tenho pela vida animal, e pela dedicação à vida selvagem, onde o Lince se elegeu, ele próprio dentro de mim...

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AGRADECIMENTOS

Este Blog tem como finalidade a divulgação de uma mensagem que nos lembre a todos nós o quanto é possível fazer para defender seres que precisam da nossa protecção. Quer aceitemos quer não, somos os principais culpados por os animais sofrerem com o nosso comportamento.



Quero agradecer a todos aqueles que por razões diversas vejam fotos da sua autoria e ideias ou estudos dos quais as minhas investigações foram alvo e não se encontrem citados. Caso seja primordial essa referência para eventuais pessoas ou organizações que se sintam mais lesados desde já solicito essa indicação que de pronto farei as respectivas correcções que venham a ser solicitadas. Estes usos foram feitos sempre em nome de um alerta e de ajuda à divulgação de uma causa, por isso nunca com qualquer pretensão de apropriação, mas sim também para dar à mensagem mais consistência e valor nos temas visados.



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